Oriente Médio

Assassinato de líder do Hamas em Teerã: Israel busca escalar guerra para envolver EUA, diz analista

Casa Branca afirmou que não prevê escalada 'iminente' no Oriente Médio após ataques de Israel

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ismail Haniyeh, então primeiro-ministro palestino, acena para os partidários do Hamas durante um comício na Cidade de Gaza, em 6 de outubro de 2006 - MOHAMMED ABED / AFP

O assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque aéreo em Teerã, na madrugada desta quarta-feira (31), faz parte de uma escalada do conflito, por parte do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para atrair a participação de seu principal aliado, os Estados Unidos. A análise é de Mohammed Nadir, professor da Universidade Federal do ABC.

"Netanyahu está apostando numa guerra regional globalizada, e tudo isso está sendo feito para arrastar os Estados Unidos. A pergunta que se coloca é se os EUA estão  preparados para essa guerra".

A postura estadunidense tem sido de reserva até o momento. A Casa Branca disse não ter informações sobre o assassinato de Haniyeh e afirmou que não prevê escalada "iminente" no Oriente Médio após ataques de Israel."Estes informes das últimas 24h, 48 horas certamente não ajudam a baixar a temperatura" no Oriente Médio, disse o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, durante uma coletiva de imprensa. "No entanto, não há sinais de que uma escalada seja iminente", acrescentou.

"Isto é um sinal de que os EUA não querem ser arrastados para uma guerra global que pode ter consequências nefastas na região e também para eles. Não esqueçamos que os EUA perderam duas guerras, no Afeganistão e no Iraque. Eu não vejo que nesse cenário atual, os EUA queiram entrar numa guerra global, arrastados por Netanyahu", aponta Nadir.

Netanyahu, disse nesta quarta, que Israel desferiu “golpes esmagadores” contra o Hezbollah e o Hamas, referindo-se a um ataque que matou um oficial sênior do Hezbollah em Beirute na terça-feira (30), mas não chegou a reivindicar a responsabilidade pela morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã. O Hezbollah confirmou a morte do comandante Fuad Shukr, mais de 24 horas depois que um ataque israelense atingiu um bairro densamente povoado nos arredores da capital do Líbano. 

Haniyeh, o chefe da ala política do Hamas, foi morto na madrugada de quarta-feira. "A importância dele para o braço político do Hamas é de fato enorme, ele tinha aquela carisma de líder e não sei se o Hamas consegue encontrar um substituto para ele de uma forma rápida", avalia Nadir.

Uma possível substituição apra Hamieh, segundo Nadir, seria Khaled Meshaal, considerado um dos fundadores do Hamas e membro do seu gabinete político desde o início. Meshaal sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 1997, por parte do Mossad, serviço secreto israelense. A mando de Netanyahu, agentes israelenses entraram na Jordânia e tentaram envenenar Meshaal em Amã, capital do país.

Devido à repercussão internacional do episódio, e pressionado pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, Netanyahu atendeu ao pedido do hoje falecido rei jordaniano Hussein bin Talal e enviou o antídoto para a substância tóxica que tinha sido injetada em Khaled Meshaal.

"De certa forma, o Meshaal ganhou uma nova vida. Então o Hamas tem esse líder histórico, que possivelmente vai substituir Haniyeh."

*Com AFP e Washington Post

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho