América Latina

UE cometeu 'grande erro' ao manter sanções contra Venezuela e minar observação eleitoral no país, diz Celso Amorim

Assessor especial aponta presença tímida do Centro Carter: 'Como pode fazer uma observação pra valer com 17 pessoas?'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O assessor especial da Presdiência da República, Celso Amorim - Wilson Dias /Agência Brasil

A União Europeia cometeu um "grande erro" ao ampliar sanções contra a Venezuela e minar a possibilidade de observar as eleições do último domingo (28). Essa é a opinião de Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, que esteve no país vizinho durante o processo eleitoral.

Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da Rede TV, na quinta-feira (1), Amorim analisou que a presença da União Europeia teria ampliado significativamente os observadores internacionais no país, que ele considera, foi aquém do esperado.

"A União Europeia cometeu um grande erro, porque iria mandar observadores. O Maduro já tinha aceito, um número razoavelmente grande que cobriria todo o território. Ela tirou algumas sanções, mas não outras. É muito difícil você admitir observadores no país que mantém os seus líderes sob sanções. Isso é um erro. Com isso a União Europeia não foi e a observação eleitoral foi muito limitada."

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Como exemplo dessa limitação, Amorim aponta a presença tímida do Centro Carter, instituição estadunidense especializada em observação eleitoral internacional, com apenas 17 pessoas de sua equipe para acompanhar o processo. "O Centro Carter,  um órgão com que no geral nós temos trabalhado, foi, mas foi com 17 pessoas. Como você pode fazer uma observação pra valer com 17 pessoas?", questionou.

Em comunicado, Centro Carter afirmou na noite de terça-feira (30) que há "falta total de transparência" na divulgação dos resultados eleitorais na Venezuela. "O Centro Carter não pode verificar nem corroborar os resultados das eleições declaradas pelo Conselho Nacional Eleitoral", devido ao fato de a autoridade eleitoral não ter divulgado  os resultados "por seção eleitoral".

Apesar de criticar o número limitado de observadores do processo, Amorim aponta que a posição do Centro precisa ser levada em conta e afirma ter solicitado pessoalmente ao presidente venezuelano a divulgação dos dados eleitorais, solicitação com a qual Maduro teria concordado.

Impasse

O principal tema de discussão agora são as atas eleitorais. O sistema eleitoral do país ainda não divulgou o resultado segmentado das mesas eleitorais da Venezuela por um suposto ataque cibernético contra o sistema do CNE. Maduro também disse que esse "ataque hacker" precisa ser investigado.

O CNE tem um período de 30 dias para publicar o resultado completo das eleições no Diário Oficial. As atas, no entanto, não são publicadas. O que o órgão vai divulgar são os resultados compilados de cada mesa eleitoral, já que considera as atas um documento oficial que não pode ser publicado.

Outros governos têm afirmado que não é possível ter qualquer segurança sobre as denúncias da oposição sem que as atas sejam divulgadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a questão será completamente resolvida depois que forem divulgadas as atas.

"Se tem um problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse Lula à Globonews.

Na quarta, Maduro disse que o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) vai divulgar 100% das atas eleitorais recolhidas pelos seus fiscais em breve e pediu calma para esperar a auditoria dos resultados. Ele se colocou à disposição para prestar depoimento à Justiça venezuelana e, se preciso, ser investigado sobre o procedimento eleitoral.

Edição: Leandro Melito