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Impacto de anos sem ministério dos Esportes virá nas próximas Olimpíadas, diz Ricardo Leyser, ex-chefe da pasta

Integrante do COB, Leyser defende que Brasil criou políticas 'perenes' para Esporte que garantem bom desempenho em Paris

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Leyser: 'para formar um atleta são necessários seis, oito, dez anos' - José Cruz/Agência Brasil

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) confirmou que 277 atletas brasileiros vão participar dos Jogos de Paris, que começam no dia 27 de julho. Boa parte desse grupo faz parte de uma formação de esportistas que começou ainda em 2010, logo após o Brasil ter sido escolhido como sede para as Olimpíadas, que ocorreu em 2016, no Rio de Janeiro. 

Para o ex-ministro dos Esportes e membro do Conselho de Administração do COB, Ricardo Leyser, este grupo segue competitivo e com grandes chances de manter o desempenho que o país alcançou tanto em 2016, no Rio, como em 2021, em Tóquio, quando teve os melhores resultados da história. 

No entanto, Leyser comenta que, a partir da próxima edição dos Jogos, o Brasil deve começar a sentir os impactos de ter passado quatro anos sem ministério dos Esportes, quando a pasta se tornou uma secretaria do ministério de Cidadania, na gestão Bolsonaro. 

Além disso, o ex-ministro lembra que, durante o governo de Michel Temer, a Lei Agnaldo Piva, que converte recurso das Lotéricas para o Esporte, foi alterada por um ano, levando o dinheiro à área da segurança pública. 

"É importante lembrar que para formar um atleta são necessários seis, oito, dez anos, conforme o período a partir do qual você considera. Para levar um atleta a um evento como os Jogos Olímpicos, é preciso um período muito longo de tempo, com apoio e investimento muito estável”, comenta em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (15) 

Antes de ser ministro, Leyser já atuava na pasta dos Esportes e lembra como a formação de esportistas para os Jogos do Rio ainda está trazendo resultados para o país. "Nós ainda temos muitos atletas que foram formados para esse ciclo de 2016 e começou lá em 2010, 2011."

"Então minha preocupação maior é essa do médio ou longo prazo. Essa falta dos investimentos e a supressão do ministério do Esporte impediram que o trabalho de base funcionasse", ressalta. 

Leyser comenta que alguns atletas de ponta vieram, na verdade, de programa sociais que utilizavam o esporte como ferramenta de apoio a famílias 

"Podemos olhar o exemplo da Rebeca [Andrade], Isaquias [Queiroz] e o Erlon [Silva] na canoagem. São atletas que nasceram de programas sociais do ministério do Esporte, nasceram no Programa Segundo Tempo." 

"Um programa que era social esportivo, ele não tinha a pretensão de produzir atletas olímpicos, mas, ao permitir que uma gama maior de cidadãos brasileiros tivesse essa prática esportiva, é claro que você espera que aflore um percentual de pessoas com esse talento e essa capacidade atlética para se personalizar e crescer no esporte de rendimento", finaliza. 

Confira a entrevista na íntegra 

Como o Brasil chega para estas Olimpíadas?

A gente chega com força total. Chegamos bem preparados, com um nível de apoio que eu diria que é razoável. A política pública que foi implantada, principalmente no governo Lula e Dilma, foi uma política perene. 

Então hoje nós temos um financiamento assegurado de recursos federais que vem das loterias, tanto para o Comitê Olímpico quanto para o Comitê Paraolímpico. 

É claro que quando a gente fala do esporte de rendimento, do esporte competitivo, a gente tem que lembrar que os adversários também estão se preparando, investindo.  

Além disso, nós tivemos a inserção de modalidades novas desde Tóquio que nos ajudam. A presença do skate, do surf.... São modalidades em que o Brasil teve uma boa performance e acho que a gente continua candidato a várias dessas medalhas. 

Que políticas são essas que dão esse suporte aos nossos atletas?

A primeira é a Lei das Loterias, a Lei Agnelo Piva, que garante um percentual das apostas nas loterias para o Comitê Olímpico, o Comitê Paraolímpico e o Comitê Brasileiro de Clubes, que também tem um papel importante ali na base do esforço brasileiro. Isso funcionou.

Nós ficamos um ano no governo do Temer com uma paralisia [nesses investimentos] porque ele tomou uma medida provisória tirando esses recursos do esporte e destinando para a segurança pública, isso antes de Tóquio. 

Mas isso foi revisto, o Esporte se rebelou e conseguiu reverter. Gerou um ano de prejuízo, mas a política continuou.  

O Bolsa Atleta, que é fundamental, tem um recurso que vai direto pro atleta. A presidente Dilma criou dentro do Bolsa Atleta a modalidade Pódio, que é mais voltada a esses atletas com chances reais de disputa, de finais, de conquistar medalhas em jogos olímpicos, em campeonatos mundiais.  

Mais de 90 % dos atletas recebem Bolsa Atleta. Ele é muito importante nesse período antes da conquista da medalha, quando ainda não há iniciativa privada, não há marketing, não há patrocínios. 

No governo Bolsonaro teve um ano em que o governo deu o calote nessa bolsa, sumiu com ela. 

É importante lembrar que para você formar um atleta são necessários seis, oito, dez anos. Então, para você levar um atleta a um evento como os Jogos Olímpicos, é preciso um período muito longo de tempo, e apoio e investimento muito estável. 

O desempenho desse ano pode superar os anteriores?

A expectativa é alta, mas, claro, você pode investir o recurso que for, mas não existe a garantia da medalha. Essa é a graça do esporte, você não compra medalhas, tem que dar condições para que o talento se desenvolva. 

Você tem realmente essa chance de superar seus adversários, mesmo adversários que eventualmente estão em um contexto de melhor financiamento, ou de um país mais rico, enfim.  

Nós ainda temos muitos atletas que foram formados para esse ciclo de 2016 e começou lá em 2010, 2011. 

Então a minha preocupação maior é essa do médio ou longo prazo. Essa falta dos investimentos e a supressão do ministério do Esporte impediram que o trabalho de base funcionasse. 

Podemos olhar o exemplo da Rebeca [Andrade], do Isaquias [Queiroz] e do Erlon [Silva] na canoagem. São atletas que nasceram de programas sociais do ministério do Esporte, no Programa Segundo Tempo. 

Um programa que era social esportivo, ele não tinha a pretensão de produzir atletas olímpicos, mas ao permitir que uma gama maior de cidadãos brasileiros tivesse essa prática esportiva, é claro que você espera que aflore um percentual de pessoas com esse talento e essa capacidade atlética para se personalizar e crescer no esporte de rendimento. 

Esses programas sociais, de iniciação, de base que foram interrompidos, eles podem, sim, criar um problema para o Brasil nos jogos Olímpicos de 2028, 2032, porque não houve essa reposição. 

Para Paris, não. Para Paris a gente tem aí ainda um time muito bem formado, muito bem trabalhado. 

É uma preocupação do COB formar atletas que não se apeguem ao discurso meritocrático que muitas vezes está presente no esporte de alto rendimento?

Com certeza, e é um grande desafio. É a política pública que trabalha o conceito de esportes junto da cidadania.

A gente observa realmente que, muitas vezes, principalmente aqueles atletas que acabam, pelo seu sucesso, enriquecendo, mudando de patamar social, tendo uma ascensão muito rápida, nem sempre conseguem entender um pouquinho esse contexto todo de apoio.  

Inclusive isso não acontece só com o público, às vezes acontece com o privado também, porque muitas vezes esses atletas não reconhecem nem o trabalho dos clubes e das confederações, o que é um absurdo. 

Eu lembro de uma entrevista da Sarah Menezes, que foi medalhista de ouro no judô em Londres, e ela falava: "olha, eu sou uma mulher negra fazendo judô em Teresina, fora do eixo Rio-São Paulo, de 17, 18 anos. Se eu não tivesse Bolsa Atleta, eu teria que largar o esporte e cuidar da vida, arrumar um emprego trabalhar". 

Como funciona o apoio do Exército ao esporte?

Nós criamos o programa Forças no Esporte a partir de uma cooperação. Esse trabalho com as Forças Armadas começou, primeiro, pelo programa Segundo Tempo, pela parte social.  

Foi só quando nós conquistamos o direito de sediar os Jogos Mundiais Militares, em 2011, no Rio de Janeiro, que se criou essa dimensão de alto rendimento nas forças armadas. 

Então foi um programa bem interessante. É uma modalidade de apoio que acontece em vários países e o Brasil também surfou nessa onda. 

O que acontece é que, muitas vezes, no debate público, algumas tendências políticas tentam se apropriar desse programa, que foi criado no governo Lula, como se fosse uma coisa ideológica 

O mais importante, o apoio [financeiro] a essa formação de desenvolvimento dos atletas, não é das Forças Armadas. Eu até gostaria que fosse, seria ótimo. Seria mais um caminho, mais uma fonte financiamento.  

Que atletas você dá a dica para ficarmos de olho?

Marcos Vinicius, do tiro com o arco, ele tem liderado por bastante tempo o ranking, é um atleta jovem que nasce ali num treinamento em Maricá [RJ] e fica com muitas chances. 

E também o [Hugo] Calderano, que tem flutuado em torno do 5º, 6º lugar do ranking mundial de tênis de mesa, que é um esporte muito competitivo, com um domínio chinês gigantesco, e que o Hugo chega voando também com chances. 

São medalhas difíceis, mas que seriam muito importantes para o Brasil.  


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Edição: Martina Medina