Violência de gênero

Ex-primeira-dama da Argentina relata agressões após acusação de violência contra Alberto Fernández

Site Infobae revelou fotos de hematomas e prints de conversas com relatos de agressão ao site Infobae

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Fabiola Yañez, ex-companheira do ex-presidente argentino (2019-2023) Alberto Fernandez, denunciou-o por violência de gênero em 6 de agosto de 2024 - Chandan Khanna / AFP

A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez disse temer por sua segurança e ser vítima de assédio por parte do ex-presidente Alberto Fernández (2019-2023), a quem denunciou por violência de gênero, segundo uma entrevista publicada no sábado (10) pelo site jornalístico Infobae.

Trata-se da primeira entrevista da ex-jornalista de 43 anos desde que acusou Fernández de violência de gênero, no dia 6 de agosto. A denúuncia ocorreu após virem à tona fotografias em que ela aparece com marcas de golpes e hematomas em um braço e no rosto.

Ela afirmou que o motivo de apresentar a denúncia foram as "ameaças telefônicas, o terrorismo psicológico." Na entrevista, Yáñez disse que "durante dois meses ele me ameaçou dia sim, dia não, dizendo que se eu fizesse isso, se fizesse aquilo, ele se suicidaria", disse Yáñez, referindo-se a Fernández  e ressalta que tomou essa decisão "por todas as mulheres que sentem que não podem fazer nada e que são vítimas desse tipo de violência, seja psicológica e/ou física, seja ela qual for."

"Não posso permitir que essas mulheres não estejam respaldadas por algo e esconder uma verdade que pode ajudar muitas mulheres. Então, foi também por isso que eu fiz [a denúncia]. Porque não há nada que me machuque mais. Nunca fui feminista, mas a violência contra a mulher é uma das coisas mais repudiáveis que podem existir neste mundo. E questões que são remanescentes do século 18, do século 15, como o fato de que eles querem fazer você parecer doente. Se eles fizeram isso comigo, o que podem fazer com essas mulheres? É por isso que eu também fiz isso."

A denúncia surgiu a partir do vazamento para a imprensa de mensagens entre Yáñez e a secretária particular de Fernández, María Cantero, nas quais a ex-primeira-dama teria relatado agressões sofridas do então presidente, inclusive com fotografias.

O juiz argentino que conduz o caso, Julián Ercolini, decidiu reforçar a segurança da ex-primeira-dama em Madri, na Espanha, onde ela reside com seu filho de dois anos, fruto de sua relação de mais de uma década com o ex-presidente.

Ela ressalta na entrevista que não foi a responsável pela divulgação das fotos e vídeos que circularam em jornais e portais de notícais. "Eu nunca gostaria que uma foto minha aparecesse dessa forma. Que mulher quer se ver em todos os programas de TV e na mídia de todo o mundo dessa forma? Não entendo como os bate-papos foram vazados e como guardaram a foto para o último minuto.... ".

Festa proibida e tramanento para rugas

As mensagens teriam sido descobertas no contexto de outro caso que também está sendo conduzido por Ercolini. A  investigação de supostos atos de corrupção cometidos durante a gestão de Fernández periciou o celular de Maria Cantero, do qual teriam saído as mensagens.

Yáñez afirma ter sido acusada por Fernández por ser a culpada pela "foto de olivos", na qual o ex-casal presidencial foi visto com várias pessoas em uma comemoração de aniversário. A foto mostraria reuniões que estavam proibidas devido à pandemia de covid-19, o que teria causado a derrota do peronismo nas eleições legislativas daquele ano.

"Eles me culparam. Porque ele se desvinculou da responsabilidade de ter realizado aquela reunião, de ter estado lá, de ter feito aquilo e me culpou, dizendo que eu organizei um brinde. Eu não organizei nenhum brinde. Isso não é verdade [...] Eles vieram a público e me culparam por essas fotos que apareceram de repente e que estavam guardadas havia um ano. Tudo isso foi feito, obviamente, de propósito, não foi? Caso contrário, teria sido divulgado antes. Eles achavam que estavam ganhando as eleições e perderam. Todos os dias me dizia: 'Por sua causa. Perdi um governo por sua causa. Este governo perdeu as eleições por sua causa. Por sua causa. Por sua causa'. Como um governo pode cair por causa de uma foto minha?".

O ex-presidente, de 65 anos, nega todas as acusações. "A verdade dos fatos é outra", frisou ele através das redes sociais. Após a publicação das fotos de Yañez com os hematomas pelo site Infobae, o ex-presidente afirmou que "não foi um golpe, mas um tratamento estético contra as rugas", diz a nota publicada por Horacio Verbitsky com declarações de Alberto Fernández.

Com o título "Olho negro", Verbitsky, reproduz as explicações dadas pelo ex-presidente sobre o que aconteceu com sua ex-mulher.

"Isolado em seu apartamento em Puerto Madero, que foi invadido na sexta-feira e do qual foi apreendido seu telefone, Fernández alega ser vítima de uma operação da imprensa, aproveitando-se da fragilidade de uma pessoa com sérios problemas mentais, que ele acredita ser possível provar", diz a nota, adiantando o argumento que o ex-presidente usará em sua defesa.

"Eles ameaçaram dizer que eu estava doente e que uma pessoa iria ajudar a tornar isso plausível", disse Yãnez na entrevista ao Infobae.

A Justiça fez buscas na residência de Fernández em Buenos Aires e apreendeu seu telefone celular. Também impôs medidas restritivas como proibir sua saída do país, segundo fontes judiciais citadas na imprensa argentina.

 

*Com AFP e Infobae

Edição: Leandro Melito