CRISE

Petro pede verificação de resultado eleitoral e acordo entre governo e oposição na Venezuela

Aliado de esquerda propôs que vencedor se comprometa a não perseguir derrotado no pleito

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
A Colômbia vem adotando posição similar a de Brasil e México - X @petrogustavo

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, pediu nesta quarta-feira (31) que o resultado das eleições venezuelanas seja verificado de forma transparente, para por fim à crise na qual o país mergulhou desde o anúncio da reeleição de Nicolás Maduro. Ele sugeriu ainda que governo e oposição se comprometam a não perseguir o lado derrotado no pleito.

"Convido o governo venezuelano a permitir que as eleições terminem em paz, permitindo um escrutínio transparente com contagem de votos, atas e supervisão por todas as forças políticas do seu país e supervisão internacional profissional", disse Petro na rede X.

"As graves dúvidas que se estabelecem ao redor do processo eleitoral venezuelano podem levar o seu povo a uma profunda polarização violenta com graves consequências", acrescentou Petro, que evitou até agora se pronunciar diretamente sobre as eleições. 

O primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia sugeriu também “um acordo entre o governo e a oposição que permita o máximo  respeito pela força que perdeu as eleições”. Petro pediu ainda ao governo dos EUA que interrompa as sanções econômicas contra a Venezuela, pois as considera uma “medida anti-humana que só traz mais fome e mais violência”.

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Na terça, o chanceler colombiano, Gilberto Murillo, havia pedido que autoridades eleitorais colombianas divulgassem as atas que comprovariam o resultado do pleito. O pedido se soma ao de outros países, de aliados como Brasil e México, a hostis como os Estados Unidoso, para a divulgação das atas.

Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?

A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com 80% das urnas apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram irreversíveis.

No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. "Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho", disse. Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.

Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma "fraude eleitoral" e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números. Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.

O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como  uma "tentativa de golpe de Estado". Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de "fraude eleitoral" e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.

Eles ainda alegaram estar em posse de 73% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site. A página, no entanto, não permite uma consulta ampla aos comprovantes e é impossível checar por conta própria a veracidade da narrativa opositora.

Até às 12pm do dia 31 de julho, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização das atas. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.

Edição: Rodrigo Durão Coelho