Estou no meu melhor momento em termos de criação, composição, tocando, cantando, dançando
As preparações para os 50 anos do disco Di Melo já começaram. Lançado em 1975, o álbum do cantor recifense contou com um time de peso na gravação e rendeu interpretações de outros grandes artistas na época, fazendo com que as faixas de repetissem nas rádios da época.
No entanto, o sucesso não se converteu em dinheiro para Di Melo, que se sentiu um "imbecil" quando recebeu o primeiro pagamento pelos direitos autorais do trabalho.
"A minha insatisfação fez com que eu me afastasse. Imagine você, eu tinha música gravada por Wando, por Jair Rodrigues, que vendiam muito na época", desabafa o cantor em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (7).
"Tinha o meu disco tocando. Saía de uma rádio e já estava na outra, tocava o disco inteiro. E aí fui receber o trimestre de direito autoral, me deparei com 11 cruzeiros. Quer dizer, me fizeram me sentir assinando até atestado de imbecil”.
Após o episódio, Di Melo acabou se afastando da música. Foram 40 anos de intervalo até lançar um novo trabalho, em 2016, no mesmo momento em que sua primeira obra voltou a repercutir nacionalmente e fora do país também.
Neste período, o artista voltou a fazer shows pelo Brasil e seu trabalho apareceu, por exemplo, no clip do Black Eyed Peas gravado no país.
Hoje, Di Melo se sente no seu melhor momento e promete novidades para celebrar os 50 anos do disco e 60 de carreira. Segundo ele, um relançamento está em discussão com a gravadora responsável, a Universal.
Mas, segundo o cantor, um disco de inéditas pode surgir ao longo do ano que vem.
Em meio ao anúncio dos próximos planos, Di Melo reforça que todo esse processo de retorno ao cenário musical passa pelo nascimento da filha. Gabi Abade recém completou 18 anos e tem participado dos shows junto ao pai desde a retomada aos palcos.
"Eu tô no meu melhor momento, na minha melhor fase. Em tudo, sobretudo, depois que minha filha nasceu e já fez agora 18 anos comecei a mudar totalmente a minha vida, parei as loucuras. Ela canta muito, tá tocando muito. Canta em inglês, francês, espanhol, italiano e estuda 12 horas por dia. Quer dizer, é uma glória, é uma benção".
Confira a entrevista na íntegra:
Existe um personagem Di Melo ou você é o artista sempre?
Não, faz parte do dia a dia. Eu convivo com isso, com arte. É música, é poesia, é viola, é pintura, é entalhe. Agora estou fazendo até uns colares incrementadíssimos, uma loucura. Não para. É fluidificando sempre, essa é a ideia
Como você chega nesse momento, com quase 60 anos de carreira?
Estou sempre em escala ascendente. Se eu marcar comigo, eu furo. Estamos trabalhando, linha direta. Eu não paro, eu viajo o tempo todo, não faço turismo, eu só viagem trabalhando.
Aí faço a unificação das duas coisas, 'útero' ao agradável. Mas não saio assim para fazer, passear... Essas coisas não faço, entendeu? Só trabalhando.
Você está morando em Vargem Grande Paulista, uma cidade próxima à capital, mas um tanto afastada da metrópole em si. Essa decisão é para você se afastar da loucura da capital?
Não, você sabe que eu sempre morei em São Paulo, morei em Rio de Janeiro também.
Mas, assim, São Paulo é a minha base, por assim dizer. E eu gosto muito de São Paulo e me adaptei muito bem aqui. Nos primórdios, quando eu vi pela primeira vez era frio e garoa. Como eu era praieiro, desandei, voltei a Recife.
Continuei fazendo minhas coisas, trabalhando, criando, recriando e tentando recrear. Esse é o caminho, não é? O que me faz feliz? O meu trabalho. Eu gosto do que faço e vou procurar cada vez fazer melhor.
