Após a reviravolta nas eleições para o Parlamento da França, agora o cenário é incerto quanto a quem vai governar o país junto com o presidente Emmanuel Macron. Apesar da esquerda do bloco Frente Nova Popular (FNP) sair vitoriosa do segundo turno realizado neste domingo (7), com a conquista de 182 assentos, não formou maioria para escolher o primeiro-ministro.
Nesta segunda-feira (08), o presidente francês decidiu manter o atual premiê Gabriel Attal no cargo após este pedir a renúncia. Attal faz parte do bloco de centro Juntos, que ficou em segundo lugar nas eleições legislativas. O primeiro-ministro é aliado de Macron na coalizão governista.
Entre os cenários prováveis para a escolha de um novo premiê está a formação de uma coalizão entre blocos de diferentes espectros políticos, o que torna tudo ainda mais complicado, diz Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mesmo que a aliança tenha sido possível numa espécie de 'frente republicana' que influenciou o resultado final das eleições.
“Os nomes têm aparecido para todos os lados. Mas o grande ponto nesse momento é quando a gente vê que não são partidos que venceram. O Juntos é uma coalizão do Macron de centro-direita. A Nova Frente Popular é uma coalizão de partidos muitas vezes com visões distintas, que se juntaram para enfrentar a extrema direita”, explica.
“O [Jean-Luc] Mélenchon, que é essa figura importante da esquerda, já se colocou à disposição para ser primeiro-ministro, mas ele é visto por parte do centro como muito radical. O que interessa nesse momento, mais do que um nome, é efetivamente a capacidade que ele [futuro primeiro-ministro] vai ter de aglutinar opiniões muito distintas”, argumenta o professor.
Brancoli lembra que quem assumir essa função terá que discutir temas como migração, agricultura, a guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza. "Vai ser difícil formar uma coalizão que junta tantas questões. E não dá para chamar outra eleição - só daqui a 12 meses. Então o que a gente vai ter ao longo das próximas semanas é uma negociação, para continuar funcionando, para, de alguma maneira, ter esse tipo de movimentação a gosto, dentro dessa lógica. E me parece que o Macron vai ter que fazer certas concessões", observa.
Na França, o voto não é obrigatório e a participação dos eleitores no segundo turno chegou a 60%, a maior participação em uma geração inteira, pontua o professor da UFRJ. Apesar do movimento de certa união entre esquerda e centro que deu certo para barrar o poder da extrema direita na Assembleia Nacional, isso não significa que os os ultradireitistas, que ficaram em terceiro lugar, foram completamente vencidos, afirma.
"As pessoas foram para as ruas e foram convencidas a votar, com o argumento desse quase cordão sanitário, para impedir a chegada da extrema direita ao poder. Isso não significa que a extrema direita foi completamente vencida. Eu lembro que, apesar de não ter conseguido ficar em primeiro lugar, fica com terceiro número de cadeiras [143]. Ela aumentou, consideravelmente, comparada às últimas eleições", pontua.
"Há algumas semanas, a gente tinha certeza de que a extrema direita ia ganhar, ninguém tinha certeza do que ia acontecer na França, foi surpreendente. As comemorações nas ruas demonstram isso, mas agora vem um próximo passo, que é como é que se forma um governo. Ninguém tem maioria, já está se falando uma espécie de coalizão arco-íris, juntando grupos de esquerda e de centro, para ver se consegue formar uma maioria para, efetivamente, indicar o primeiro-ministro", ressalta Fernando Brancoli.
O professor ainda comenta o resultado da eleição no Parlamento britânico, com a vitória histórica e volta do Partido Trabalhista ao poder após 14 anos, na semana passada. Brancoli analisa o cenário na Europa com essas eleições e faz comparativos com a América Latina.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (8) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Martina Medina