Julho das pretas

Bem Viver: 'A branquitude sempre cuidou de assunto de preto', afirma Elisa Lucinda

No julho das pretas, programa traz uma conversa especial com a artista sobre carreira e representatividade

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Bem Viver traz um bate-papo com a multiartista Elisa Lucinda sobre carreira e representatividade preta - Marina Duarte de Souza / Brasil de Fato

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, o Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz uma conversa especial com a multiartista Elisa Lucinda, uma amante da língua portuguesa. Seja na poesia, escrita, ou nos palcos e televisão, ela se expressa tirando a dor e o riso mais sensível de quem a assiste.

São mais de três décadas de dedicação que lhe renderam prêmios no cinema, no teatro e principalmente no imaginário da população brasileira por ter consagrado tantas personagens nas novelas. Em 2020, Elisa Lucinda recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Gramado. E, no ano passado, o Troféu Raça Negra, como melhor atriz, pela atuação na peça Parem de Falar Mal da Rotina.

"É seguro o boca a boca dele [espetáculo]. Se chegar em casa você vai ver que seu marido veja, que seu filho veja, que seu pai veja, que seu patrão veja, que a tua amiga veja, que a tua irmã. É muito louco, que são vários temas e em algum você conhece alguém ao qual esse tema é necessário. Então eu acho que o Parem de Falar Mal da Rotina para mim é um remédio, uma arte, que é um remédio engraçado, que você serve até pra mim. Eu tenho saudade, eu preciso fazer também. Pra fazer aquele brinde, a vida, ao inédito e à estreia", conta ela.

O espetáculo está há mais de 20 anos em cartaz, já virou livro e está com uma nova temporada pelo país, sempre "se renovando", como define Elisa. Hoje, a artista está com um documentário biográfico em produção com a cineasta Glenda Nicácia, diretora da obra premiada Café com Canela juntamente com Ary Rosa.

"Fui ver o filme dela, Café com Canela, e ouvi pela primeira vez o som do cabelo crespo, o meu cabelo, no cinema brasileiro. E eu me toquei que tinha visto milhares de filmes com escova no cabelo de liso. Eu me emocionei. Pra minha sorte, ela quer fazer um documentado da minha vida, eu adoro o olhar dela. Ela é poeta. E ela é poética e poeta na vida real. Eu estou muito feliz, acredito que ano que vem a gente tem o filme", celebra Elisa.

Falando sobre representatividade preta na televisão, a artista interpretou, recentemente, a personagem Marlene na novela Vai na Fé da Rede Globo, a primeira dramaturgia brasileira com a maioria do elenco composto por pessoas negras.

"É que a proporção é desproporcional. Pelo dano causado e contínuo, e que não para, e que acontece hoje, isso é nada. Mas, diante do tamanho do esquema, nós, eu e todos os pretos desse Brasil vivemos num jogo roubado, porque é isso, você é excluído pela cor da pele de longe nem sabe. O pedaço, que agora a gente andou, pode não ser tão grande, mas ele é muito importante. Está ficando feio ter filmes sem preto. A branquitude sempre cuidou do assunto de preto, sem a nossa opinião. Roterizando, dirigindo e interpretando como o Sérgio Cardoso fez pintando a cara de preto. Então chegar na Globo para fazer essa novela era caminhar na minha utopia. Eu nunca entrei lá com tanto preto. Eu nunca tinha visto tanto preto na TV brasileira."

Elisa ainda tem muita ambição, para seguir combatendo o racismo por meio da arte, ao mesmo tempo que celebra as conquistas vivenciadas, sem esquecer das que vieram antes.

"Isso já era a confiança no que Zezé Mota já tinha aberto, Léa Garcia, Ruth de Souza tinha aberto, o que Chica Xavier tinha aberto, sabe? Nós temos muito que ocupar. Muitas atrizes antes de nós choraram a vida inteira nos seus quartos porque passaram a vida fazendo uma empregada doméstica. Sempre a mesma. 'Boa tarde, Dona Heloisa, quer comer, Dr. Fausto?'. Sendo uma grande atriz, querendo fazer alguma coisa que tivesse algum arco dramático para passar a novela inteira falando isso, é muito cruel, é reproduzir a escravidão na ficção. Isso é um dívida que a humanidade tem com a gente. Dia 25, pra mim, é um dia de bater esse tambor, o tambor da gratidão por África", afirma.

Confira a entrevista completa no programa.

E tem mais...

O Bem Viver mergulha ainda na ancestralidade das mestras e griôs do Distrito Federal, mulheres revolucionárias que dedicaram a vida pelo coletivo e pela resistência de cultura, identidade e tradições.

O programa chega na agricultura, no cuidado com a terra, a relação com a natureza da "afroecologia" nos assentamentos da Reforma Agrária no Pernambuco.

E, é óbvio, que não ia ficar de fora uma receita bem nossa: é uma moqueca de banana com a chef Gema Soto.

Quando e onde assistir? 

No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.

Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.

Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.

Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET. 

Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET. 

Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital. 

Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital. 

Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET. 

TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17. 

Sintonize

No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.

O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.

Edição: Nicolau Soares