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EUA, França e Espanha dizem confiar no Brasil para se posicionar sobre eleições na Venezuela

Os três países apoiaram posição do governo brasileiro de cobrar atas, mas não interferir no processo

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Lula recomendou o respeito aos resultados das urnas venezuelanas - Ricardo Stuckert

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse nesta terça-feira (6) ter contato direto com o chanceler Mauro Vieira para fortalecer a comunicação com o governo venezuelano, pedindo a entrega das atas eleitorais. Na segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, já havia apoiado Lula nesse processo. 

A postura dos dois países se soma à última posição do governo dos Estados Unidos em uma declaração de confiança no governo brasileiro para amenizar a disputa política em torno das eleições da Venezuela.

Desde a divulgação da vitória de Nicolás Maduro em 28 de julho, o governo brasileiro tem conseguido dialogar com outros países e articular uma queda na tensão no país vizinho.

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Maringoni, a conduta do Brasil é a melhor possível até agora. De acordo com ele, o país já tem uma posição estratégica nesse contexto e "está em melhores condições" para o diálogo, "pela proximidade não só territorial, mas pelo histórico" entre os países.

"Lula sempre esteve muito próximo do ex-presidente Hugo Chávez e, entre López Obrador [México] e Gustavo Petro [Colômbia], é Lula quem tem a melhor relação pessoal com Nicolás Maduro. Cabe ao Brasil, por causa do Lula, essa confiança de coordenar essa situação”, disse ao Brasil de Fato

O professor afirma que a posição dos Estados Unidos é “surpreendentemente” interessante. Depois de idas e vindas, os EUA mantiveram a posição de esperar a atuação de Brasil, Colômbia e México. Os três governos de esquerda apontam que "as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional" e que o resultado do pleito deve passar por "verificação imparcial".

Depois de afirmar que Edmundo González havia vencido o pleito, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Milller, disse na segunda (5) que o governo estadunidense “ainda não chegou ao ponto” de reconhecer uma vitória de Edmundo e afirmou que os EUA mantêm contato com Brasil, México e Colômbia “para encontrar um caminho” para a situação

“Brasil, México e Colômbia, e EUA, por incrível que pareça, tiveram uma posição sensata. Respeitamos o processo, mas queremos as atas. Foi diplomaticamente correta. Tudo indica que essa posição foi acertada com o governo norte-americano, ou com o presidente Joe Biden. A nota do Departamento de Estado reconhecendo Edmundo foi açodada. Isso mostrou duas posições dos EUA, uma à direita, com Antony Blinken, outra ao centro com Biden. O recuo do governo americano mostra uma correção”, afirmou. 

O principal tema de discussão agora nas eleições venezuelanas é a divulgação das atas eleitorais – que são os comprovantes que saem das urnas. O Conselho Nacional Eleitoral do país (CNE) afirmou ter atrasado a divulgação dos resultados e a publicação das atas devido a um ataque hacker.

O presidente Nicolás Maduro pediu a abertura de uma investigação na Justiça para apurar o caso. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) deu 72 horas para que o órgão entregasse as atas eleitorais para análise. Os documentos eleitorais que estavam com o CNE foram entregues e agora estão sendo analisados

A oposição afirma ter mais de 80% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. Nicolás Maduro venceu as eleições da Venezuela com 6,4 milhões de votos (51,97%) contra 5,3 milhões (43,18%) do opositor Edmundo González com 96,87% das urnas apuradas. 

Segundo Maringoni, o Brasil terá agora um peso na mediação em torno das atas. Para ele, a situação pode sair do campo diplomático se essa situação não for esclarecida.  

“O Brasil vai ser uma espécie de avalista, vai ter um peso nessa questão. Não sei se o Brasil vai sentar com todo mundo da oposição e governo, mas acho que pode formar um pool de países para negociar essa questão. Ou aparecem as atas, ou a solução pode acabar indo para uma disputa de forças. O Brasil vai medir, mas a bola tá com o CNE”, afirmou.

Edição: Leandro Melito