O sonho ajuda a gente a navegar o barco que é a vida
Dormir é mais do que apenas descansar o corpo, é uma oportunidade para a mente explorar diferentes realidades através dos sonhos. O subconsciente pode nos levar a lugares onde nunca estivemos, criar monstros e criaturas assustadoras, ou até mesmo nos dar pistas para resolver problemas reais.
Neste episódio do podcast Radinho BdF, mergulhamos no universo dos sonhos para descobrir o que se passa na nossa cabeça enquanto dormimos. A jornalista Camila Salmazio, apresentadora do programa, conversou com Sidarta Ribeiro, neurocientista e biólogo que se dedica ao estudo dos sonhos.
"Todo mundo sonha, mas muita gente não se lembra. E muita gente acha que é assim porque essa pessoa não sonha, mas, na verdade, ela não percebe que sonha, ela só não lembra", comenta Sidarta.
O especialista explica que enquanto dormimos passamos por duas fases diferentes: o sono leve, quando as atividades cerebrais são baixas e os sonhos, sem imagens; e o sono profundo, ou sono REM, onde temos maior atividade cerebral, responsável por construir as cenas na nossa cabeça.
Victória Ferreira dos Santos, de 11 anos, conta que muitas vezes os seus sonhos não fazem sentido. "Olha, eu não entendo essa área de sonhos, porque, como eu disse, eu não lembro muito dos meus sonhos. Eu não sei para que servem, porque só coisa estranha acontece", diz.
Entretanto, Sidarta explica que, mesmo confusos, os sonhos podem nos dar avisos ou ajudar na preparação para o dia a dia. "Nem sempre essa preparação é muito óbvia, nem sempre a gente entende o que o sonho pode estar querendo dizer. E quando a gente entende o que o sonho quer dizer e, às vezes, ele quer dizer mais de uma coisa [...], ele ajuda a gente a navegar o barco que é a vida."
Os sonhos nas variadas crenças
Diferentemente do que as civilizações ocidentais passaram a acreditar, os sonhos são muito importantes, principalmente, porque eles nos dão pistas de como o nosso cérebro funciona. "Foi só nos últimos 500 anos, mais ou menos, principalmente na Europa e, depois, com a colonização europeia de várias partes do planeta, que se espalhou a ideia de que os sonhos são besteira", afirma o neurocientista.
Em outras culturas, as mensagens enviadas pelo nosso subconsciente são de extrema importância. Na religião Candomblé, por exemplo, os sonhos podem ser interpretados como uma orientação dos orixás, divindades de povos africanos incorporadas por muitas religiões brasileiras de matriz africana.
Sofia Gomes, de 8 anos, é candomblecista e acredita que os sonhos podem nos auxiliar com coisas práticas do cotidiano. "Eu acho que eles servem para encontrar as coisas, assim, vou dar um exemplo: uma vez eu estava num sítio e 'você' perdeu o seu brinquedo. Aí no sonho, talvez 'você' consiga achar onde perdeu essa coisa. Aí, quando você acorda, você pode procurar", disse.
Outro exemplo, aqui no Brasil mesmo, são os povos indígenas. A equipe do Radinho BdF foi à aldeia Tekoa Pyau, em São Paulo (SP), para entender como os sonhos são interpretados por eles.
Yvoty, de 29 anos, que nasceu e cresceu na aldeia, dentro da tradição guarani, explica: "a gente tem muita essa conexão com o espiritual, né? E sobre essa questão dos sonhos, a gente acredita muito que tem sinais sobre o que vai acontecer. Então, um sonho é muito importante pelo fato de que é algo relacionado aos espiritual, né?".
Todos os dias, eles se reúnem para contar os sonhos uns aos outros e pedir conselhos aos mais velhos sobre o que significa as mensagens do inconsciente, como uma forma de conexão com Nhanderu, que significa Deus em guarani.
Transformar e lembrar dos sonhos
Os pesadelos também fazem parte desta equação, mas Sidarta afirma que é normal ter sonhos ruins. "Toda criança tem pesadelo. É claro que em algumas situações tem alguma coisa muito errada, e aí o pesadelo é uma coisa que tem a ver com alguma coisa que tem que ser feita na vida da criança."
Para ele, é possível transformar os sonhos. "Quando você está no sonho com medo e você lembra que aquilo é um sonho, você cria possibilidade de parar de ter medo, porque você fala: 'bom, tá com cara de monstro, mas não é real, é só um sonho'. Então, dá para começar a diminuir o medo."
O neurocientista afirma que, ao tomar essa consciência, é possível entrar no sonho lúcido. "É um sonho em que as pessoas percebem que estão sonhando e elas ficam lúcidas, [...] e aí quando elas percebem que estão sonhando, elas podem fazer o que elas quiserem ali dentro".
Sidarta também dá dicas para se recordar dos sonhos: "a primeira coisa que a gente pode fazer é tentar lembrar do sonho ao acordar de manhã, ficar bem quietinha, bem quietinho na cama, e levantar só depois que o sonho estiver bem claro na cabeça".
E, então, segundo o especialista, é preciso escrever seu sonho, gravar um áudio, "ou você pode fazer uma coisa melhor ainda que é contar logo para sua mãe, para o seu pai, para o seu irmão, para sua irmã e compartilhar".
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Edição: Martina Medina