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Pescadores seguem invisibilizados e sem auxílio cinco anos após o crime da Vale em Brumadinho

Governo de Minas pode impactar ainda mais as comunidades com a instalação de placas solares na represa de Três Marias

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Entorno da Represa de Três Marias - CBHSF

Em 25 de janeiro de 2019, o rompimento da Barragem da Mina do Córrego do Feijão, operada pela mineradora Vale, em Brumadinho (MG), resultou no despejo de lama de rejeitos em toda extensão do rio Paraopeba atingindo o reservatório da represa de Três Marias. Essa área é vital para muitos pescadores artesanais, ribeirinhos e piscicultores.

Minha pesquisa de mestrado levantou informações em oito municípios banhados pela represa: São Gonçalo do Abaeté, Três Marias, Felixlândia, Morada Nova de Minas, Paineiras, Biquinhas, Abaeté e Pompéu. As informações coletadas foram utilizadas para avaliar a vulnerabilidade dos pescadores nas dimensões ecológica, econômica, social, tecnológica e ética.

Até então, embora muitos estudos mencionassem o rompimento da barragem, nenhum focava especificamente nos pescadores e piscicultores da represa de Três Marias. Pelos impactos levantados, recomendamos um maior envolvimento das autoridades públicas e privadas na mitigação dos danos causados pelo desastre de Brumadinho e sugerimos mais pesquisas focadas para o setor pesqueiro local, além da utilização da pesquisa em processos de reparação.

Os pescadores atingidos não tiveram apoio e atenção imediata e suficiente, por parte da Vale, para que pudessem ser devidamente reparados com a devida visibilidade e mensuração dos danos em suas vidas. São muitos os pescadores e pescadoras invisibilizados, sem acesso ao auxílio financeiro, sem a atenção à sua saúde, à sua cultura, à sua vida em sociedade, a uma proposta de reativação econômica justa para a região, e, para piorar, marginalizados, e com riscos de sofrerem outras tragédias e processos de exclusão e destruição da atividade da pesca na represa de Três Marias. 

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Os pescadores podem ser mais uma vez impactados com o fim da atividade da pesca na represa. A proposta da Cemig e do governo de Minas é a de instalar placas solares fotovoltaicas na represa, interferindo diretamente na pesca, na fauna, na qualidade da água, no equilíbrio ecossistêmico, no turismo, na economia, no lazer e na identidade geográfica de polo pesqueiro da região.

O estudo mostrou os efeitos do desastre ambiental ocasionado pela Vale, a partir de uma análise direta com os atingidos. Os dados mostram os desafios enfrentados por essas comunidades após o desastre. E pode fornecer informações valiosas para a tomada de decisões e políticas de recuperação, além da construção da matriz de danos. Garantindo mais justiça no processo de reparação.

Não vamos desistir e parar de lutar. A sociedade esta mobilizada contra esse projeto, que está paralisado graças a luta e articulação política e social. É importante conscientizarmos e buscarmos soluções que minimizem os impactos nos ecossistemas aquáticos e nas comunidades pesqueiras afetadas.

*Vanessa Gaudereto é mestra em Aquicultura e Pesca pelo Instituto de Pesca de São Paulo, assessora do projeto "Juntos para Servir", mandatos coletivos do deputado estadual Leleco Pimentel (PT-MG) e do deputado federal Padre João (PT-MG) e presidente do Instituto de Promoção Humana.

**Este é um artigo de opinião e não reflete necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida