STF X CONGRESSO

Decisão de Dino busca saber se destino de emendas está de acordo com interesse público, diz especialista

Marina Atoji, da Transparência Brasil, avalia suspensão de emendas pelo ministro do STF e primeira reação do Congresso

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Decisão do ministro Flávio Dino foi motivada por uma ação protocolada no STF pelo Psol - Foto: José Cruz / Agência Brasil

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino de suspender as emendas impositivas do Legislativo gerou reações dos parlamentares. A situação sinaliza um conflito entre Poderes. Pela decisão, o repasse de emendas está suspenso até que o Congresso crie novas regras que sigam critérios de transparência e publicidade.

As emendas impositivas são recursos que deputados e senadores repassam diretamente a estados e municípios sem uma indicação específica de destinação, como explica Marina Atoji, diretora de programas da Transparência Brasil. Ela conversou com o Central do Brasil nesta quinta-feira (15).

"O orçamento secreto foi sendo recriado por meio de alternativas. Acho que duas principais são a emenda Pix, que são justamente essas são destinadas sem necessidade de que se indique o que vai ser feito com elas, onde que elas vão ser gastas, de que maneira vai ser feito esse gasto. A outra forma alternativa que o Congresso achou de executar o orçamento secreto da mesma maneira, praticamente uma cópia das extintas emendas de relator, são as emendas de comissão."

"Na melhor das hipóteses, a gente consegue ter uma clareza prévia sobre os autores [das emendas Pix]. O resto, para onde que vai, especificamente, a gente só sabe na hora que o recurso está sendo repassado já de fato. E depois, como está sendo gasto, é quase impossível", pontua.

A especialista em Lei de Acesso à Informação (LAI) lembra que quase R$ 7,7 bilhões de reais já foram liberados para esse tipo de emenda pelo governo federal em 2024. Nas duas formas citadas, falta transparência, reforça ela. 

"As comissões fazem uma destinação genérica, a princípio, para ações que não dizem nada. É tipo ações de infraestrutura no estado X ou ações de infraestrutura para saneamento, coisas que não dizem nada sobre o que vai ser feito com o dinheiro. Depois, isso vai ser detalhado por meio de ofícios que são enviados do Presidente da Comissão para o Ministério responsável para a execução dessa verba. É basicamente a mesma forma como era feito o orçamento secreto".

Nesse cenário de disputa, a Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso rejeitou nesta quarta-feira (14) uma medida provisória que destinava R$ 1,3 bilhão ao Poder Judiciário. Os recursos seriam para recompor o orçamento de diversos órgãos da área. A MP atendia a uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).

A rejeição pela CMO foi vista como uma retaliação após as decisões de Flávio Dino, que teria contrariado a maioria dos parlamentares. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) se referiu ao movimento como uma “"esposta política a uma decisão manifestada por um ministro do Supremo Tribunal Federal".

"É o que a gente não tem hoje, que é essa capacidade de saber previamente o que está sendo feito com esse recurso. Esse é o mínimo que a gente precisa para ter até uma noção mais concreta do quanto esse mecanismo de emendas parlamentares está distorcido e está sendo utilizado de uma forma contrária ao interesse público ou, na melhor das hipóteses, não atendendo plenamente ao interesse público", avalia Atoji.

A diretora de programas da Transparência Brasil critica as primeiras reações do Congresso. "Diz muito sobre como o Congresso se colocou dentro desse arranjo das emendas parlamentares realmente como dono e como destinador de despesas. Isso é bastante revelador da postura do Congresso, de como o Congresso se arvora diante dessas emendas."

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quinta-feira (15) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Thalita Pires