O áudio de uma reunião de Jair Bolsonaro, divulgado no âmbito da investigação do caso da 'Abin paralela', pode complicar ainda mais a situação do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na reunião, realizada em 2020, o então presidente da República tratou de planos para tentar blindar o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de uma investigação sobre esquema de rachadinhas.
É o que analisa Renato Eliseu Costa, professor de Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Ramagem, que era o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na época, estava presente na reunião. Ele prestou depoimento nesta quarta-feira (17) sobre o suposto esquema de monitoramento ilegal utilizando o órgão.
"Não é um caso só de proteção pessoal do filho do ex-presidente da República, mas, de alguma forma, um atentado à democracia ao utilizar as instituições do Estado para fins de perseguição, para fins de vantagens pessoais. Esse depoimento vai estar no bojo de uma discussão muito maior: as ações passadas do governo para minar a democracia", afirma Eliseu Costa.
Ramagem é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e as novidades na investigação podem atrapalhar a campanha dele, pontua o professor. Mas há dúvidas sobre qual será o comportamento daqui para frente.
"Um ponto muito importante em que se baseava a campanha do Ramagem no Rio, que, inclusive, pelas pesquisas, é o terceiro nas intenções de votação, está na sua relação com o ex-presidente Bolsonaro. Uma tentativa de colar os votos conservadores. Agora, com essa gravação e com um aparente afastamento desse grupo, isso pode, em alguma medida, enfraquecer ainda mais a campanha dele", deduz.
O então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e duas advogadas de Flávio Bolsonaro também estavam presentes na reunião gravada, que teve o sigilo derrubado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira (15).
Apesar de Ramagem se defender afirmando que a gravação da reunião, feita por ele, era de conhecimento de Jair Bolsonaro, no áudio, o ex-presidente não parece saber disso e é alertado por Heleno dessa possibilidade. O argumento do ex-diretor da Abin é falho, diz Renato Eliseu Costa.
"O ex-presidente está ali tentando, ao saber da gravidade do crime que comete, arranjar um caminho em alguma medida para se livrar dessas acusações. Mas quando você ouve os áudios integralmente, é possível perceber que eles sabiam da gravidade e do que estava acontecendo. Nos áudios, o general Heleno fala, inclusive: olha, tome cuidado, coloque alguém da confiança, pois pode dar algum problema."
"A tentativa do uso da Abin para fazer com que essa investigação [das rachadinhas] não fosse à frente caminhava justamente no sentido de tentar achar alguma ilegalidade ou não achar, mas necessariamente forçar uma ilegalidade atrás do trabalho desses servidores, que são servidores de estados, concursados com carreiras estáveis, para, sim, tentar anular a ação junto ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o que obteve sucesso", relembra o professor da FESPSP sobre o processo, citado no áudio.
"[Esse sucesso vem] não de fato pela irregularidade da ação desses auditores fiscais, mas por essa manobra jurídica, com a agora sabida ajuda da Abin e da própria Receita Federal, na figura de seu presidente, que também é acionado e depois é possível ver as reuniões dele com as advogadas e com o próprio [então] presidente", prossegue.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (17) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Martina Medina