Eleições 2024

Maduro rebate Lula e explica contexto de declaração sobre 'banho de sangue'

Brasileiro pediu 'respeito aos resultado das eleições'; para o venezuelano, extrema direita é responsável por violência

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Maduro havia dito que a derrota do governo poderia levar a uma situação de instabilidade e violência provocada "pelos fascistas" - Prensa Presidencial

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rebateu nesta terça-feira (23) as críticas sobre sua fala em relação ao “banho de sangue”. Em discurso de campanha, o chefe do Executivo disse que “quem se assustou, que tome um chá de camomila”.  "Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. (...) Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita", afirmou. 

Ainda no palco, Maduro explicou que o “banho de sangue” a que ele se referiu seria promovido pela própria direita. "Eu disse que se a extrema direita chegasse ao poder na Venezuela haveria um banho de sangue. E não é que eu esteja inventando, é que já vivemos um banho de sangue, em 27 e 28 de fevereiro", afirmou o presidente.

A data usada por Nicolás Maduro faz referência ao Caracazo, movimento realizado em 1989 contra as medidas liberais do então presidente Carlos Andrés Perez. Ao todo, organizações sociais e familiares de vítimas contabilizaram 396 mortes a partir dos confrontos daqueles dias. Maduro disse que a história mostrou que esse tipo de atitudes é “um banho de sangue. Foi isso que alertei esses dias”. 

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Na última quinta-feira (18), durante um ato de campanha, o presidente venezuelano disse que a derrota do governo poderia levar a uma situação de instabilidade e violência provocada "pelos fascistas", afirmando que o país poderia cair em uma “guerra civil” e ocorrer "um banho de sangue" caso o governo saia derrotado.

“O destino da Venezuela, no século 21, depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantimos o maior sucesso, a maior vitória na história eleitoral do nosso povo”, afirmou em discurso.

No dia seguinte, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, justificou a fala de Maduro e afirmou que a possibilidade de conflitos se daria porque a parte mais extremista da oposição perseguiria os chavistas caso chegasse ao poder. Ele ainda garantiu que o governo vai reconhecer o resultado das eleições e vai sair às ruas para defender o resultado “nem que seja com a nossa própria vida”.

Nesta segunda-feira, Lula pediu que os resultados das eleições presidenciais venezuelanas sejam amplamente respeitados para que o país possa "voltar à normalidade". As declarações foram dadas em entrevista às agências de notícias internacionais Bloomberg, Reuters, AFP, EFE, AP e Xinhua

“Eu disse a [Nicolás] Maduro que a única possibilidade de a Venezuela voltar à normalidade é haver um processo eleitoral amplamente respeitado”, disse Lula, segundo a AFP. "Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição".

A oposição da Venezuela tem como principal nome o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. A campanha, no entanto, é liderada pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado. Ela está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que apresentou no período em que foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014). 

Em junho, oito dos 10 candidatos assinaram um acordo para respeitar o resultado das eleições. Edmundo se recusou a participar e não assinou o documento. Além dele, Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho