Uma multidão acompanhou, nesta quinta-feira (1), o funeral de Ismail Haniyeh, líder do Hamas assassinado em Teerã, no Irã. A cerimônia de despedida de Haniyeh aconteceu na Universidade de Teerã e reuniu admiradores que carregavam cartazes com a foto dele e também bandeiras palestinas.
Ismail Haniyeh, que deve ser enterrado em Doha, capital do Catar, nesta sexta (2), foi morto após um bombardeio aéreo na madrugada desta quarta (31). O ataque foi atribuído a Israel pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que falou em vingança com "dura punição" ao governo de Benjamin Netanyahu.
Arturo Hartmann, pesquisador de Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe (CEAI-UFS), comentou como o assassinato de Haniyeh pode impactar a geopolítica no Oriente Médio. Com uma possível vingança, existe a preocupação com a escalada do conflito na região, que tem a Faixa de Gaza como palco da guerra entre Israel e Hamas desde outubro.
"A gente teria que pensar alguns aspectos. Primeiro, se o Irã teria condições de entrar numa guerra aberta, retaliar fisicamente o território israelense e aí entrar numa guerra com Israel. O Irã poderia entrar num conflito direto com Israel, mas existe um outro dado que é a entrada dos Estados Unidos. Obviamente os Estados Unidos entrariam ao lado de Israel. Aí é uma conta que o Irã teria que fazer se vale a pena, dentro do que aconteceu, dar esse passo", explica Arturo.
O pesquisador lembra da tensão entre Irã e Israel em abril. Naquele mês, um ataque israelense resultou na morte do comandante sênior da Guarda Revolucionária Iraniana, na Síria. Dias depois, o Irã lançou centenas de drones e mísseis contra Israel. No entanto, Hartmann pontua que o momento agora poderia apontar para uma situação mais grave.
"Em abril, teve um ataque meio encenado. Era um sinal de que era possível que o Irã atacasse Israel, mas Israel sabia com antecedência, os Estados Unidos sabiam com antecedência, foi quase uma coisa simbólica. Seria muito diferente do que aconteceu em abril. Seria muito além daquele", argumenta.
Arturo diz que seria necessário entender como outros atores se comportariam numa eventual escalada. "Teria que entender o envolvimento de outros atores regionais: Turquia; o Hezbollah, no Líbano; e até a China, que não me parece ser o caso de a China, apesar de ter condenado Israel, decidir entrar numa guerra aberta na região."
Com a perda do líder do Hamas, o pesquisador de Relações Internacionais ainda analisa como o grupo fica diante do conflito com Israel e as negociações sobre um cessar-fogo. Para Hartmann, o Hamas sabe dos riscos de perder líderes na guerra, o que já aconteceu antes e o deixa preparado para seguir estruturado.
"Eu acho que [a perda de Haniyeh] não enfraquece [o grupo]", opina. "De fato, acho que o Haniyeh faz falta no debate de negociação, mas o Hamas é estruturado. É estruturado porque ele sabe que a qualquer momento ele pode perder uma liderança assassinada por Israel. Isso desde o começo dos anos 90, desde o começo dos 2000."
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quinta-feira (01) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Nicolau Soares