Editorial BdF

Jornalismo é coisa de criança?

Fazer jornalismo infantojuvenil requer mais tempo de produção e adequações na linguagem e na abordagem dos assuntos

Brasil de Fato | São Paulo |
Estreia do Radinho Entrevista foi com a personagem Dorotéia, do Quintal da Cultura - Divulgação / TV Cultura

As crianças estão em contato com as notícias e com os acontecimentos do mundo o tempo todo. Em casa, a TV ou o rádio estão ligados enquanto brincam, fazendo elas receberem as informações indiretamente. Já nas redes sociais, acessadas cada vez mais cedo, os algoritmos trabalham para mostrar os acontecimentos - mesmo que de maneira questionável, devido à falta de uma regulação clara e objetiva dessas plataformas.

O direito de se informar e de participar está previsto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mas é raro que os meios de comunicação tenham conteúdos com linguagem adequada para elas. Além disso, as crianças não têm oportunidade de expressar suas opiniões e sentimentos diante dos acontecimentos que não só assistem, como também vivenciam.

Mesmo os veículos de comunicação, só costumam ouvir essa parcela da sociedade em pautas consideradas de menor valor e importância, como a volta das férias escolares, a chegada do Papai Noel ou, pior ainda, em situações vexatórias que se tornam engraçadas aos olhos dos adultos.

Outra maneira das crianças aparecerem nos noticiários é quando são mortas ou vítimas de violência. A visão adultocêntrica do mundo nos faz pensar que os menores de idade não têm o que acrescentar em assuntos “sérios” ou não podem desenvolver pensamento crítico. O resultado dessa combinação são gerações vítimas da desinformação e com baixo letramento midiático, o que implica uma série de consequências para todos nós enquanto coletivo.

No Brasil de Fato, escolhemos o podcast como canal de comunicação principal com os meninos e meninas. Desde 2020, o Radinho BdF trata dos mais variados assuntos da atualidade, com as crianças como principais fontes a serem ouvidas para a construção dos episódios. Nesses quatro anos, já falamos sobre racismo, violência sexual contra meninas e como as crianças de Petrópolis vivenciaram e sentiram as consequências da maior enchente ocorrida em 2022. Mas também abordamos brincadeiras, o saci e o nosso folclore, e a escola dos sonhos.

Fazer jornalismo infantojuvenil requer mais tempo de produção e adequações na linguagem e na abordagem dos assuntos, o que chamamos de ‘jornalismo em camadas’. E essa produção só é possível graças ao compromisso do Brasil de Fato com a comunicação popular e à compreensão da criança e do adolescente como sujeitos de direitos no tempo presente, e não como o adulto que um dia serão.

Depois de uma pequena pausa, o Radinho BdF volta aos tocadores em formato de temporada, com uma novidade: o Radinho Entrevista. Convidamos crianças para ocupar os estúdios do Brasil de Fato e serem as entrevistadoras e protagonistas das entrevistas com pessoas e personalidades.

A estreia foi com Dorotéia, personagem do Quintal da Cultura, programa da TV Cultura que atravessou gerações e está há mais de uma década no ar. O programa é direcionado ao público infantil, mas convida também o adulto a ver, ou melhor, a ouvir os assuntos cotidianos de uma maneira diferente.

Nós, aqui do Brasil de Fato, convidamos você a escutar o podcast com as crianças de seu convívio e fazer dele um instrumento para boas conversas e reflexões. E, mais do que isso, nos ajudar a levantar a bandeira de que criança tem direito à informação e à participação, e que jornalismo também é coisa de criança.

 

Um abraço,

 

Camila Salmazio
Diretora de programas de rádio

Edição: Nathallia Fonseca