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'Bolsa Atleta é um divisor de águas no esporte olímpico', diz Leonardo Macedo, treinador de boxe da seleção brasileira

Com a terceira maior delegação da modalidade, Brasil chega em Paris com 10 atletas, sendo 9 cabeça de chave

Ouça o áudio:

Vitória de Robson Conceição, em 2016, quando conquistou o primeiro ouro do Brasil no boxe - Fernando Frazão/Agência Brasil

Até as Olimpíadas de Londres, em 2012, o Brasil havia conquistado apenas uma medalha no boxe, em 1968. O título ocorreu na Cidade do México, com Servílio de Oliveira garantido bronze.  

Foram 44 anos de jejum, até o que o Brasil deslanchou. De Londres para cá, o país conquistou sete medalhas em três edições.  

Inevitavelmente, a expectativa para este ano é grande. São 10 atletas brasileiros que competem em Paris, incluindo destaques como Beatriz Ferreira, Abner Teixeira, Keno Marley e Caroline Almeida. 

Nestes quase 50 anos nos quais que o Brasil não colecionou medalhas, porém, não faltaram nomes para abrilhantar o boxe nacional: Éder Jofre, Maguila e Acelino Freitas, o Popó. 

Para o treinador da seleção brasileira de boxe, Leonardo Macedo, a explicação para essa ascensão do esporte passa por diversos fatores. Ao citá-los, ele destaca um: o Bolsa Atleta.

“Eu sempre friso muito isso, a criação do Bolsa Atleta é um divisor de águas no esporte olímpico brasileiro. É um investimento, uma segurança que o atleta tem para que ele possa se dedicar ao esporte, então sem sombras de dúvidas isso é um ponto fatorial”, disse em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (26). 

A política pública que garante uma remuneração mensal para atletas brasileiros foi criada em 2004, contemplando, inicialmente 975 esportistas. Atualmente o programa atende 9.075 bolsistas, com valores que variam de R$ 410 a R$ 16.629,99 mensais, considerando o reajuste de 10,8%, divulgado pelo governo federal no dia 11 de julho.

Macedo compõe a Confederação Brasileira de Boxe desde 2017, logo após os Jogos do Rio, que ele considera outro ponto importante para impulsionar o esporte. 

O treinador cita também “uma maior organização da própria Confederação, gerindo melhor os recursos, uma implementação de um modelo baseado na escola cubana”. 

O Brasil estreia na modalidade em Paris com Keno Marley, nos 92kg, que começa a caminhada no dia 28 de julho contra o britânico Patrick Brown. No feminino, a estreia será com a vice-campeã olímpica Beatriz Ferreira, que pode enfrentar na estreia dos 60kg a estadunidense Jajaira Gonzalez, semifinalista no Pan de Santiago, já no 29 de julho 

Com 10 atletas em 10 categorias, o Brasil é a segunda delegação que mais classificou pugilistas para os Jogos de Paris, ficando atrás somente de Austrália e Uzbequistão. 

Macedo e Adailton dos Santos Gonçalves compõe a equipe técnica junto com Mateus Domingues Alves, o head coach e Felipe Romano, o chefe de equipe. 

Além do Bolsa Atleta, o treinador brasileiro enfatiza como a cultura cubana foi fundamental para elevar o nível no boxe no Brasil. 

“Cuba revolucionou o boxe olímpico, não só no Brasil, como de uma maneira geral. Com a revolução [cubana], eles deram uma prioridade no investimento nos esportes, na saúde, na educação, e consequentemente o boxe, que se tornou um desses carros-chefes”. 

Confira a entrevista na íntegra  

Como você avalia a forma como o boxe brasileiro chega às Olimpíadas de Paris 2024?

A gente vem com expectativa alta. Nos últimos ciclos olímpicos, desde Londres, a gente vem conquistando medalhas. 

Foram três medalhas em Londres, uma medalha no Rio e três medalhas de novo em Tóquio. 

Então, hoje em dia, as pessoas, outros países e o próprio Comitê Olímpico Brasileiro têm um olhar diferente para o trabalho do Boxe, colocando como uma modalidade que tem [boas] expectativas.

Consequentemente isso põe, vamos dizer, uma pressão para a gente estar repetindo esse feito. Obviamente que não é fácil. Às vezes as pessoas, até por uma falta de conhecimento de cultura esportiva, acabam achando a que três medalhas é pouco, e na verdade é muita coisa. 

Como foi sua chegada na seleção?

Eu entrei na equipe a partir de 2017. Foi uma reformulação que houve na Comissão Técnica após os jogos do Rio, mas desde sempre trabalho com boxe olímpico, então mesmo sem estar efetivamente na seleção eu trabalhava no desenvolvimento da modalidade. 

Eu costumo dizer que o nosso trabalho [de técnicos da seleção] é também um reflexo dos inúmeros trabalhadores do boxe brasileiro. A gente tá ali representando. 

Não dá pra levar todo mundo, então a seleção nada mais é do que a representação do trabalho de muitos outros treinadores também. 

