Um militar da reserva do Exército que teve pelo menos seis encontros privados com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e no Alvorada em 2019 é apontado como a fonte na Receita Federal mencionada pelo ex-presidente durante uma reunião relacionada ao caso das "rachadinhas" envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), segundo apuração publicada neste domingo (21) pelo jornal Folha de S.Paulo.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última segunda-feira (15), tornou público o áudio de 25 agosto de 2020, no qual Bolsonaro discutiu o uso de recursos do governo para tentar invalidar a investigação contra seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro.
Durante a reunião, o ex-presidente se comprometeu a conversar com os líderes da Receita Federal e do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), visando buscar evidências que pudessem demonstrar que o senador teve suas informações acessadas ilegalmente no início da investigação.
Nesta reunião estavam Jair Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, o então diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, e duas advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
Durante o encontro, o ex-presidente disse aos demais participantes que seu informante na Receita Federal seria "um oficial do Exército", e sugere que deveria ter escolhido um agente do serviço secreto russo. Na reunião, Bolsonaro afirmou ter esquecido o nome da sua fonte. Heleno, então, menciona "Magela".
Segundo a Folha, na verdade, a referência era a “Marsiglia", sobrenome do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Pereira Leonel Marsiglia, que se encontrou com Bolsonaro em seis ocasiões, sendo cinco delas em privado, durante o mandato do ex-presidente. As reuniões entre os dois ocorreram nas duas residências da Presidência da República, os palácios do Planalto e no Alvorada.
A primeira reunião ocorreu em 28 de março de 2019, e o último registro foi em 23 de maio do ano seguinte. A única reunião de Bolsonaro com Marsiglia na qual a agenda aponta a presença de outros participantes foi em 22 de maio de 2021, um dia antes do último encontro, são eles: os ministros da Casa Civil na época, Onyx Lorenzoni, e da Economia, Paulo Guedes.
Marsiglia, que se aposentou do Exército por volta de 2013 e não ocupava cargo público na ocasião, é irmão de um auditor da Receita Federal do Rio de Janeiro. Este auditor, com outros colegas, estava envolvido em uma disputa interna no órgão, e o caso estava sendo usado pela defesa de Flávio para tentar comprovar a teoria de acesso ilegal aos dados fiscais.
Em outubro de 2020, Flávio Bolsonaro foi acusado formalmente pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) de chefiar um esquema de recolhimento do salário de funcionários de seu gabinete, quando era deputado estadual, no que ficou conhecido como o caso das "rachadinhas".
Segundo o MPE-RJ, ele usava o recurso para lavar dinheiro. O senador foi denunciado por organização criminosa, peculato e apropriação indébita. As acusações foram parar no STF, pois o parlamentar possui foro privilegiado.
A Folha informa ter procurado a defesa de Bolsonaro e do coronel Carlos Marsiglia, mas diz não ter tido resposta até a publicação da reportagem.
Edição: Martina Medina