Educação

Sindicato denuncia distribuição de material racista em escolas municipais de Curitiba

Revista “Turma do Curitibinha” traz história em quadrinhos com personagens que abordam os direitos dos animais

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Revista "A Turma do Curitibinha" foi distribuída nas escolas; sindicato denuncia conteúdo racista - Reprodução internet

Uma revista intitulada A Turma do Curitibinha – Proteção Animal com objetivo de tratar sobre os direitos dos animais vem sendo distribuída nas escolas municipais de Curitiba. O Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac), no entanto, ao tomar conhecimento do conteúdo da história em quadrinhos, detectou que o material reforça estereótipos preconceituosos em personagens afrodescendentes, em contraposição aos personagens brancos, que recebem qualidades positivas tanto nas características físicas como nas falas.

Segundo a descrição do material feita na nota de denúncia do sindicato, a forma como os personagens negros e pardos estão representados reforça o racismo já fortemente presente em nossa sociedade.

“Enquanto o personagem principal, que dá o nome à turma, é branco e tem olhos verdes, e uma de suas amigas é branca, loira e de olhos azuis (o que reforça padrões de beleza), chama-se Graciosa e é descrita como meiga, delicada e dedicada aos estudos (comportamentos idealizados para meninas brancas), a outra personagem, que é negra, tem o apelido Zezé. Pior ainda é relegar ao menino que carrega características típicas de uma criança parda (visivelmente no nariz e no cabelo) o perfil de um mau-caráter. E ele ainda tem o nome de Fosco, que por si só é bastante negativo, afinal, o termo quer dizer apagado, sem brilho. Além disso, ele é o que tem comportamento inadequado, faz comentários distorcidos e, com frequência, é retratado como tendo menos inteligência,” diz a nota.

Para a diretora de Imprensa e Divulgação do Sismmac, Adriane Silva, é muito grave o material ser prescrito pela Secretaria Municipal de Educação (SME). "A direção do sindicato repudia esse material repleto de estereótipos que reforçam o racismo estrutural tão tristemente já vivenciado por nossas crianças no cotidiano. A escola precisa ser um espaço antirracista, que promova a formação de um cidadão que possa vir a transformar a nossa sociedade e não a reproduzir esse mundo excludente onde já vivemos. Também é grave esse material ser prescrito pela SME, que deixou passar uma análise mais criteriosa. Comprovando o uso utilitário de textos feitos por encomenda, em detrimento do amplo material já disponível na prática social comunicativa,” diz.

O sindicato ainda denuncia que o personagem pardo colocado como o mau caráter da história recebe linguagem inadequada para crianças. “Em uma das revistas, ele é descrito como 'sacana', o que, segundo o dicionário Houaiss, se atribui a 'quem é libertino, devasso, sensual (…) que ou quem tem mau-caráter'.”

Para o Sismmac, a criação de personagens em histórias em quadrinhos, especialmente quando direcionadas ao público infantil, deve ser realizada com sensibilidade, mas o material distribuído pela SME contribui para a perpetuação do racismo e da discriminação entre crianças menores. "Por isso, a Prefeitura precisa, com urgência, rever sua distribuição".

A vereadora Giorgia Prates (PT) levou o material em uma reunião com a secretária municipal de educação, Maria Silva Bacila, que disse não ter conhecimento da elaboração do material e que tomaria providências.
 


Revista "Gibi Curitibinha Proteção Animal" foi distribuída nas escolas, sindicato denuncia conteúdo racista / Print Screen: Reprodução / Internet

A descrição do material na internet diz que a edição tem a autoria do cartunista e que, numa parceria entre a Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba e a Prefeitura de Curitiba, tem o objetivo de “passar a mensagem da importância do respeito também aos animais não humanos, abordando temas ligados à guarda responsável, adoção de cães e gatos abandonados e combate ao tráfico de animais silvestres em Curitiba.”  

O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria da SME e até o fechamento da matéria não obteve retorno. 
 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho