O alto comando do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) se reuniu com o secretário-executivo da Presidência da República do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o general Sérgio José Pereira, em 3 de setembro de 2020, oito dias após o mandatário sugerir que a estatal deveria ser consultada sobre a investigação sobre um esquema de rachadinha no gabinete de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
O encontro com Sérgio José Pereira está registrado na agenda oficial do general Antonino dos Santos Guerra Neto, diretor do Serpro, e foi solicitado pelo ex-presidente da estatal, Gileno Gurjão Barreto.
De acordo com o documento (ver imagem abaixo), também participaram da reunião outro então diretor do Serpro, o coronel Paulo Roberto Correa Leão; Orlando Oliveira Santos, que era diretor da Gestão da Informação da Presidência da República; e Thiago Meirelles, secretário-executivo adjunto da Presidência da República durante o governo de Bolsonaro.
Na última segunda-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo de um áudio que integra a Operação Vigilância Aproximada, que investiga o monitoramento ilegal de pessoas e autoridades públicas, conhecido como “Abin paralela”.
O arquivo estava em um dos seis celulares e quatro notebooks recolhidos do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Os aparelhos foram apreendidos pela Polícia Federal no âmbito da Vigilância Aproximada.
O áudio é um registro de reunião de 25 de agosto de 2020, quando o então presidente Jair Bolsonaro recebeu Ramagem, à época chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o general Augusto Heleno, que era ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e duas advogadas de Flávio Bolsonaro, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
Em determinado momento da reunião, Jair Bolsonaro pergunta aos demais participantes do encontro: “a quem interessa pra gente resolver esse assunto?”. Bierrenbach sugere que o grupo procure a Serpro. O ex-presidente, então, responde: “eu falo com o Canuto”. Ramagem sentencia: “Fala com o Canuto pra saber do Serpro. Fala com o Canuto pra saber do Serpro, tá?”
O "Canuto" citado é Gustavo Canuto, ex-ministro do Desenvolvimento Regional do governo de Bolsonaro, que foi transferido para a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), uma estatal de processamento de dados.
Outro lado
O Brasil de Fato procurou o Serpro, mas não houve retorno até o fechamento da matéria. Caso a estatal se manifeste, o texto será atualizado.
Edição: Felipe Mendes