A internet é um território que a gente deve ocupar, mas de maneira ética e respeitosa
Diversas redes de ensino brasileiras tem adotado a medida de proibir o uso de celulares nas escolas. Tanto na sala de aula quanto nos recreios, os aparelhos eletrônicos tem distraído e ocupado o tempo das crianças de maneira preocupante. Mas proibir o uso dos smartphones ao invés de estabelecer boas práticas de uso é o melhor caminho para a nova geração hiperconectada?
Neste episódio do Radinho BdF, a jornalista Camila Salmazio, apresentadora do podcast, conversou com crianças de diferentes idades e regiões do país para saber a opinião deles sobre o assunto, público que é pouco ouvido nas decisões governamentais. A nova temporada do programa também traz uma novidade: a "presença digital" chamada i.v.i 3.0, que interage trazendo um toque de humor e informação ao programa.
Mesmo que os dispositivos possam trazer alguns benefícios educacionais, é essencial que os responsáveis pelos pequenos também estejam cientes de que há riscos no uso excessivo das telas. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) faz esse alerta e cita exemplos de países onde os smartphones são proibidos em salas de aula.
A Unesco indica que a exposição aos dispositivos celulares pode atrapalhar a capacidade de concentração e socialização dos estudantes, além de estar relacionada à baixa disciplina e instabilidade emocional.
A equipe do Radinho conversou com a Vitória Ferreira Santos, de 11 anos, que está no sexto ano do ensino fundamental e mora na ocupação 9 de Julho na cidade de São Paulo. "Diz a minha mãe que escola é lugar de estudar e que não deve levar celular, que a escola é realmente para estudar, então, não dá pra ficar levando celular", opina Vitória.
Ela parece não concordar muito com as regras estabelecidas pelos pais: "Olha, na minha opinião, eu levaria o celular, mas não mexeria na sala, porque na sala não pode".
Proibir é a solução?
Algumas cidades e estados brasileiros já proibiram o uso total do celular nas escolas, como Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo, Roraima, Paraná, Maranhão, Rio Grande Do Sul, Distrito Federal e Tocantins.
Olivia Lucero, de 12 anos, mora no Rio de Janeiro e estuda em uma escola particular, onde também é vetada aquela olhadinha nas redes sociais durante a aula. "Você pode levar, só que tem que ficar silenciado na sua mochila, ou ele tem que ficar nos escaninhos que eles providenciaram".
Ela justifica levar o celular para a escola pela necessidade de comunicação com os pais. "É porque eu não moro perto da minha escola. Aí eu levo porque às vezes eu volto com o pai de uma amiga e eu tenho que ligar e dizer: 'ah, está tudo certo, vou voltar mesmo.'"
Para Bruno Ferreira, jornalista, professor e coordenador pedagógico do programa EducaMídia, a escola é um dos melhores lugares para as crianças e adolescentes aprenderem a usar o celular de maneira responsável. "A escola é um lugar que a gente aprende sobre muita coisa e lá a gente pode discutir também a internet, a cultura digital e o celular, sem necessariamente estar conectado o tempo inteiro."
A proibição completa dos celulares não é a solução, segundo ele. "A internet não é só um território que a gente deve mapear e entender para acessar, mas é um território que a gente também tem que ocupar". Ele lembra que é preciso ocupar "de uma maneira respeitosa, de uma maneira ética".
Ouça o episódio:
Na escola particular em que Bernardo Arruda, de 12 anos, estuda no Rio de Janeiro, ele achou que o recreio passou a ficar mais interessante depois que proibiram o uso dos aparelhos eletrônicos. "Vejo que as pessoas são mais unidas, jogam futebol, fazem as coisas mais juntas em vez de ficar só vidrado na tela."
Dependência de telas
Hoje, não existe uma lei que regulamente o uso dos aparelhos entre os jovens. Mas, para o Radinho BdF, as crianças contam que o uso prolongado dos celulares pode levar à dependência. A Olívia, por exemplo, fala que chegou a desinstalar alguns aplicativos. "Antes eu fazia mais as coisas que eu gostava e aí eu estava parando um pouco de fazer, porque eu usava meu tempo com o celular", afirma.
Vitor Bosísio, de 12 anos, teve a mesma impressão que Olívia. "Alguns certos aplicativos, como o Instagram, o Facebook, TikTok, realmente podem prejudicar algumas crianças e adolescentes porque no momento que você abre o aplicativo começa a passar os vídeos, fotos, começa um ciclo que algumas pessoas não conseguem parar".
Sintonize
A nova temporada do Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, às 9h, nas principais plataformas de streaming. A edição também pode ser ouvida no site do Brasil de Fato.
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Edição: Thalita Pires