panteão da pátria

'Patativa do Assaré deixou bem claro, muitas vezes, que o poder do povo é enorme'

Poeta Daniel conversou com o BdF sobre possível inserção de Patativa do Assaré no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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A Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal aprovou no dia 6 de agosto, a inserção do nome de Patativa do Assaré no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. - Foto: Biblioteca Pública Estadual do Ceará

A Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal aprovou, no dia 6 de agosto, a inserção do nome de Patativa do Assaré no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposição foi da senadora Janaína Farias (PT-CE) e, agora, a matéria segue para análise da Câmara dos Deputados. E para falar sobre a importância dessa iniciativa para a cultura brasileira o Brasil de Fato CE conversou o Poeta Daniel, neto de Patativa do Assaré. Confira.

Quem foi, ou melhor, quem é Patativa do Assaré?

Patativa do Assaré é o maior poeta popular que já existiu neste país. Um homem de fisionomia simples, de família simples, de origem muito simples, mas que nasceu privilegiado com um dom e soube utilizar muito bem essa poesia, esse dom em prol do seu povo. Então, além da genialidade do poeta tinha a simplicidade do homem por trás daquela figura de 1,62 m de altura. 

E qual é a importância do legado deixado por Patativa do Assaré para a cultura cearense, nordestina e brasileira?

Grande demais. Tem uma importância muito relevante porque o Patativa, em sua vida, nunca escreveu sobre o que ele não conheceu, sobre o que ele não tinha propriedade e nas suas poesias, quando ele descreve muitos casos, como a seca, no poema A Morte de Nanã, por exemplo, ele retrata a seca de 1932, que foi uma das mais marcantes para nós aqui, e o legado de Patativa é isso, é o retrato de um homem comprovando que independentemente de onde você esteja, você tem como ser patriota, tem como defender seu povo, sua causa e que nós não temos que ser inimigos, politicamente a gente tem que ser juntos e andar juntos sempre, porque o povo é quem comanda esse país.

Ele deixou bem claro muitas e muitas vezes que o poder do povo é enorme, o poder do povo é isso, defender e juntar várias forças pequenas. Quando ele retrata O Boi Zebú e as Formigas, ele coloca um governante que está no poder e as formigas, tão pequenas vão lá e tiram aquele governante. Deixa bem claro qual era a intenção e o exemplo de vida que ele queria dar sobre o nosso poder quando se trata de governo.

E sobre as novas gerações? Os jovens estão se aproximando da arte deixada por Patativa do Assaré. Como é que você enxerga esse legado chegando nesses jovens?

O Patativa do Assaré tem poemas que a gente declama nos dias de hoje que se enquadram perfeitamente ainda com a nossa linguagem cotidiana de hoje. E os jovens, quando têm um contato com a poesia do Patativa, eles acabam se encantando. A gente vê alguns poetas que já são influenciados, ainda são influenciados pelo Patativa do Assaré. Isso vai ser sempre assim. Daqui a 20 anos, 30 anos, 40 anos a gente vai sempre ter jovens sendo influenciados pelas obras do Patativa do Assaré. O forró muda, a poesia muda, a musicalidade muda, mas o sentimento não muda, e a poesia, quando ela é escrita com sentimento, ela tem esse peso, independente do sentimento, seja falando de amor, de saudade ou de uma causa nordestina, como ele escreveu muitas vezes. Então o jovem é influenciado até hoje.


Poeta Daniel, neto de Patativa do Assaré. / Foto: Edson Barros

Patativa do Assaré também já chegou em outros países além do Brasil?

Já sim. Na década de 1970, o francês Raymond Cantel veio estudar messianismo do Padre Antônio Vieira e acabou levando a obra de Patativa do Assaré, o livro Cante lá que eu canto cá, que saiu em 1978, e hoje o Patativa tem uma cadeira de honra na Universidade de Sorbonne, na França. Esse é só um dos exemplos que tem. Oito poemas dele já foram traduzidos para outros países. A gente sempre fala que Patativa não é mais o Patativa do Assaré, é o Patativa do mundo.

A Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal aprovou a inserção do nome de Patativa do Assaré no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Como os familiares receberam essa notícia? 

Foi gratificante demais para nós. O Patativa teve a opção de ser rico de dinheiro algumas vezes na sua vida e nunca fez questão disso, mas uma das coisas que ele sempre apreciou foi reconhecimento. Reconhecimento como pessoa, como humano, como aquele cidadão. Isso ele sempre fez questão de ter, e quando a gente vê em 2024 um momento desse, é aquele reconhecimento que o Patativa queria lá atrás. Eu disse: "olha, o reconhecimento dele está dando certo, mesmo após a morte, o Patativa ainda está sendo a grande referência".

E para a cultura? O que é que representa a inserção do nome de Patativa do Assaré no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria?

Forte demais. Para nós, culturalmente, é um enriquecimento da cultura, é um fortalecimento da cultura, porque a poesia ela não anda na mesma velocidade que a música. Uma música, por exemplo, o artista grava, ela consegue alcançar o primeiro pico de audiência, é uma semana para estar em primeiro lugar, a poesia não. A poesia leva um tempo, até chegar nas escolas leva um tempo. Então, assim, a gente está vendo um homem que acreditou na sua vida como poeta, e era um homem que falava do Nordeste, da cultura nordestina, porque ele não falava sobre coisas distantes daqui. A poesia dele, os elementos de riqueza da poesia de Patativa não têm nada distante do nosso povo, da nossa cultura. É uma obra toda criada em torno da nossa cultura.

Estamos falando muito sobre o Patativa do Assaré artista, mas ele também era uma pessoa de luta, com toda uma questão social. Você acredita que diversos movimentos populares também têm Patativa do Assaré como uma representatividade de luta?

Sim. É um Standard, né? Ele é uma coluna do Nordeste, porque se eu colocar aqui no nosso raio, colocar num raio de 500 km à nossa volta eu pego Patativa do Assaré, eu pego Padre Cícero, eu pego Luiz Gonzaga, eu pego um Virgulino Ferreira, eu pego um Cego Aderaldo, eu pego o Beato Zé Lourenço, eu pego uns nomes que quando a gente vai somando isso aí fortalece muito a nossa cultura. Então o Patativa é uma coluna, é uma coluna forte demais. A gente sabe, uma casa bem alicerçada, mas faltando uma coluna ela desaba, e o Patativa é uma dessas colunas. Não é só ele, é um grupo muito forte, graças a Deus. Nesse aspecto, o Nordeste sempre foi muito rico.


O Memorial Patativa do Assaré está aberto de terça a domingo. De terça-feira a sábado, das 8h às 16h, e aos domingos de 9h ao meio-dia. / Foto: Reprodução/Redes Sociais

E para quem quiser saber um pouco mais sobre o Patativa do Assaré, nós temos o Memorial Patativa do Assaré. Fala um pouco sobre esse espaço.

Durante a sua vida, Patativa guardou todos os seus troféus e homenagens, e ele guardava muito bem e com muito carinho. O memorial é um prédio de três andares e é um espaço dividido em sete salas para visita e consta nessas sete salas os pertences pessoais que o próprio Patativa guardou, e quem guia, no memorial, somos nós da família Patativa.

O Memorial está aberto de terça a domingo. De terça-feira a sábado, das 8h às 16h, e aos domingos de 9h ao meio-dia. Outro ponto também muito importante que está aberto hoje é a Casa do Patativa, onde ele morou na cidade, está aberta a visita também, fica em frente ao Memorial, atravessou a praça você já está na casa do Patativa. E quem quiser conhecer um pouco também do Patativa já mais agricultor, a casa que ele nasceu, no sítio Serra de Santana, que fica a 18 km da cidade é uma extensão do Memorial e também está aberta à visita. Para saber mais pode entrar em contato pelo Instagram: @mamorial_patativa_do_assaré e pelo meu também @poeta_daniel.

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Fonte: BdF Ceará

Edição: Camila Garcia