EMERGÊNCIA GLOBAL

'Exige preocupação, mas longe de ser a mesma de uma pandemia', diz médico sanitarista sobre mpox

Gonzalo Vecina explica sobre a doença, formas de transmissão e como se proteger; no Brasil, ministério negocia vacinas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Paciente mostra mão com ferida causada pela infecção de mpox em hospital do Peru; OMS declarou emergência de saúde global com surto da doença em países da África - Foto: Ernesto Benavides / AFP / Arquivo

Com a emergência de saúde pública global para a mpox declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na última semana, as preocupações em torno da doença aumentaram em todo o mundo. A medida foi tomada pelo órgão internacional após o surto da doença em países do continente africano.

Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a preocupação é válida, embora seja menor em relação ao que já foi vivenciado no passado, com outro tipo de varíola.

"A mpox é uma doença que preocupa todos nós, porque é muito próxima da varíola. E a varíola foi uma das doenças mais críticas na história da humanidade. A varíola matou muita gente. Esta versão de varíola, a mpox, é muito mais amena, mata muito menos do que a varíola que conhecemos lá atrás", lembra o médico, dizendo que já foi vacinado contra a varíola, mas que pessoas mais jovens, não.

"Esta varíola que está se manifestando agora saiu de controle, está se espalhando por vários países da África. E começamos a ter gente que viaja da África para fora levando a doença, como aconteceu com pelo menos uma pessoa na Suécia", explica. "No primeiro surto da doença por volta de 2023, [quando] nós tivemos, inclusive, aqui no Brasil muitos casos de mpox, incluindo alguns óbitos."

Nesta segunda-feira (19), a OMS divulgou uma lista de recomendações temporárias direcionadas a países que enfrentam o surto de mpox, que já foi chamada de monkeypox, devido à descoberta inicial do vírus em macacos. O documento vale, principalmente, para a República Democrática do Congo, Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. Mas as recomendações não são restritas a esses países.

Entre elas está melhorar a vigilância da doença, com a expansão do acesso a diagnósticos precisos e acessíveis que sejam capazes de diferenciar as variantes de mpox em circulação. O vírus não é transmitido tão rapidamente, pontua o médico. E a mpox pode ser ainda confundida com outras doenças. 

"Não existe a possibilidade desta doença se transformar em uma pandemia como nós vimos no caso da covid, principalmente por causa da forma de disseminação. A covid-19 se disseminava via gotículas de água. Falávamos e emitíamos vírus e as pessoas que respiravam estavam sujeitas a pegar a doença. A mpox não se espalha desta maneira. Ela somente passa de uma pessoa à outra através de um contato físico com as vesículas", diz o especialista. 

"A doença tem uma característica muito própria: a explosão de pequenas vesículas cheias de pus. Ela pode ser confundida com sarampo e com varicela [catapora]. Essa é também outra preocupação."

A busca por vacinas contra a mpox, como resposta de emergência a surtos, também está entre as recomendações da OMS divulgadas nesta segunda. As campanhas, segundo o órgão, devem incluir grupos de risco para a infecção. Algumas pessoas nesta condição são parceiros sexuais de quem tem a doença, crianças e profissionais de saúde.

No Brasil, o Ministério da Saúde já negocia a compra de 25 mil doses da vacina que combate o vírus de mpox. A pasta busca adquirir o imunizante com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Dados do ministério apontam que, entre 2022 e 2024, o país registrou 12 mil casos confirmados e 366 prováveis da doença. O número de mortes pela mpox neste período chega a 16, sendo a última em abril de 2023.

"Essa doença não tem tratamento específico, o tratamento dela trata dos sintomas: febre, dor, a infecção secundária que pode ocorrer nas vesículas devido à coceira. E tem a vacina Jynneos, produzida pela Bavarian Nordic na Dinamarca. Agora, esta vacina não é uma vacina para fazer o que nós fizemos, por exemplo, com a covid -19”, ressalta Vecina.

"Porque é uma doença que se espalha exclusivamente pelo contato pessoal e sexual. Então, a recomendação é que a vacina deve ser utilizada quando você identifica um caso. Você vai tentar saber com quem aquela pessoa se relacionou e bloquear [o vírus] vacinando essas pessoas, tentando impedir que a doença se espalhe. Essa é a ideia da utilização da vacina."

A entrevista completa com o médico sanitarista, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (19) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Martina Medina