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Com tradução ao iorubá, Museu Itamar Assumpção se expande na internet e aposta na presença física em escolas da Zona Leste de SP

Criado há quatro anos, espaço virtual é primeira plataforma do tipo para um artista negro no Brasil

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Itamar Assumpção nasceu em Tietê (SP) e faleceu na capital paulista, em 2003 - Foto: Marcela Haddad/acervo MU.ITA

Longe de ser apenas um site sobre o legado de um importante nome da música brasileira, o Museu Itamar Assumpção (MU.ITA) está no ar desde 2020 e se aprimora para se consolidar como uma experiência pioneira de acesso às múltiplas formas de expressão artística do cantor e compositor paulista, falecido há 21 anos.

A plataforma reúne mais de 2 mil obras reunidas, incluindo pinturas, músicas, objetos, fotos, figurinos e também teses acadêmicas sobre a obra do artista.

Tudo começou a ser concebido no final de 2019 e no início de 2020, mas não teve a ver com a chegada da pandemia e a necessidade que diversos setores tiveram que se reorganizar, como explica um dos idealizadores do projeto, Frederico Teixeira. 

"Era um projeto inicial da Anelis [Assumpção] de fazer um site sobre o Itamar", lembra o diretor artístico em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (23).

"O que aconteceu, de fato, quando a gente olhou para essa herança e para o acervo, a gente viu a dimensão de tudo que havia. A partir disso, a gente conseguiu fazer essa estrutura, numa plataforma, digamos assim, que fosse um museu virtual, que, de alguma forma, conseguisse digitalizar e pensar nesse legado do Itamar."

Neste ano, o museu deu passos no sentido de explorar mais do acervo físico de Itamar Assumpção, no caso, passar adiante o conhecimento gerado pelo artista. A escolha foram crianças de escolas públicas de São Paulo, especialmente da Zona Leste, onde cantor cresceu e viveu.

"A gente está trabalhando agora neste ano com duas faixas etárias, as crianças da primeira infância e do ensino fundamental. Então a gente tá com duas frentes, uma mais da literatura e outra frente mais da musicalização infantil", comentou Teixeira, lembrando que Itamar Assumpção chegou a escrever livros infantis que estão sendo publicados agora.

Um fato inédito do museu foi a tradução para o iorubá, língua natural do continente africano de origem nigero-congolesa.

"Essa questão do iorubá, ela vem um pouco também da própria relação da Anelis com os movimentos afrodiaspóricos. Então acho que isso também é uma relação de renovação da herança do Itamar pela própria Anelis", explica Teixeira.

"O Museu é muito importante, é o primeiro museu virtual de um artista negro, é o primeiro museu com tradução em iorubá", lembra Anelis Assumpção, em entrevista recente ao Brasil de Fato.

"Porque aí eu vou para um outro campo de trabalho, que é o museal, que não é da música, é de um outro pensamento de preservação, cuidado e importância disso. É outro mundo totalmente", finaliza a cantora.

Segundo a equipe do museu, há uma intenção de abrir uma sede física para expor o que existe de acervo. O local já existe, seria a casa onde Itamar viveu e ainda é a residência de uma parte da família.

Por ora, a intenção está no campo das ideias. Mas diretor artístico revela que ano que vem novidades devem vir por ser o aniversário de 75 anos de Itamar Assumpção.

Confira a entrevista na íntegra

Como surgiu a ideia?

Tudo começou lá em 2020, finalzinho de 2019. E, curiosamente, o fato do museu ser virtual não tem nada a ver com a pandemia. Muita gente, às vezes, acha que tá associado, mas era um projeto inicial da Anelis de fazer um site sobre o Itamar.

O que aconteceu, de fato, quando a gente olhou para essa herança e para o acervo, e a gente viu a dimensão de tudo que havia. A partir disso, a gente conseguiu fazer esse estrutura, numa plataforma, digamos assim, que fosse um museu virtual, que, de alguma forma, conseguisse digitalizar e pensar nesse legado do Itamar de forma a conectar não só a relação com a música, mas com outros campos das artes, sendo eles a literatura, as artes visuais, a música.

E mesmo se a gente for pensar no comportamento, na moda, nessas estéticas todas que estão ao redor da obra dele.

Assim a gente chega nesse formato de um museu que é virtual eminentemente, que tem acessibilidade garantida, mas também a gente tem a ideia de preservação e cuidado a ser de forma física, mas com uma estrutura reduzida.  

Como surgiu a decisão de traduzir o site para o iorubá? 

Essa questão do iorubá, ela vem um pouco também da própria relação da Anelis com os movimentos afrodiaspóricos. Então acho que isso também é uma relação de renovação da herança do Itamar pela própria Anelis.

Além do iorubá e essa tentativa de conexão de volta com esse oeste africano, a gente também tem as traduções em inglês e em alemão. E alemão especificamente também por causa do trânsito do Itamar na Alemanha. Então o Itamar teve dois discos que foram gravados por uma gravadora alemã. Esse transito dele começou em 88 e foi até 98, com muita intensidade.

A ideia dessas traduções todas são de conectar o museu com outras realidades que o Itamar poderia ter se conectado ou se conectou em vida.

E o projeto Assim o Ita ensina?

O Assim o Ita Ensina é um dos braços desse plano anual de 2024. A gente tá agora atuando em duas escolas, nosso coordenador na área é o Renato Gama, que é músico e educador, também da Zona Leste de São Paulo (SP).

A gente está trabalhando agora nesse ano com duas faixas etárias, as crianças da primeira infância e do ensino fundamental. Então a gente tá com duas frentes, uma frente mais da literatura e outra frente mais da musicalização infantil.

E a gente está trabalhando também, além da música e da literatura, com duas performatividades. Uma delas é a forma mais teatral, que também faz muita relação com a história do Itamar, e também os jogos.

Nossa ideia é expandir também para outras escolas e aumentar a potência do educativo, digamos assim.

Além das ações educativas, a gente vai ter a ideia da sala de Denise, como um espaço novo no museu e que presta um pouco a sua homenagem. Mas a nossa ideia é olhar um pouco para essa produção teatral dela, a ação dela com Teatro Oficina.

Afinal, o museu quer se tornar físico?

As ações presenciais do Museu são não só as ações educativas, mas também uma ação muito importante que é essa organização e a catalogação do acervo físico. É um trabalho que não é um trabalho, digamos assim, muito midiático, mas é um trabalho que é muito importante também para a gente entender espacialmente como essa herança se manifesta.

Estamos mais focados na questão de preservação física e, para 2025, a gente quer continuar pensando nessas ações educativas e também nas questões de preservação física e virtual.

Mas queremos também produzir essa exposição que a gente já vem pensando a um tempo, que é uma exposição em homenagem aos 75 anos de Itamar.

A gente gostaria muito que ela acontecesse, mas de uma forma em colaboração com algumas instituições que a gente já tem conversado, a gente espera que saia.

A nossa reserva técnica é na Penha, então a gente tem um espaço de trabalho lá, que é um pouco, também, na verdade, o espaço, a residência do Itamar, onde ainda mora uma parte da família, mas a nossa ideia é tornar esse espaço público, onde acho que, a longo prazo, possa acontecer visitação.

Ainda é uma questão muito delicada, a gente pensar nisso agora. Mas, de fato, a nossa ideia é irradiar a partir da Penha, a partir da zona leste de São Paulo.


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Edição: Nicolau Soares