ELEIÇÕES NOS EUA

Kamala Harris será cobrada para ser mais firme em seus posicionamentos, diz especialista

Clarissa Forner explica o que pode mudar na disputa e como ficam campanhas após desistência de Biden pela reeleição

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Vice-presidenta dos Estados Unidos Kamala Harris nesta segunda-feira (22); ela é vista como principal nome para a disputa à Casa Branca contra Trump - Foto: ERIN SCHAFF / POOL / AFP

Vice-presidenta dos Estados Unidos, Kamala Harris se tornou o nome mais forte do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump nas urnas depois da desistência de Joe Biden, que estava em campanha pela reeleição. Ainda que a indicação não seja oficial, muitas personalidades da política, inclusive brasileiras, comemoraram a possibilidade.

Alguns dos motivos da euforia são o fato de Kamala ser negra e também poder mudar o cenário na disputa contra o republicano. É o que explica Clarissa Forner, professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

"A questão da representatividade talvez seja um dos elementos mais importantes. Não só pelo que ela representa como uma mulher e também alguém que tem uma uma descendência afro-americana, mas existia ali uma grande sensação de ressaca com os dois presidenciáveis em disputa [Biden e Trump]", argumenta.

"Ela traz esse elemento novo, podendo eventualmente também, como vantagem, puxar os votos do eleitorado mais jovem, puxar os votos das minorias, que eram calcanhar de Aquiles dentro da campanha do Biden."

Mesmo com importância da representatividade, ainda há curiosidade para saber qual será o posicionamento de Kamala, que se define como progressista, em relação a temas como o massacre palestino na Faixa de Gaza. Forner declara haver dúvidas, embora acredita-se que a democrata vá seguir a mesma linha política ambivalente adotada por Biden.

"Ainda é um cenário bastante incerto. Do ponto de vista da política externa, a Kamala Harris acaba sendo uma incógnita. Mas se a gente olhar pros posicionamentos, em geral ela tende a acompanhar o que foram também os posicionamentos do próprio Biden, da própria presidência", avalia. 

"Apesar de ela em vários momentos apoiar o cessar-fogo e o envio de ajuda humanitária, ela também defende Israel, o que ela coloca como um direito de autodefesa israelense. Provavelmente, a gente continuará observando essa ambivalência", expõe a professora de Relações Internacionais. 

Se por um lado Kamala pode repetir a política externa pregada por Biden, por outro, na política interna, pode haver diferenças que serão cobradas, acredita Clarissa Forner. 

"Há uma expectativa de que ela se posicione de forma mais enfática em relação às questões envolvendo direitos reprodutivos das mulheres. Ela já vem se posicionando nesse campo como alguém que defende o direito ao aborto, mas isso vai ser cobrado de forma mais enfática", exemplifica.

"A questão migratória é uma pauta que para ela vai ser muito importante, porque foi uma agenda na qual ela atuou fortemente enquanto vice-presidente e recebeu muitas críticas. E é um ponto no qual o Donald Trump insiste bastante também como parte da sua plataforma eleitoral", lembra. "Acredito que esse também vai ser um elemento no qual ela vai ser chamada a opinar e, enfim, a se colocar de forma mais enfática justamente também para fazer esse contraponto ao Trump", diz Forner. 

Biden optou por não concorrer mais à presidência dos EUA após sofrer pressão depois do desempenho ruim no primeiro debate televisivo contra Trump. A situação se complicou depois que o rival republicano foi vítima de atentado durante discurso em comício, na Pensilvânia. O caso teria deixado o atual presidente estadunidense mais enfraquecido por ter que mudar o tom agressivo previsto para a campanha.

A desistência de Biden impacta e impõe mudanças também na estratégia de campanha republicana, diz a professora da FESPSP. Se antes os republicanos apostavam na possível incapacidade do atual presidente dos Estados Unidos de seguir governando, agora o foco terá que ser outro.

"Ele [Donald Trump] já se pronunciou várias vezes falando que ia ser fácil vencê-la [Kamala], o que entra para a conta das bravatas e que não têm necessariamente um fundamento se a gente olhar para as pesquisas. Mas acho que ele vai buscar pegar justamente esses pontos nos quais se considera que o desempenho dela como vice não foi satisfatório e daí de novo, a questão migratória vai aparecer. E para além disso, eu imagino que também o que vai se explorar é tentar reforçar para o eleitorado a percepção de indecisão, de fragmentação dos democratas."

Clarissa Forner pontua que, com a possível nomeação de Kamala, o partido terá que garantir a imagem de coesão de união que faltava enquanto Biden era o pré-candidato.

"A grande questão nesse momento é a necessidade de que ela se consolide, dentro do Partido Democrata, como o nome que eles vão levar a cabo nessa eleição. É muito importante que o partido consiga transmitir para o eleitor agora uma imagem de coesão, que era algo que vinha sendo muito pedido durante esse contexto de indecisão em relação à permanência ou não do Biden", completa.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (22) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Thalita Pires