ACUSAÇÃO

Cuba apresenta evidências de plano terrorista organizado e financiado nos EUA

O governo cubano diz que EUA permitem que grupos terroristas atuem com impunidade em seu território

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |
Embaixada dos Estados Unidos em Cuba: histórico de sabotagens - Yamil LAGE / AFP

O governo cubano denunciou na segunda-feira (8), um plano que foi "planejado, financiado e organizado" a partir da Flórida, nos Estados Unidos para realizar ações terroristas e atacar a ilha caribenha. Na televisão cubana, representantes do Ministério do Interior (Minint) e da Procuradoria Geral de Cuba falaram sobre o plano frustrado.

O grupo terrorista pretendia, segundo o governo cubano, recrutar pessoas e introduzir ilegalmente armas e munições no país, com a intenção de perpetrar sabotagens e realizar ações violentas. O plano envolvia 32 residentes cubanos juntos com um grupo baseado nos Estados Unidos.

As autoridades explicaram que, no final do ano passado, as investigações do Ministério do Interior levaram à prisão de Ardenys García Álvarez. Um homem de 40 anos, de nacionalidade cubana, que vive nos Estados Unidos desde 2014, depois de ter sido acusado em Cuba pelos crimes de roubo e especulação. 

Em novembro de 2023, García Álvarez entrou ilegalmente em Cuba, por via marítima, portando armas de fogo e munições. Sua intenção era "recrutar pessoas e provocar um levante armado apoiado e financiado pelos EUA", explica o Ministério do Interior. Atualmente, ele está preso.

Mas Ardenys García Álvarez figura na lista de "presos políticos" compilada pela Prisoners Defenders, uma ONG com sede em Madri. A organização é presidida pelo empresário cubano-espanhol Javier Larrondo, que, no site da ONG, se apresenta como "ativista de direitos humanos, com vasta experiência na implementação de projetos pró-democracia em Cuba, tanto filantrópicos quanto financiados por doações". 

Os relatórios produzidos pela Prisoners Defenders são usados pelos EUA para justificar a inclusão de Cuba em várias listas de "violação dos direitos humanos" que permitem que Washington implemente medidas coercitivas unilaterais contra a ilha. 

Treinamentos

Durante a transmissão televisiva, o governo cubano divulgou declarações do próprio Garcia Alvarez, nas quais ele é visto confessando que, nos Estados Unidos, manteve relações com Willy Gonzalez e Dayan Quiñones, representantes do grupo que se autodenomina La Nueva Nación Cubana en Armas, uma organização terrorista com sede no sul da Flórida, cujo objetivo é a derrubada violenta do sistema cubano. 

Willy González é considerado um personagem bizarro e violento, espécie de porta-voz da La Nueva Nación Cubana en Armas. Nas redes sociais, ele incentiva a destruição de instalações elétricas e plantações em Cuba para gerar um "despertar do povo". A organização já financiou ataques contra escolas, hospitais e usinas elétricas. 

Garcia Alvarez afirmou nas imagens gravadas que participou com a La Nueva Nación Cubana en Armas de dois treinamentos militares organizados em campos de tiro. Na noite anterior ao segundo treinamento, Alvarez diz que, no hotel onde estavam hospedados, foi lido um documento que falava sobre a derrubada do "regime cubano", da determinação de usar a luta armada, "colocando em risco a vida de um grupo de homens determinados, a fim de salvar a vida de muitos outros".

Deixando acontecer 

Na transmissão televisiva, o coronel Víctor Valle, segundo chefe do Corpo Especializado da Diretoria de Investigação Criminal do Ministério do Interior, disse que "foi demonstrado na investigação que essa ação foi planejada, organizada, apoiada e financiada por um grupo de terroristas cubanos baseados nos EUA". 

Ele explicou ainda que Cuba havia denunciado esses indivíduos às autoridades estadunidenses, mas elas "não fizeram nada a respeito", enquanto esses grupos continuam a "adquirir armas, praticar tiro ao alvo e recrutar pessoas".

"Esses indivíduos continuam a agir impunemente em território dos EUA, organizando, financiando e apoiando atividades de natureza violenta com o objetivo de subverter a ordem interna de nosso país", disse o coronel Valle.

O Departamento de Estado dos EUA admitiu estar ciente das últimas alegações, mas ressaltou que "a aplicação da lei dos EUA persegue indivíduos com base na lei dos EUA e não recebe instruções de governos estrangeiros".

Mas, de acordo com a Resolução 1373 do Conselho de Segurança da ONU, os governos são obrigados a "trocar informações de acordo com o direito internacional" e a "criminalizar o fornecimento ou a coleta intencional, por qualquer meio, direta ou indiretamente, de fundos por seus cidadãos ou em seus territórios com a intenção de que tais fundos sejam usados, ou sabendo que tais fundos serão usados, para realizar atos terroristas". 

Em dezembro passado, Cuba publicou sua Lista Nacional de pessoas e entidades ligadas ao terrorismo. Essa lista inclui pessoas sob investigação criminal por estarem ligadas à promoção, planejamento, organização e financiamento de atos terroristas. A lista inclui membros da La Nueva Nación Cubana en Armas que operam nos Estados Unidos. 

"Nosso país tem mantido uma política transparente, séria, cooperativa e responsável na luta contra o terrorismo, e manteremos nossa disposição, junto com o povo, as Forças Armadas e o Ministério do Interior, para descobrir, confrontar e neutralizar esse tipo de atividade", disse o Coronel Valle.

A luta contra o terrorismo

Por meio da rede social X, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel declarou que "há algum tempo estamos alertando os Estados Unidos sobre os terroristas que operam contra Cuba a partir da Flórida, mas eles continuam agindo impunemente. No entanto, eles continuam agindo com impunidade, que é o que significa ser um Estado patrocinador do terrorismo! Evidente cinismo imperial".

Há anos, Washington mantém Cuba em sua lista de "países que patrocinam o terrorismo", inclusão que ignora as críticas crescentes da comunidade internacional. 

A inclusão de um país nessa lista tem o objetivo de causar danos econômicos, políticos e financeiros. Para isso, dificulta o acesso ao crédito e ao sistema de pagamento internacional e reforça os efeitos dissuasivos sobre terceiros países que desejam negociar com o país listado. 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho