Ter informação é essencial para cuidar de si
"A primeira vez eu tava passeando com a minha avó e a gente ficou num lugar de boa. Eu tava morrendo de vontade de ir ao banheiro. Aí, do nada, eu tava sangrando. Então, eu comecei a chorar pensando que minha vida tinha acabado", relata Bia Costa, de 12 anos, ao lembrar de como se sentiu ao menstruar, um ano atrás. A experiência de Bia é comum entre muitas meninas que não recebem muitas informações que a ajudem a compreender esse momento natural que todas as meninas passam entre os 13 e 15 anos em média.
O Radinho BdF, podcast de jornalismo para crianças e adolescentes do Brasil de Fato, desta quarta-feira (14), aborda o tema da menstruação. Em um diálogo descontraído e educativo, com a ajuda da tecnologia i.v.i 3.0, a jornalista e apresentadora Camila Salmazio discute como o ciclo menstrual ainda é cercado de mitos e desinformação.
Muitas vezes é a própria sociedade que não está preparada para apoiar as meninas durante o ciclo. Um exemplo é a escola, que nem sempre conta com estrutura suficiente e apropriada para a higiene. "Eu estava na escola, fui ao banheiro e percebi que minha menstruação tinha descido. O fato é que fiquei com vergonha, pois tive que pedir um absorvente na secretaria. Podia estar no banheiro para eu não ter que ficar falando para 'todo mundo' que eu estava menstruada", conta Maiza, de 15 anos, que mora em Codó, no Maranhão.
No Brasil, uma em cada quatro meninas já perdeu um dia de aula devido à menstruação, segundo pesquisas. A falta de estrutura nas escolas, como a ausência de absorventes e locais adequados para higiene, agrava o problema.
Maiza também relatou dificuldades na escola durante o período menstrual. "Na minha escola, não tem chuveiro, nem ducha e, às vezes, nem papel higiênico. Fica complicado fazer a higiene adequada", diz. A falta de suporte adequado nas escolas é uma questão crítica que afeta diretamente a saúde e o bem-estar das meninas.
Crenças e restrições culturais: o impacto na vida das meninas
Para além das questões físicas, a menstruação carrega um peso cultural que reflete no dia a dia das meninas. "Minha mãe dizia que eu não podia comer certos alimentos, como limão e pimenta, e que jogar bola durante o ciclo faria mal", conta Joana, de 15 anos. Essas crenças, transmitidas de geração em geração, muitas vezes não têm base científica, mas continuam influenciando o comportamento das meninas.
A psicóloga e especialista em sexualidade humana, Elânia Francisca, alerta para os riscos da desinformação. "Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal e machista que trata o corpo feminino com desconhecimento e preconceito", afirma. Para combater esses estigmas, Elânia criou o Espaço Puberê, no Grajaú, zona sul de São Paulo (SP), onde promove educação em saúde adolescente e capacita jovens para serem educadores populares em saúde e prevenção.
Bia cita também as dúvidas em torno da nova fase. "Depois disso, para toda menina, deve ser meio constrangedor. Causa certa ansiedade de como vai ser a sua vida daqui para frente. Porque, depois que você menstruou a primeira vez, se não tomar remédio para menstruação, isso vai durar pelo menos uns 40 anos até acabar. Então você tem que se acostumar com a sua rotina", explica.
As mudanças hormonais que acompanham o ciclo menstrual podem afetar o humor e o comportamento, como observa Bia. "Sinceramente, mudou a minha personalidade. Assim, eu sabia que as pessoas falavam de 'aborrescente'. Depois que comecei a menstruar, fiquei mais rabugenta, mas, graças a Deus, não estou mais rabugenta."
Quebrando o silêncio: a inclusão dos meninos no debate
O Radinho BdF também destaca a importância de envolver os meninos na conversa sobre menstruação. "As meninas têm medo de que os meninos zombem delas por estarem menstruadas", diz Lorrane, de 13 anos. O apoio dos meninos é fundamental para que a menstruação seja vista como o que realmente é: um processo natural e saudável.
A psicóloga Elânia reforça a importância da educação para o autoconhecimento. "Quando conhecemos nosso próprio corpo, cuidamos melhor de nós mesmos. Ter informação é essencial para cuidar de si", diz. No Espaço Puberê, a educadora trabalha para capacitar adolescentes com informações precisas, incentivando-os a se tornarem multiplicadores de conhecimento em suas comunidades.
Tecnologia a favor da saúde menstrual
Bia revelou que, após sua primeira menstruação, começou a usar um aplicativo para monitorar o ciclo menstrual. "Baixei um aplicativo para saber os dias certinhos, o fluxo e tudo mais. É realmente muito importante marcar os dias. É bom para estar preparada", explica.
Existem vários desses aplicativos disponíveis para baixar gratuitamente. As anotações também podem ser feitas em um caderno ou no próprio diário da menina. Além de saber o dia exato do ciclo menstrual, o registro pode ajudar a detectar algum alerta de saúde e as variações de humor e temperamento devido à oscilação de hormônios que a menstruação proporciona.
Sintonize
A nova temporada do Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, às 9h, nas principais plataformas de streaming.
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Edição: Martina Medina