'Agora temos dados inéditos sobre essas experiências
*Por Caroline Apple
Eu estava numa sessão intensa com ayahuasca quando a enorme cabeça de um Louva-a-deus apareceu na minha miração (nome dado às “visões” que temos durante a experiência com o chá). Foi então que dois insetos gigantes se apresentaram e realizaram uma cirurgia do lado esquerdo do meu peito. Em outra sessão, dois seres de aparência humanoide me abduziram e, ao passarmos por uma fenda, chegamos em uma cidade high-tech toda branca. Fiquei lá por pouquíssimo tempo e logo me trouxeram “de volta”.
Essas são apenas duas vivências pessoais que tive com esses seres durante o uso do chá, mas eu não estou só quando o assunto é ver alienígenas em trabalhos com ayahuasca.
Experiências como essas e outras, como acesso a vidas passadas, Experiência de Quase-Morte (EQM) e clarividência, são comuns entre quem faz uso do chá ou do DMT, mas, até o momento, essas informações ainda não haviam sido reveladas de forma quantitativa e mais detalhada, ficando restritas aos compartilhamentos entre aqueles que já viveram algo semelhante.
Agora esses dados estão disponíveis na pesquisa “Experiências anômalas com ayahuasca e DMT: uma leitura psicossocial”, realizada pelo psicólogo Ricardo Assarice dos Santos, doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), que entrevistou 1.205 voluntários para colocar no mapa das ciências sociais essas vivências que de anômalas só tem o nome científico, porque são, na verdade, bem normais nesse universo dos psicodélicos.
Em entrevista ao Psicodelia Brasileira, o psicólogo revelou que o tema se tornou seu objeto de estudo após uma experiência pessoal com seres extraterrestres. Porém, Santos sabia que precisaria de uma abertura significativa da academia para levar isso adiante.
“Eu estava em uma sessão com ayahuasca em um contexto específico que estava longe do tema ‘aliens’. Foi então que tive acesso a esses seres, e conversando com outras pessoas, fiquei sabendo que era corriqueiro. Foi quando decidi aplicar o tema como projeto de doutorado na USP, que foi aceito. Agora temos dados inéditos sobre essas experiências”, afirma Santos.
Apesar de levantar um ranking de prevalência de experiências anômalas, o foco ficou para os contatos com alienígenas, que já foram tema de observação de outros pesquisadores importantes dos psicodélicos, como Terrence McKenna, que sugeriu em um estudo publicado em 1991 uma ligação entre as visões induzidas por psilocibina e relatos de óvnis e alienígenas. E até o Louva-a-deus da minha miração já foi objeto de observação do também renomado pesquisador David Luke, que acessou relatos de abdução realizados por alienígenas com a forma de insetos.
“Um ponto interessante é que existe uma diferença entre quem tem contato com esses seres durante rituais em relação a quem faz uso do DMT fumado de forma ‘aleatória’, como é muito comum nos EUA. Os relatos de quem estava dentro de um contexto ritualístico são mais positivos do que quem estava em uma experiência sem condução”, destaca o psicólogo.
Veja o ranking das experiências anômalas da pesquisa*
Experiências Mística 95%
Miração/Alucinação 93,50%
Exp. Fora do Corpo 86,80%
Vidas Passadas 67,50%
Experiências de Quase Morte 59,90%
Clarividência (ESP) 53,10%
Sinestesia 52%
Cura Anômala 49,40%
Precognição (ESP) 48,70%
Sonho Lúcido 48,40%
Telepatia (ESP) 47,90%
Extraterrestres 42,90%
Psicocinesia (PK) 14,30%
*Importante pontuar que os resultados são uma prevalência exclusiva do grupo entrevistado e que outras pesquisas com maior rigor estatístico são importantes para comparar esses resultados com a população em geral.
**Caroline Apple é jornalista há quase 20 anos com passagem por alguns dos principais veículos do Brasil, abordando, principalmente, temas relacionados aos Direitos Humanos, como a causa indígena. É uma das primeiras jornalistas no país a se especializar na cobertura de cannabis para fins medicinais. Daimista, ayahuasqueira e psiconauta, Carol é influenciadora digital sobre temas relacionados à espiritualidade e ao autoconhecimento com ênfase no uso da ayahuasca em contexto urbano.
***Este é um texto de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Felipe Mendes
