Chavismo nas ruas

Gallo pinto: campanha eleitoral começa na Venezuela com Maduro investindo em lema e oposição pedindo mudança

Presidente começou a corrida eleitoral exaltando resultados econômicos; grupo opositor pede 'defesa ao voto'

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Maduro discursou na capital venezuelana em primeiro dia de campanha; manifestantes chavistas e opositores encararam uma chuva que caiu no fim da tarde em Caracas - Prensa Presidencial

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, insistiu e conseguiu fixar o seu lema de campanha. ‘Gallo pinto’, em espanhol, é um galo valente, de raça e que canta alto. Durante a pré-campanha, o atual mandatário e candidato à reeleição pelo Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) reforçou que ele era o ‘gallo pinto’, enquanto seus rivais seriam os ‘patarucos’ –galos fracos que não tem força para se defender.

A campanha eleitoral começou nesta quinta-feira (4) e o discurso da pré-campanha surtiu efeito. Ao menos no campo simbólico. Logo no primeiro dia, milhares de chavistas foram às ruas com imagens e camisetas com a frase “eu vou por meu gallo pinto”. Alguns até levaram galos vivos para a manifestação. Músicas com o símbolo da campanha também já estavam nos carros de som que desfilaram do bairro de Catia, no oeste de Caracas, até o Palácio Miraflores –sede do governo venezuelano.

Em discurso para os manifestantes, Maduro afirmou que o movimento chavista está em vantagem na disputa, mas que os eleitores não podem “ficar muito confiantes”. Segundo ele, é preciso votar para que os eleitores deem “uma vitória” para o ex-presidente Hugo Chávez.

“Estamos vencendo e vencendo bem, mas que ninguém fique muito confiante. Estendo minhas mãos a todos e a cada um, passamos por momentos difíceis e heróicos e uma a uma as provas, as superamos. Diante de cada sanção, uma solução, diante de cada agressão, mais Revolução”, disse durante o discurso.


Manifestante leva galo vivo para manifestação chavista em homenagem ao "gallo pinto", símbolo da campanha de Maduro / Federico PARRA / AFP

Maduro também deu o tom do que será a linha discursiva da campanha. Muito parecido com o que fez Lula em 2022, o atual presidente da Venezuela disse que essa é uma campanha do “amor contra o ódio” e contra o “fascismo”.

“Vocês querem que os fascistas tomem o poder na Venezuela? Convido a toda a Venezuela a se unir em um só abraço de diálogo, de harmonia, de concordância (...) O que se viu hoje na Venezuela é que foi tirada a força da paz, do amor, de Deus conosco. Preparem-se para a surra que o povo da Venezuela vai lhe dar no dia 28 de julho”, afirmou Maduro.

Ele comemorou as conquistas econômicas conquistadas no primeiro semestre desse ano. A Venezuela conseguiu reduzir a inflação e estabilizar o câmbio. Segundo o governo, a projeção é de que o país termine 2024 com um crescimento de ao menos 8% do PIB.

O presidente começou a manhã em Zulia, no oeste da Venezuela. A campanha chavista prometeu percorrer 70 cidades durante os 21 dias de campanha, em homenagem aos 70 anos do ex-presidente Hugo Chávez. As eleições foram marcadas justamente para o dia em que o ex-presidente faria aniversário, em 28 de julho. A agenda, no entanto, não foi divulgada pela campanha do governo.

"Onda branca"

A oposição liderada pela ultraliberal de direita, mas que não concorrerá, María Corina Machado também começou a campanha com uma marcha em Caracas. Ela está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana e pede votos para o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. A manifestação deixou o bairro de Chacaíto, no leste da capital venezuelana, em direção ao bairro El Marques. 

Até o momento, ele é o principal rival de Maduro no pleito. O simbolismo da campanha opositora ficou estampada em Edmundo González Urrutia, que usou uma camiseta da seleção de futebol venezuelana. A equipe disputa a Copa América e venceu os três jogos da fase de grupos, o que mobilizou os venezuelanos nos últimos dias. Os manifestantes vestiram majoritariamente a cor branca no que chamaram de "onda branca".

Em discurso, Urrutia agradeceu os manifestantes e disse que o movimento que se via nas ruas marcava “o início do caminho de mudança na Venezuela”. Ele também reforçou um mote de campanha da oposição: a defesa ao voto. 

“No dia 28 de julho estaremos nos centros de votação a cumprir o nosso voto e depois a acompanhar esses votos. Cuidaremos destes deficientes serviços públicos, para que possamos voltar a ser a República que tanto desejamos”, afirmou.

María Corina Machado também discursou e disse que há necessidade de mudança no país. De acordo com ela, a corrida que começou nesta quinta-feira é “mais do que uma campanha, é um sentimento profundo pela liberdade da Venezuela”.

"Vamos ganhar. Vamos ser recompensados. E no dia 28 de julho a Venezuela terá um novo presidente. Faltam apenas 24 dias para esta admirável campanha e hoje Caracas transbordou. Nós sabemos o que você precisa fazer. Temos a vontade de um povo, temos o nosso próximo presidente”, disse aos manifestantes.

Apesar de ser convocada e mobilizada pela ex-deputada, ela está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).

Regras eleitorais

A campanha eleitoral deste ano será uma das mais curtas da história da Venezuela. Os candidatos terão 21 dias para realizar atos de rua, pedir votos e tentar convencer o eleitor de que seu projeto de país é o melhor. O cronograma foi definido pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em março. 

Segundo a Lei Orgânica para as eleições, no período eleitoral, partidos e candidatos poderão fazer propaganda gratuita em veículos de comunicação tendo tempo igual, nas mesmas horas. Está proibido fazer propagandas anônimas, usar imagens dos libertadores da independência, como Simón Bolívar, além de crianças e adolescentes nas campanhas.

A lei também proíbe usar prédios públicos para campanha e colar desenhos e cartazes em monumentos, templos, árvores e parques. Não está permitido também pintar paredes de muros de casas, pontes, hospitais, praças e postes. As campanhas também não poderão ser financiadas com dinheiro público.

Edição: Rodrigo Durão Coelho