MEDIAÇÃO DA CRISE

Depois de Lula, Petro sugere soluções para crise na Venezuela: 'Fim das sanções'

Presidente da Colômbia sugeriu novas eleições no país vizinho e disse que a saída também envolve uma anistia geral

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Petro fez coro ao pedido de entrega das atas e também citou a necessidade de anistia geral nacional e internacionalPetro fez coro ao pedido de entrega das atas e também citou a necessidade de anistia geral nacional e internacional - Presidência Colômbia

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, sugeriu nesta quinta-feira (15) soluções para resolver a crise envolvendo a Venezuela. O mandatário falou sobre a realização de novas eleições no país, pediu o “fim das sanções” contra o país e disse que a melhor saída para a situação venezuelana seria a criação de um acordo político interno. 

A publicação de Petro nas redes sociais ocorreu poucas horas depois das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda na manhã desta quinta. O brasileiro voltou a cobrar que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) publique as atas eleitorais, mas disse que é preciso “respeitar a soberania” do povo venezuelano. Lula e Petro haviam conversado por telefone na tarde da quarta-feira.

Petro fez coro ao pedido de entrega das atas e também citou a necessidade de anistia geral nacional e internacional, garantias totais de ação política e um “governo de coabitação transitório” até a realização de novas eleições. Como exemplo, ele citou a experiência da Frente Nacional da Colômbia, que foi um acordo que vigorou entre 1958 e 1974 no país vizinho, no qual os partidos Liberal e Conservador se alternavam no poder por 4 mandatos. 

Brasil, Colômbia e México iniciaram uma articulação para mediar a situação da Venezuela e manter um canal de interlocução com o presidente veenzuelano Nicolás Maduro. Os três governos publicaram duas notas conjuntas pedindo a publicação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) e não pela Justiça do país. Os presidentes tinham uma ligação agendada no começo da semana para discutir saídas para a crise do país vizinho, mas foi cancelada por uma falta de horários nas agendas dos mandatários. 

Depois, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse que não vai falar com Lula e Petro até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emita um posicionamento sobre as eleições do país. Sem Obrador, Lula ligou para Petro nesta quarta-feira (14) para dar continuidade às negociações em torno da Venezuela. Os dois devem manter essa interlocução com Maduro nos próximos dias para evitar uma escalada na tensão no país vizinho. 

A conversa entre Lula e Petro surtiu efeito e os dois presidentes afinaram o discurso nesta quinta. O próprio assessor especial para relações internacionais do governo brasileiro, Celso Amorim, foi à Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal e afirmou que o governo brasileiro não reconhecerá nenhum governo sem a apresentação das atas eleitorais.  

Ele também disse que “está muito clara a impaciência do presidente Lula” em relação à demora na divulgação das atas, mas que não seria prudente, em meio a uma negociação que envolve assuntos internos de outro país, estabelecer qualquer tipo de prazo para a apresentação das atas de votação. Amorim também reforçou que o isolamento não ajuda a resolver os problemas da Venezuela. 

Petro e Maduro já haviam se encontrado em abril deste ano em Caracas. Na ocasião, o colombiano disse que seu país poderia ajudar na construção de uma “paz política” na Venezuela. Os dois tiveram uma reunião para discutir trocas comerciais, acordos econômicos, energéticos e estabelecer um diálogo permanente entre os dois países. 

O presidente colombiano também teve um encontro com Lula em abril. Os dois discutiram as eleições da Venezuela e começaram ali uma articulação para manter um diálogo com Caracas. 

 

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Eleições contestadas

O processo eleitoral venezuelano está sob uma disputa judicial. A oposição contestou a eleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. O grupo liderado pela ultraliberal María Corina Machado questiona o resultado e diz ter recolhido a cópia de 70% das atas eleitorais do país. O resultado, segundo a extrema direita, garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. 

Isso, somado a denúncia de um ataque hacker pelo CNE, levaram Maduro a pedir uma investigação pela Justiça. O órgão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados detalhados alegando que houve um ataque hacker contra o sistema eleitoral. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) investiga os supostos ataques, recolheu todo o material eleitoral do órgão e ouviu 9 dos 10 candidatos que disputaram o pleito. Só o opositor Edmundo González Urrutia não compareceu.

Os opositores de Maduro divulgaram em dois sites uma suposta lista das atas eleitorais. Em um deles, o usuário digitava o seu documento de identidade e aparecia supostamente a ata eleitoral da mesa que aquele usuário votou. No outro, havia um compilado com os dados de todas as atas que a oposição afirmava ter. 

Mas eles não publicaram a relação completa das atas na Justiça venezuelana e nem entraram com processo pedindo a revisão ou a impugnação dos resultados eleitorais. Corina disse que seu candidato, Edmundo González, ganhou o pleito por larga margem, 70% a 30% de Maduro.

Depois do processo movido por Maduro, a Justiça convocou todos os candidatos para prestarem esclarecimento sobre as eleições do país. Edmundo González Urrutia não se apresentou ao TSJ e enviou como representante o governador de Zulia, Manuel Rosales. Em discurso depois da seção, Rosales disse que a oposição "não precisa entregar nada" e exigiu a entrega das atas eleitorais pelo CNE.

Nesse meio tempo, o candidato derrotado nas eleições publicou nota nas redes sociais pedindo que militares do país "desobedeçam ordens" e "respeitem o resultado das eleições". No texto, Edmundo González autoproclama presidente da Venezuela.

Edição: Rodrigo Durão Coelho