Anuário de Segurança

São Paulo tem mais da metade dos assassinatos praticados por policiais fora de serviço no Brasil

De 211 mortes por policiais sem farda em 2023 no país, 120 foram em SP, aponta Anuário Brasileiro de Segurança Pública

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Gestão de Tarcísio de Freitas (à direita) no governo de SP, com Guilherme Derrite (à esquerda) na pasta da segurança, é marcada por aumento da letalidade policial - Divulgação/ Alesp

A cada três dias, uma pessoa foi morta por um policial fora de serviço no Estado de São Paulo, durante 2023. Conforme o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (18), o estado paulista está isolado neste ranking.  

No Brasil, 211 pessoas foram mortas por policiais sem farda. Destes assassinatos, 120 foram no estado governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos): 16 cometidos pela Polícia Civil e 104, pela Polícia Militar (PM). No ano anterior, em 2022, a taxa foi ainda maior, chegando a 146. 

Vale dizer que alguns dos entes federativos não informaram este número específico ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Entre eles, o Rio de Janeiro, berço das milícias, que ocupa o sétimo lugar entre as polícias com maiores taxas de letalidade policial em geral.  

Ainda assim, os índices das mortes cometidas pelas polícias paulistas durante a folga são discrepantes em relação aos dados disponíveis sobre o resto do país, somados. As mortes cometidas por agentes de segurança sem farda em SP representam 56,87% de todas as do Brasil.  

Depois de São Paulo, com números bastante inferiores ao de três dígitos, vem o Rio Grande do Sul, onde PMs fora de serviço assassinaram 13 pessoas no ano passado, seguido pelo Ceará com 11, Pará, com 10 e Minas Gerais, com nove.  

O número chama atenção já que São Paulo também ganhou o holofote nacional por ter sido palco – no ano passado e em 2024 – das mais sangrentas operações policiais formais desde o massacre do Carandiru, em 1992.  

As operações Escudo e Verão, implementadas na Baixada Santista pelo governador Tarcísio e seu secretário de segurança pública, Guilherme Derrite, acumularam denúncias de tortura e execuções sumárias. Ambas as operações mataram, entre julho de 2023 e 1 de abril de 2024, ao menos 84 pessoas.  

Assim, a alta taxa de mortes cometidas por policiais fora de serviço se soma aos números destas operações - feitas com farda, à luz do dia e sob declarações de "estou nem aí" do governador a respeito das denúncias de violações. 

Em 10 anos, letalidade policial no Brasil sobe 189% 

Somadas às mortes decorrentes de intervenção policial em serviço, a letalidade das forças de segurança de Estado no país saltou 188,9% entre 2013 e 2023. Apenas no ano passado, 6.393 pessoas foram assassinadas pela polícia.  

Os números apontam um cenário "preocupante" que "contraria o argumento utilizado de que as polícias 'apenas reagem a injustas agressões dos criminosos'", avalia Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em artigo que acompanha o anuário. 

"Se em vários municípios brasileiros as mortes decorrentes de intervenção policial em serviço representam mais da metade das mortes violentas intencionais, há que se discutir estratégias para que o enfrentamento à violência do crime não seja reprodutor de iniquidades raciais, geracionais e de gênero, bem como de situações intermináveis que geram confrontos e mortes", aponta Bueno. 

Proporcionalmente à população, o estado com maior taxa de mortalidade provocada pela polícia foi o Amapá. São 23,6 assassinatos por 100 mil habitantes: o índice é 661% maior que a média nacional. Em seguida, vem o estado da Bahia e, em terceiro lugar, Sergipe. Os governadores desses estados são, respectivamente, Clécio Luís (Solidariedade), Gerônimo Rodrigues (PT) e Fábio Mitidieri (PSD).  

Entre as vítimas fatais dos agentes do Estado, 99,3% são homens e 82,7%, negras. O racismo nas intervenções policiais faz com que a taxa de mortalidade de pessoas negras seja 289% mais alta que a de pessoas brancas.  

Edição: Martina Medina