Em 4 de julho, os candidatos puderam sair para a rua para pedir votos na Venezuela, fazer propaganda na televisão e organizar comícios. Com o início da campanha eleitoral, os 10 candidatos que disputam o pleito no país começaram a tentar convencer os eleitores de que suas propostas são as melhores.
No entanto, parte considerável dos eleitores já está convicta em votar em 28 de julho no candidato à reeleição pelo governo, Nicolás Maduro, ou no nome forte da direita, o ex-embaixador Edmundo González Urrutia.
Logo no primeiro dia de campanha, os dois realizaram duas grandes marchas na capital Caracas. O Brasil de Fato esteve nos dois atos e perguntou aos eleitores: por quê você vai votar nele?
Chavismo pela revolução
Os apoiadores de Nicolás Maduro são, em grande parte, militantes chavistas. Aqueles que têm mais de 50 anos já votaram 3 vezes no ex-presidente Hugo Chávez e duas em Maduro. Para eles, o voto no atual presidente representa a manutenção de um processo socialista que é importante para o país.
Outra questão importante para esse grupo é a condição que o governo foi colocado nos últimos anos. Com as sanções impostas pelos Estados Unidos contra a economia venezuelana, o país não pôde vender o seu principal produto, o petróleo. O bloqueio reduziu a entrada de dólares no país e limitou os investimentos públicos em diferentes setores.
Por conta disso, os eleitores entendem que Maduro encarou uma situação muito delicada e, ainda assim, conseguiu reorganizar o país, manter programas sociais e amenizar a crise mesmo em uma situação adversa.
Jackson Matteo é técnico de segurança do trabalho e participou da manifestação chavista que saiu do bairro de Catia. Além desse contexto, para ele, o voto em Maduro é também uma forma de se posicionar contra a posição “extremista” da oposição e de manter um projeto de país que seja popular.
“Votamos por Maduro porque a batalha de 28 de julho é contra o fascismo e a favor do socialismo. Sabemos claramente que Maduro, com tudo que está acontecendo no país, com a situação do bloqueio, com a situação de que não nos permitem fazer acordos com outros países, teve que se apoiar na classe trabalhadora e avançar e construir uma nova forma de produção. Nós como trabalhadores públicos entendemos essa realidade”, disse Jackson Monteiro.
A campanha do governo adotou o discurso de que o presidente já está em vantagem, mas que é necessário que os eleitores participem do pleito para que o candidato consiga a reeleição. Para isso, ele também enfatizou a importância da iniciativa para convencer eleitores que nunca votaram pelo chavismo a votar por Maduro.
O respeito ao resultado é temor dos dois lados da disputa. Quem ganhar quer que os candidatos derrotados respeitem a decisão da maioria dos eleitores. Isso ao menos no discurso. Em junho, 8 dos 10 candidatos assinaram um acordo para reconhecer os resultados das eleições presidenciais. Somente o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, do grupo Plataforma Unitária, e Enrique Márquez, do partido Centrados, não participaram.
Esse gesto da oposição ligou um sinal de alerta para os manifestantes chavistas. Nos últimos anos, setores da extrema direita organizaram atos violentos no país, as chamadas guarimbas. Com isso, há o temor que novas manifestações aconteçam caso o candidato da Plataforma Unitária perca.
Para o administrador e manifestante chavista Ricardo Ernesto, o resultado eleitoral faz parte do jogo democrático e tem que ser respeitado pelo lado derrotado.
“Se eles ganham está bem, ganharam, como nos dizia o nosso eterno comandante amado Hugo Rafael Chávez Frias, faz parte do jogo. Se ganha o oficialismo, se ganha a revolução, que respeitem a decisão do povo. Porque estamos aqui pacificamente. Mas também estamos preparados para as pessoas que querem vir de outra forma”, disse Ricardo Ernesto.
Mudança para liberalizar
Se os chavistas querem continuar em um projeto socialista de governo, a oposição quer dar um giro à direita no país. Os argumentos são: maior liberalização da economia e o “fim dos problemas”. O país tem um abastecimento de água deficitário em diferentes cidades e um fornecimento de eletricidade inconstante no interior.
Para a aposentada Angelica Rodriguez, a troca de governo seria suficiente para resolver essas questões. De acordo com ela, com Edmundo como presidente um outro ponto também caminha para a resolução: a questão migratória..
“Voto por Edmundo para que haja mais postos de trabalho, por uma boa educação tanto privada quanto pública, para que o país ressurja, que acabe todos os problemas de água, luz, eletricidade. Temos problemas também de muitas pessoas que saíram do país buscando um melhor futuro. Então estamos pedindo uma mudança para o nosso país e que nossos familiares voltem para a Venezuela”, afirmou Angelica Rodriguez.
Edmundo González Urrutia tem como principal cabo eleitoral a ultraliberal María Corina Machado. Ela está inabilitada pela Justiça venezuelana por 15 anos e tem discursado nos comícios desde a pré-campanha. Para os apoiadores do candidato da Plataforma Unitária, ela ainda é o principal motivo para o voto, que pedem uma mudança no governo depois de 25 anos de chavismo no poder.
Mesmo com a acusação de fraude de alguns atores internacionais, os próprios eleitores de oposição acreditam no sistema eleitoral coordenado pelo Conselho Nacional Eleitoral.
“O governo de Nicolás Maduro com o chavismo já tem 25 anos mandando e não fez uma mudança. A mudança é para pior. Então sim, vou votar pela Maria Corina, que é representada por Edmundo, para fazer uma mudança no governo. Temos que ter fé e confiança no Conselho Nacional Eleitoral para votar. Tem que apoiar e difundir para que as pessoas votem. Tem que ser partícipe disso porque se você não vota não pode opinar muito”, afirmou Jose Igarte.
Igarte estava na manifestação da oposição que saiu de Chacaíto, na zona lesta de Caracas, acompanhado de outras 4 mulheres. Deste grupo, 3 afirmam já ter votado em Hugo Chávez. Eles afirmam que deixaram de apoiar o chavismo porque “se sentiram enganados” por Nicolás Maduro.
“Quando estava [no poder] Chávez, a condição dos professores realmente melhorou, tinham médicos nos bairros populares. Mas com Maduro tudo isso piorou, vimos que era um projeto de enriquecimento próprio”, afirmou Igarte.
O engenheiro Amílcar Puído foi um dos poucos manifestantes da oposição que falou sobre as propostas concretas de Edmundo. Ele afirma que o projeto liberal de María Corina Machado é importante para que mais empresas invistam no país.
“Maria Corina, que é a líder desse processo, já disse em mais de uma ocasião que é possível que a empresa privada surja e possamos ter melhores trabalhos, melhores salários. É preciso também privatizar várias empresas públicas”, afirmou ao Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Durão Coelho