Durante a convenção que oficializou sua candidatura à reeleição, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamaram o opositor Guilherme Boulos (Psol) de “invasor” e defensor da "ditadura na Venezuela".
"Tomar e invadir a maior prefeitura da América Latina? Não vai. São Paulo vai vencer esse perigo. Eu estou disposto, eu tenho coragem e tenho vocês. E vocês vão me ajudar a não entregar a cidade para um invasor e para quem defende a ditadura da Venezuela", disse Nunes, na manhã deste sábado (3), no estacionamento da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).
“O que nos une é perigo que o Psol representa contra a nossa sociedade, contra o povo de São Paulo. O que nos une é a ameaça de ver o Boulos como prefeito, que há poucos dias estava invadindo o Ministério da Fazenda, depredando a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], fechando estradas pelo Brasil inteiro. Nós não queremos isso. Nós nos unimos contra esse mal”, completou o prefeito.
Na mesma linha, Bolsonaro classificou Boulos como "alguém que nunca trabalhou na vida e que quando foi para as ruas foi para invadir a propriedade alheia, liberar maconha e aborto e perverter as nossas crianças com ideologia de gênero", utilizando jargões acusatórios bastante repetidos pela extrema direita.
Em resposta, o coordenador da campanha de Boulos, Josué Rocha, lembrou que Ricardo Nunes é investigado pela Polícia Federal por participar supostamente da chamada “máfia das creches, que desviou dinheiro do ensino infantil na Prefeitura de São Paulo. Até o momento, a PF já indiciou 111 suspeitos.
“Investigado por envolvimento num esquema de roubo de dinheiro de creches, Ricardo Nunes se agarra ao bolsonarismo para agredir seus adversários com mentiras e fake news em mais uma tentativa desesperada de esconder seus esquemas na prefeitura de São Paulo”, afirmou Rocha em nota enviada à imprensa após a convenção do MDB.
“Pior: ao melhor estilo bolsonarista, tentou censurar pelo menos 5 veículos de comunicação que noticiaram denúncias sobre o esquema. São Paulo não pode ficar refém do bolsonarismo”, concluiu.
A convenção do MDB contou com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do ex-presidente Michel Temer, também do MDB, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de representantes dos partidos da coligação, como Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, Paulinho da Força, presidente nacional do Solidariedade, e Baleia Rossi, presidente nacional do MDB.
A "Coligação Caminho Seguro por São Paulo" é formada pelos partidos MDB, PL, PP, PSD, Republicanos, União Brasil, Avante, Solidariedade, Agir, PRD, Podemos e Mobiliza. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também esteve presente, mas se absteve de dividir o palco com Jair Bolsonaro, uma vez que está proibido de falar com o ex-presidente após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O cacique do partido acompanhou os discursos na parte de baixo, acompanhado por assessores e militantes.
Apoio do União Brasil
Após a convenção, Ricardo Nunes participa de um evento do União Brasil na zona sul da cidade para selar o apoio do partido ao atual prefeito. Como mostrou o Brasil de Fato nesta semana, se houver a reeleição, a sigla terá o poder de decidir quem chefiará três pastas do município, incluindo a Secretaria Mobilidade e Trânsito, sobre a qual já tem grande influência.
O União Brasil também terá influência sobre uma das 32 subprefeituras para cada vereador eleito pelo partido. Hoje, a legenda tem uma bancada de sete vereadores.
A articulação pelo apoio do União Brasil também passou pela possibilidade de indicar determinados cargos para esfera estadual. A relação entre Milton Leite e o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), no entanto, é frágil e intransponível à indicação de nomes para o estado.
A situação piorou especialmente depois que o governador e Jair Bolsonaro fecharam acordo para nomear Ricardo Nascimento de Mello Araújo, coronel da reserva e ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, parte do batalhão de choque de SP), para ser vice de Ricardo Nunes, em detrimento de Milton Leite.
Edição: Rodrigo Gomes