Diplomacia

Na China, chanceler da Ucrânia diz que país está pronto para negociar paz com Rússia

Em visita a Pequim, chanceler ucraniano diz que está aberto ao diálogo, mas só quando Moscou quiser negociar de 'boa fé'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, durante coletiva de imprensa com o secretário-geral da Otan - Valeria Mongelli / AFP

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, realizou uma visita à China na última terça-feira (24) e se reuniu com o chanceler chinês, Wang Yi, para discutir formas de alcançar uma "paz justa" na guerra com a Rússia.

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da China declarou que Kiev mostrou prontidão para negociação com Moscou. 

"O lado ucraniano está pronto para o diálogo e negociações com o lado russo. É claro que as negociações devem ser razoáveis ​​e substantivas, visando alcançar uma paz justa e duradoura", disse Kuleba, segundo a nota do Ministério das Relações Exteriores da China.

De acordo com a diplomacia chinesa, o ministro Kuleba afirmou que Kiev "estudou cuidadosamente" o plano de paz que a China e o Brasil apresentaram em maio de 2024.

Em meados de maio, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta para promover negociações de paz que contassem com a participação da Ucrânia e da Rússia, visando uma "participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz". 

:: Em Pequim, Orban diz que China é 'potência fundamental' para obter a paz na guerra entre Rússia e Ucrânia ::

De acordo com um interlocutor da delegação ucraniana, citado pela agência Reuters, a reunião entre Kuleba e Wang Yi durou mais de três horas. A publicação aponta que o encontro levou "mais tempo do que o planejado" e foi uma "conversa muito profunda e específica". 

Já o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, por sua vez, comunicou que Kuleba "provou a posição consistente da Ucrânia". Segundo a nota, Kiev manifestou a sua disponibilidade para conduzir um processo de negociação com o lado russo "numa determinada fase, quando a Rússia estiver pronta para negociar de boa fé". A diplomacia ucraniana destacou, entretanto, que até agora tal disponibilidade "não foi observada em o lado russo".

O chanceler reforçou a condenação da agressão russa contra a Ucrânia, destacando que "cada novo dia de guerra acarreta novas violações da humanidade e maior erosão da justiça". "Portanto, é necessário acabar com a guerra contra a Ucrânia, restaurar a paz e acelerar a restauração do nosso Estado", completou. 

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também comentou os resultados da visita do ministro ucraniano à China e reiterou que Moscou "nunca recusou negociações" com Kiev. De acordo com ele, as informações publicadas pela diplomacia chinesa sobre a disposição ucraniana de negociar, em princípio, correspondem à posição russa.

"A mensagem em si, pode-se dizer, está em uníssono com a nossa posição. Vocês sabem que a parte russa nunca recusou negociações. Ela sempre permaneceu aberta. Detalhes que ainda não sabemos são importantes aqui, aguardaremos mais esclarecimentos", disse Peskov. 

No final de junho, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que Kiev só poderia manter conversações de paz com o presidente russo, Vladimir Putin, através de intermediários. 

Já Putin disse em 14 de junho que a Rússia estaria pronta para interromper as hostilidades na Ucrânia se várias condições de Moscou fossem atendidas. De acordo com o presidente, a Rússia poderia adotar um cessar-fogo imediato caso a Ucrânia retirasse suas tropas do território das regiões anexadas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye, se abandonasse os planos de adesão à Otan e se o Ocidente suspendesse as sanções contra a Rússia.

Edição: Lucas Estanislau