Cadeiras gamers, hip hop estadunidense, locutor boiadeiro, bateria de escola de samba, louvor, elogios e críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esses foram apenas alguns dos elementos que deram o clima da convenção que oficializou a candidatura do coach Pablo Marçal pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) para a Prefeitura de São Paulo, na manhã deste domingo (4).
Sob o típico clima de palestra motivacional, negócio no qual Marçal é empresário, o evento também teve "chá revelação" para divulgar se sua chapa seria composta por um homem ou uma mulher no cargo de vice. Sob uma chuva de papel picado em cor-de-rosa, veio o nome: a policial Antônia de Jesus Barbosa, formando uma chapa “puro-sangue”, ambos do mesmo partido.
Além da pirotecnia do anúncio, foram exibidos trechos de documentários de Marçal sobre a Venezuela e o governo de Nicolás Maduro, as enchentes no Rio Grande do Sul e uma comunidade em Angola.
“Meu coração é africano. Eu dei meu coração para ajudar o povo africano. Agora eu percebi que São Paulo está pior do que na África”, disse o coach sobre o trabalho de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade que fez.
Sobre a Venezuela, deu um recado para o presidente: “Maduro, ditador, espero que você caia. O povo colocou um comunista para liderar uma nação, mas nenhum povo tirou um comunista do poder”. O documentário sobre o país vizinho exibia mulheres nas ruas associando-as à prostituição em Pacaraima, um município localizado no norte do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela.
Na sequência, após a exibição do vídeo sobre as enchentes no Rio Grande do Sul, Marçal afirmou que fez mais pelo estado gaúcho do que o governo estadual. “Não tinha governo lá fazendo o que a gente estava fazendo. É o povo pelo povo. Nós estamos diante de um sistema letal de miserabilidade”, disse.
Após a exibição dos vídeos, num tom messiânico, afirmou que “os últimos serão os primeiros” e que mostraria como um “Davi vence um Golias”. Acostumado com as frases motivacionais de suas palestras de coaching, dirigiu-se às câmeras e disse: “Você é imagem e semelhança do criador. Você vai prosperar”, seguido por aplausos e gritos da plateia.
“Eu quero ir em todas as favelas. Eu não sei como fazer. Mas eu vou olhar todo mundo no olho. Eu não sou político, mas quero servir a vocês na política. (...) Respeita a favela, a mulher e o cristianismo”, disse ao prometer “honrar as obras que os nordestinos começaram” e “honrar a excelência dos italianos”.
Citações a políticos
Logo no início da convenção, Marçal lamentou ter passado por mais de um partido em sua trajetória antes do PRTB. Foi filiado ao Pros, Solidariedade e Democracia Cristã – e elogiou o presidente Lula por nunca mudar de sigla.
“Uma coisa bonita no Lula é o fato de ele estar no mesmo partido uma vida inteira. Que eu esteja sempre nesse partido. Eu queria seguir o Lula pelo menos nessa questão”. O influenciar digital, porém, também classificou Jair Bolsonaro (PL) como “o único que diminuiu a quantidade de impostos”, apesar de não ser verdade.
Rejeitando tanto o candidato de Lula, Guilherme Boulos (Psol), quanto o de Bolsonaro, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), o coach disse que ambos os nomes não têm energia para vencer a eleição.
“Boulos não cuida da própria vida. Vai cuidar da cidade de que jeito? Se você quiser a cidade como está, vota no Nunes. Se ele tivesse resolvido o problema do trânsito, eu não precisaria andar de helicóptero”, disse. E num recado para Nunes, disparou: “Se você for homem, me desbloqueia no Instagram. Vira homem”.
Nome de Marçal não é unanimidade no PRTB
Apesar da convenção, o nome de Marçal não é unânime dentro do partido. Na última sexta-feira (2), uma ala de dirigentes do PRTB entrou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o atual presidente nacional e estadual da sigla, Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche. Ontem (3), no entanto, a ministra Cármen Lúcia negou o mandado de segurança.
A ação tinha por objetivo retirar Avalanche da presidência do diretório de São Paulo, alegando que alguns dirigentes teriam sido destituídos "às vésperas das convenções partidárias" a fim de evitar votos divergentes na candidatura de Pablo Marçal.
No lugar de Avalanche, Joaquim Pereira de Paulo Neto assumiria o posto, e a sigla passaria a apoiar a candidatura de reeleição de Ricardo Nunes (MDB) para a Prefeitura de São Paulo.
Outro grupo dentro do partido questiona a administração de Avalanche frente ao partido por supostas dívidas eleitorais, segundo o advogado Paulo Roberto Roseno, que representa a ala.
“O que devemos questionar não é a eleição do Avalanche, nem tentar retirar o Marçal da disputa, mas sim discutir os problemas do partido na Justiça Eleitoral. Essa ação é para discutir os problemas que o PRTB vem enfrentando (sob a administração de Avalanche), que tem R$ 12 milhões de dívida com a justiça eleitoral”, disse Roseno ao GLOBO.
Edição: Nathallia Fonseca