Nova ordem regional

Após romperem com órgão ocidental, países da região africana do Sahel criam confederação anti-imperialista

Mali, Burkina Faso e Niger anunciaram em março a criação de uma força conjunta sem forças estrangeiras

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Chefes dos governos militares do Níger, Abdourahamane Tiani (c), do Mali Assimi Goita (3º à dir.) e Burkina Faso Ibrahim Traore (2º à dir.) - AFP

Mali, Burkina Faso e Niger, cujos governos militares chegaram ao poder por meio de levantes, oficializaram no sábado (6) a Aliança dos Estados do Sahel (AES), durante a primeira cúpula regional com foco no combate ao terrorismo. Atualmente, as nações são geridas por governos militares de transição que chegaram ao poder após a piora da situação de segurança nas antigas colônias francesas, causada pelo aumento de atividade terrorista.

Os três países anunciaram em março a criação de uma força "antijihadista" conjunta, expulsaram de seus territórios os soldados franceses e buscaram o apoio de outros países como Rússia, Turquia e Irã. O Níger também expulsou os soldados estadunidenses e o Mali, a missão da ONU (Minusma).

Além da cooperação militar, a Confederação que será presidida neste primeiro ano pelo Mali, busca uma gestão comum de recursos estratégicos como a agricultura, a água, a energia, o transporte, assim como a criação de um banco de fomento da AES.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirmou no sábado que a cúpula ocorreu em um “contexto difícil para os meios de comunicação” nos países da AES, onde vários jornalistas foram detidos nos últimos meses, principalmente no Mali e em Burkina Faso.

Rompimento com a Cedeao

O pano de fundo da criação desta confederação é o rompimento das juntas militares do Sahel com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), considerada muito próxima dos países ocidentais. Os três países anunciaram em janeiro deste ano a sua saída da Cedeao, denunciando as "sanções ilegais, ilegítimas, desumanas e irresponsáveis" aplicadas pelo bloco aos seus governos.

Os países que agora integram a AES afirmaram em documento que a Cedeao "traiu os seus princípios fundadores" sob a influência estrangeira, referindo-se à falta de apoio do bloco aos levantes militares anticoloniais que os países promoveram nos últimos anos, em especial o Níger em julho de 2023.

Entenda

A crise entre a Cedeao e os países da AES começou, com o golpe de Estado que levou o general Tiani ao poder no Níger, em 26 de Julho de 2023 e diante do qual, a Cedeao ameaçou intervir militarmente, mas recuou desta posição e decidiu pela aplicação de sanções: suspendeu a ajuda militar, financeira, alimentar e médica ao país.

Mali e Burkina Faso enfrentaram medidas punitivas semelhantes após os levantes de 2021 e 2022, respetivamente. Frente à deterioração das relações na Cedeao com a troca de governo no Níger em julho, em 16 de setembro de 2023, as três nações africanas criaram a Aliança dos Estados do Sahel, uma organização de defesa coletiva.

Edição: Leandro Melito