NAS RUAS

Caracas registra protestos após oposição alegar fraude eleitoral: 'É claramente uma tentativa de golpe', diz analista

Manifestações atingiram diversos pontos da capital venezuelana na tarde desta segunda (29)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Grupos protestam na cidade de Valencia, província de Carabobo - Juan Carlos HERNANDEZ / AFP

Horas depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarar a vitória de Nicolás Maduro na disputa para a presidência e da oposição, representada por Edmundo González Urrutia, contestar os números, uma série de protestos eclodiu pelo país. As manifestações, concentradas principalmente na capital, Caracas, se intensificaram ao longo desta segunda-feira (29), mas diminuíram com o cair da noite.

"Eu vivo relativamente perto do centro e agora, durante a tarde, era frequente ouvir tiros e detonações, por exemplo, de bombas de gás lacrimogêneo", relata o jornalista Ricardo Vaz, editor do site Venezuelanalysis, focado em análises políticas do país, e morador de Caracas há cinco anos. O jornalista relata que as manifestações, até então, estão dispersas e organizadas em pequenos grupos, embora tenham ganhado força no decorrer do dia.   

No fim da tarde, um grupo de manifestantes encapuzados se aproximou do Palácio de Miraflores, sede do governo Venezuelano, atirando pedras. "Mas também parece que a polícia conseguiu mantê-los controlados", diz.

Em pronunciamento nesta tarde, a líder da oposição María Corina Machado argumentou que o CNE teria se precipitado ao declarar o resultado da disputa com 80% das urnas apurados e antes da checagem dos votos. Ela afirma que González recebeu 6,2 milhões de votos, contra 2,7 milhões de Maduro, mas não deu informações sobre como conseguiu esses números. Assim como o Brasil, a Venezuela usa a urna eletrônica, mas no sistema venezuelano o voto é também impresso: os eleitores recebem um comprovante, que é depositado numa urna fiscal para a conferência posterior.

Na análise de Ricardo, a declaração de Corina faz parte de uma plano para um golpe de Estado. "Isto é claramente uma tentativa de golpe. A oposição já disse que ganhou as eleições. Supostamente, hoje à noite vão publicar algumas atas que eles dizem que têm. É preciso lembrar que isso não é oficial", ressalta. O CNE ainda não publicou os resultados completos das eleições venezuelanas.

Segundo o jornalista, no fim da noite, as manifestações em Caracas já estavam mais contidas. "Hoje à tarde, depois dessas primeiras escaramuças perto de do Palácio de Miraflores [sede do governo], houve uma grande concentração com alguns dos principais líderes do Partido Socialista, que chamaram uma vigília permanente nos arredores do Palácio para defenderem-se de qualquer intenção violenta", diz. Além disso, ele relata que o chavismo convocou sua militância para o Miraflores nesta terça, numa "demonstração de força para defender a vitória do Maduro".

Para Ricardo, é possível traçar paralelos entre a situação atual e as chamadas "guarimbas", manifestações violentas da oposição de direita ao chavismo que ocorreram em 2014 e 2017. No entanto, ele avalia que o cenário atual é mais complexo. "Agora, [os protestos] acontecem num contexto de muito mais tensão, que é o dia seguinte a uma eleição presidencial que a oposição diz que ganhou", explica. "Então, nesse sentido, os nervos estão muito mais à flor da pele."

Caracas expulsa diplomatas

Na tarde desta segunda-feira, o governo venezuelano informou que decidiu expulsar os representantes diplomáticos de sete países que contestaram o resultado das eleições no país: Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.

Em comunicado, o governo criticou os países que não reconheceram a vitória de Maduro, classificando o fato como atentado contra a soberania nacional e criticando o que denominou "pronunciamentos intervencionistas". De acordo com a nota, serão promovidas "todas as ações legais e políticas para fazer respeitar, preservar e defender" o direito inalienável da autodeterminação.

"A República Bolivariana da Venezuela manifesta sua rejeição mais firme diante das declarações de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington e comprometidos abertamente com os postulados ideológicos mais sórdidos do fascismo internacional, tentando reeditar o fracassado e derrotado Grupo de Lima, que pretende desconhecer os resultados eleitorais dos Comícios Presidenciais ocorridos este domingo", diz o comunicado, acrescentando que o governo irá enfrentar todas as ações que atentem contra o clima de paz na Venezuela.

Com informações da Agência Brasil

Edição: Nicolau Soares