Esse disco de 75, que vai virar 50 anos no próximo ano, é uma festa em cores, flores, luzes, perfumes e sabores. É incrível. Tem uma pitada de tudo, né? Ele é samba rock, ele é soul, ele é... Tem um pouco de romantismo, ele é samba, ele é tango. É louco, é um disco palco.
O seu disco de 1975 fez sucesso na época, mas é possível dizer que ficou mais famoso recentemente, nos últimos 15 anos. Você sente que o disco teve um sucesso diluído ao longo do tempo?
A minha insatisfação fez com que eu me afastasse. Imagine você, eu tinha música gravada por Wando, por Jair Rodrigues, que vendiam muito na época.
Tinha o meu disco tocando. Saía de uma rádio, já estava na outra, tocava o disco inteiro. E aí fui receber o trimestre de direito autoral, me deparei com 11 cruzeiros. Quer dizer, me fizeram me sentir assinando até atestado de imbecil.
Como na época eu era muito jovem e rebelde, eu saí de cena. Se fosse hoje, ia constituir um advogado e resolver o problema.
Hoje eu estou no meu melhor momento em termos de criação, composição, tocando, cantando, dançando.
Deve sair um relançamento do disco agora que completa 50 anos?
É bem provável que aconteça, porque em time que está ganhando não se mexe, não é? Mas esse disco tem uma comunicação que é uma coisa absurda, entendeu? Lá fora, inclusive, em todos os lugares.
Deu bom, deu bom. E eu saí, fui eu que pedi para me desligar da gravadora, entendeu? Quando todo mundo estava querendo entrar na gravadora, eu pedi a rescisão.
Quer dizer, algumas coisas que não aconteceram, que poderia ter sido dado sequência, não se deu por conta desse meu sair da cena.
Nós estamos num bate-papo com a Universal, então, pode ser que em algum momento role.
O apelido de 'imorrível' surgiu de uma história trágica, de um dia que você dirigindo uma moto pela marginal Pinheiros, em São Paulo, e quase foi atropelado por um caminhão. Como foi essa história?
Eu sempre fui notívago, e estava em todas, que nem placa de Coca-Cola. Onde eu não estava, estava sendo cogitado, falado. E aí eu saí para as noites, para a avenida, tomei umas 'chambiras', e fui para o sítio de um amigo meu, que, infelizmente, já foi para o outro lado.
No trajeto, eu estava cruzando uma ponte, quando dou de cara com dois caminhões vindo na minha direção. Eu digo: "nessa eu não vou embalar", pulei no rio com moto e tudo. Me entortou a coluna, entortou a moto....
E aí, como eu estava sempre em todas, de repente sumi e houve o desastre, começou o boato: "Di Melo morreu, Di Melo morreu".
P*** nenhuma, Di Melo é 'imorrível'. E eu criei a história do 'imorrível' com esse documentário. Deu muito certo, ganhou Kikito em Gramado, ganhou mais dez prêmios.
Eu sou um cidadão de fé, eu tô no meu melhor momento, na minha melhor fase. Em tudo, sobretudo, depois que minha filha nasceu e já fez agora 18 anos, eu comecei a mudar totalmente a minha vida, parei as loucuras.
Era um cidadão mundano, mesmo. E agora eu tô um cara mais pacato, mais regrado.
Ela canta muito, tá tocando muito. Canta em inglês, francês, espanhol, italiano e estuda 12 horas por dia. Quer dizer, é uma glória, é uma glória, é uma benção, é uma alegria e canta sambas. Ela é 'profissa', viu?
Nesses 50 anos de carreira você vai comemorar com algo novo ou rememorando os clássicos?
Sempre vai ter coisa nova, tenho certeza. Como eu falei, eu crio, recrio, recreio e vamos fazer um disco de 50 anos, claro, mas em algum momento... Vem novidades por aí, mas não posso falar muito, né? Se não perde o lance da surpresa, tá bom?
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Edição: Martina Medina
