O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a falar sobre o que considera condições aceitáveis para terminar "imediatamente" as ações militares na Ucrânia. Ao discursar durante a cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX) nesta quinta-feira (4), Putin declarou que Moscou "nunca recusou" e está "pronta para continuar as negociações de paz".
"A Rússia, como sabem, nunca recusou e está agora pronta para continuar as negociações de paz. Foi a Ucrânia quem recusou as negociações, e fez isso publicamente por ordem direta de Londres e de Washington, não há dúvidas sobre isso, as autoridades ucranianas falam direta e abertamente sobre isso", disse Putin.
De acordo com ele, as condições russas para iniciar negociações sobre a guerra foram estipuladas pelos acordos de Istambul. Putin destacou que estes acordos ainda podem ser usados como base para negociações pacíficas para resolver a situação na Ucrânia.
"Estes acordos não desapareceram, foram rubricados pelo chefe da delegação negociadora ucraniana, o que significa, aparentemente, que eram bastante adequados para a Ucrânia, estes acordos - os acordos de Istambul - permanecem em cima da mesa e podem ser utilizados como base para a continuação destas negociações", disse Putin.
Ainda em fevereiro, durante uma entrevista ao jornalista estadunidense Tucker Carlson, Putin afirmou que Moscou e Kiev estavam prontas para assinar um acordo de paz durante as negociações que ocorreram Istambul em março de 2022, logo após o início da intervenção russa. De acordo com o presidente russo, as negociações foram interrompidas pelo ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que propôs que a Ucrânia lutasse com a Rússia.
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Durante a cúpula da OCX, realizada em Astana, Cazaquistão, entre 3 e 4 deste mês, o líder russo declarou que a Rússia "sempre defendeu e defende uma resolução pacífica, política e diplomática da situação".
"Em meados de junho, apresentamos outra opção para resolver [o conflito na Ucrânia], que, se o lado ucraniano e, mais importante ainda, os seus patrocinadores ocidentais, estivessem prontos para aceitá-la, permitiria literalmente de uma vez, parar imediatamente as hostilidades, salvar vidas humanas e iniciar negociações", afirmou.
A declaração fez referência à proposta que o presidente russo apresentou em 14 de junho, afirmando que se a Ucrânia retirasse as suas tropas das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye - anexadas pela Rússia durante a guerra -, e recusar os planos de entrar na Otan, Moscou adotaria "imediatamente um cessar-fogo" e iniciaria negociações. Kiev, no entanto, rejeitou a proposta, afirmando que a sugestão representa um ultimato.
Orban se reúne com Zelensky e reitera pressão por negociações
No início da semana, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, fez uma visita surpresa a Kiev e se reuniu com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. A viagem teve um peso simbólico, pois Orban, considerado como um aliado da Rússia dentro da Europa, foi o único líder da União Europeia que ainda não havia feito uma visita oficial à Ucrânia desde o início da guerra.
Durante o encontro, Viktor Orban fez um apelo ao presidente ucraniano para que ele pensasse na possibilidade de negociar um cessar-fogo com a Rússia.
"A guerra que vivemos agora tem um impacto muito intenso na segurança da Europa. Apreciamos muito todas as iniciativas do presidente Zelensky para alcançar a paz. Eu disse ao sr. presidente que estas iniciativas levam muito tempo. Devido às regras da diplomacia internacional, são muito complexas. Pedi ao senhor presidente que pensasse se seria possível seguir um caminho ligeiramente diferente, cessar fogo e depois continuar as negociações", disse Orban.
Líderes da Ucrânia e dos países ocidentais repetidamente manifestaram a posição de que qualquer trégua no atual estágio do conflito seria benéfica para a Rússia, uma vez que lhe permitirá acumular recursos para uma futura ofensiva. Ao mesmo tempo, no início da semana, o presidente Zelensky chegou a mencionar, a princípio, estava pronto para entrar em negociações indiretas com Vladimir Putin com a participação de mediadores internacionais.
Após a visita à Kiev, ao comentar a reação de Zelensky à sugestão apresentada pela Hungria, o primeiro-ministro húngaro, disse que o presidente ucraniano "não gostou muito desta proposta".
“Ele [Zelensky] tinha algumas dúvidas sobre isso. Ele não gostou muito. Ele disse: vamos refletir, vamos pensar sobre isso", disse Orban em entrevista ao jornal suíço Die Weltwoche.
O primeiro-ministro húngaro acrescentou que não tinha o objetivo de persuadir Zelensky a aceitar a sua proposta, destacando que ele apenas procurou transmitir ao presidente ucraniano a posição da Hungria sobre uma solução pacífica. O presidente ucraniano não fez menção à sugestão de Orban durante a coletiva de imprensa conjunta.
Edição: Rodrigo Durão Coelho