Esse nosso resultado é multifatorial. Maior investimento público, a criação do Bolsa Atleta... eu sempre friso muito isso, a criação do Bolsa Atleta é um divisor de águas no esporte olímpico brasileiro. 

É um investimento, uma segurança que o atleta tem para que ele possa se dedicar ao esporte. Então sem sombras de dúvidas isso é um ponto fatorial. 

[Também há] uma maior organização da própria Confederação, gerindo melhor os recursos, uma implementação de um modelo baseado na escola cubana. Os treinadores brasileiros aprendendo muito mais a parte técnica e desenvolvendo os atletas da categoria de base, chegando com maior qualidade. 

Com certeza essas são a grande diferença para a gente estar conseguindo bons resultados ao longo dos anos.  

As Olimpíadas do Rio foram um incentivo financeiro e de apoio também?

É como eu te disse, é multifatorial. Sobre o Rio... obviamente que a gente pode ter críticas quanto ao legado, quanto a algumas coisas que poderiam ter sido melhores, mas indiscutivelmente a realização do jogo Pan Americano em 2007, a realização do jogos Olímpicos em 2016, a criação do Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio, o programa do Paar [Programa Atletas de Alto Rendimento] das forças armadas também [foram um incentivo].

Dos 10 atletas do boxe, todos recebem Bolsa Atleta?

Todos recebem Bolsa Atleta de categorias diferentes. Alguns recebem o Bolsa Pódio, que é quando o atleta está ranqueado entre os 10 do mundo, outros recebem o Bolsa Internacional.  

A gente também tem o grupo de apoio que hoje nós trabalhamos com 28 atletas, no total. E os que não recebem o Bolsa Pódio ou Bolsa Atleta Internacional, também recebem o Bolsa Atleta Nacional.  

Financeiramente também há o apoio da Confederação, alguns contam com patrocínios particulares e outros também são integrante do Paar, que é um programa das Forças Armadas, que acaba também tendo esse auxílio financeiro.  

Então hoje o atleta olímpico consegue capitalizar esses rendimentos de várias fontes e aí no juntar desse montante ele consegue ter um ganho que realmente traz a tranquilidade de poder se dedicar único e exclusivamente ao esporte. 

Você percebe um reconhecimento dos atletas desses programas públicos?

Eu acho que eles têm um pouco da consciência da importância dos programas de incentivo ao esporte, mas eu não sei se eles têm um senso tão crítico assim, de saber o que é política pública, o que é investimento privado, o que não é. 

No final o atleta tem realmente a ideia que ele quer ganhar. Meio que não importa da onde, como é feito, mas ele quer ter um retorno financeiro. Mas a gente sempre tenta conversar, falar, explicar de onde vem o dinheiro. 

Qual é a história do boxe no Brasil? Você considera um esporte popular? 

Eu acho que todo esporte parte da premissa da cultura do país. O Brasil, por exemplo, é inegavelmente o país do futebol. A gente tem até uma monocultura muito grande do futebol e acaba tendo um pouco de dificuldade em outras modalidades de brigar com a popularidade do futebol em si. 

Mas o boxe, eu também costumo dizer que é o futebol das lutas, de uma maneira geral, um esporte muito antigo, muito tradicional.

O boxe teve ali nos anos 30, 40, até os anos 50, que são os anos pré-Éder Jofre e a era Éder Jofre, quando realmente o boxe era um esporte muito, muito, muito, muito popular, né? Tinha o evento no ginásio do Pacaembu, no ginásio do Ibirapuera, eram eventos televisionados. 

Os jornais estampavam as notícias na capa do jornal, falando dos boxeadores, ali até a década de 90. A gente teve o Maguila, a gente teve o próprio Acelino Freitas, o Popó. A gente veio de uma cultura forte do boxe, e ela foi caindo por diversos motivos também. 

Uma falta de renovação, um pouco de culpa de dirigentes também, uma gestão da modalidade como um todo. E o boxe acabou perdendo um pouco do espaço midiático. 

Também o surgimento do MMA no final da década de 90, começo dos anos 2000. O brasileiro abraçou bastante essa modalidade e o boxe acabou ficando um pouco, vamos dizer assim, escondido 

Qual é a importância de Cuba para o boxe brasileiro?

Cuba revolucionou o boxe olímpico, não só no Brasil, como todo de uma maneira geral. Com a revolução [cubana], eles deram uma prioridade no investimento nos esportes, na saúde, na educação, e consequentemente o boxe, que se tornou um desses carros-chefes.  

E eles criaram realmente uma metodologia, toda elaborada, pensada dentro das academia, das universidades. E de lá muitos treinadores migraram e saíram divulgando isso, trabalhando em diversos países.  

O Brasil teve alguns treinadores [cubanos]. O Otílio [Manuel Olivé] Toledo e o Paco Garcia, dois treinadores que ajudaram muito, desenvolveram o pensamento do boxe brasileiro, com quem eu tive a honra e prazer de aprender muito.  


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Edição: Nathallia Fonseca