PAUSA NA MEDIAÇÃO

México diz que vai esperar posição da Justiça da Venezuela para voltar a conversar com Brasil e Colômbia

Na semana passada, Lula sugeriu a realização de uma segunda eleição na Venezuela para resolver o conflito

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Nicolás Maduro chegou a elogiar o comunicado e disse que a postura dos três países “evita danos”. - Prensa Presidencial

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse nesta terça-feira (13) que não vai falar com os presidentes Lula (Brasil) e Gustavo Petro (Colômbia) até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emita um posicionamento sobre as eleições do país

Os presidentes de Brasil, Colômbia e México tinham uma ligação agendada para a última segunda-feira (12) para discutir saídas para a crise envolvida na Venezuela, mas foi cancelada por uma falta de horários nas agendas dos mandatários. Agora, a percepção de diplomatas brasileiros é que as conversas com os outros países “estagnou” e vai depender mais do que for divulgado pela Justiça venezuelana.

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Obrador faz referência à judicialização do processo eleitoral venezuelano. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano (CNE) atrasou a divulgação dos resultados detalhados alegando que houve um ataque hacker contra o sistema eleitoral. O TSJ investiga os supostos ataques, recolheu todo o material eleitoral do órgão e ouviu 9 dos 10 candidatos que disputaram o pleito. Só o opositor Edmundo González Urrutia não compareceu.

Brasil, Colômbia e México têm se organizado para mediar a situação que envolve as eleições da Venezuela e já emitiram duas notas sobre o processo eleitoral. Nos documentos, os presidente pedem a divulgação das atas eleitorais e que essa publicação seja feita pelo CNE, não pela Justiça. O presidente Nicolás Maduro chegou a elogiar o comunicado e disse que a postura dos três países “evita danos”. 

Proposta de nova eleição?

Na última quinta-feira (8), o presidente Lula sugeriu em reunião ministerial a realização de uma nova eleição na Venezuela. A proposta havia sido externada pelo assessor especial para assuntos internacionais do governo, Celso Amorim, ao jornal Valor Econômico. A diplomacia, no entanto, entende que essa é só uma ideia inicial que foi lançada, mas que ainda não está em discussão. 

Em 28 de julho, as eleições no país vizinho decretaram a vitória de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. A oposição contestou os resultados e disse ter recolhido as atas eleitorais  e deu início a protestos violentos no país e uma crise diplomática envolvendo Caracas e a comunidade internacional. 

Um dos principais atores desse processo são os Estados Unidos. Até agora, a posição dos estadunidenses tem sido errática. Primeiro, a vice-presidente Kamala Harris afirmou no dia das eleições que era preciso esperar. Depois, o Departamento de Estado publicou uma nota afirmando, sem apresentar provas, que o candidato da Plataforma Unitária recebeu mais votos na eleição presidencial.

Mais tarde, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou que o país não reconhece o ex-embaixador Edmundo González Urrutia como presidente da Venezuela. Segundo ele, os Estados Unidos mantêm contato com Brasil, México e Colômbia "para encontrar um caminho" para a situação.

Nesta terça-feira, o presidente da Assembleia Nacional e chefe do comando de campanha de Nicolás Maduro questionou a cobrança pelas atas eleitorais. “Por que não pedem as atas das eleições do Chile? Por que não pedem as atas do Brasil? As atas venezuelanas nunca foram publicadas porque são documentos oficiais”. A lei eleitoral venezuelana não exige a publicação das atas. O CNE tem a obrigação de publicar os resultados desagregados das mesas eleitorais em até 30 dias depois das eleições. 

Oposição questiona

Os resultados das eleições foram questionados pela oposição de extrema direita da Venezuela. O grupo liderado por María Corina Machado diz ter acesso a 70% das atas eleitorais – documentos produzidos por cada uma das cerca de 30 mil seções de votação – que comprovariam a vitória do candidato de oposição Edmundo González.

Os opositores de Maduro divulgaram em dois sites uma suposta lista das atas eleitorais. Em um deles, o usuário digitava o seu documento de identidade e aparecia supostamente a ata eleitoral da mesa que aquele usuário votou. No outro, havia um compilado com os dados de todas as atas que a oposição afirmava ter. 

Mas eles não publicaram a relação completa das atas na Justiça venezuelana e nem entraram com processo pedindo a revisão ou a impugnação dos resultados eleitorais. Corina disse que seu candidato, Edmundo González, ganhou o pleito por larga margem, 70% a 30% de Maduro.

Depois do processo movido por Maduro, a Justiça convocou todos os candidatos para prestarem esclarecimento sobre as eleições do país. Edmundo González Urrutia não se apresentou ao TSJ e enviou como representante o governador de Zulia, Manuel Rosales. Em discurso depois da seção, Rosales disse que a oposição "não precisa entregar nada" e exigiu a entrega das atas eleitorais pelo CNE.

Nesse meio tempo, o candidato derrotado nas eleições publicou nota nas redes sociais pedindo que militares do país "desobedeçam ordens" e "respeitem o resultado das eleições". No texto, Edmundo González autoproclama presidente da Venezuela.

Edição: Rodrigo Durão Coelho