A última pesquisa sobre a corrida eleitoral para a prefeitura de Porto Alegre (RS) aponta para um empate técnico entre os dois primeiros colocados: Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT). Segundo o levantamento, divulgado na última segunda-feira (19) pelo Instituto Methodus, Melo, atual prefeito da capital gaúcha, aparece com 29,6% das intenções de voto, enquanto a deputada federal petista tem 26,8%.
O empate se dá devido à margem de erro, que é de 3,5% para mais ou para menos. A disputa em Porto Alegre reflete a divisão política do cenário nacional, já que Melo tem apoio do PL bolsonarista, enquanto Rosário pertence à ala progressista.
Numa disputa que se mostra equilibrada, é necessário saber qual será a pauta principal dos candidatos durante as campanhas, aponta o sociólogo Jorge Branco, mestre e doutorando em Ciência Política. Ele conversou com o jornal Central do Brasil nesta terça-feira (20).
"A primeira e decisiva batalha em Porto Alegre é qual a pauta principal das eleições: a crise climática, a conduta da prefeitura, ou se vão discutir ideologia, comportamentos… E aí ele [Sebastião Melo] volta com aquilo que já foi característica da campanha de quatro anos atrás: falar de carne de cachorro, da Venezuela, da China, enfim...", expõe Branco.
Um dos temas centrais, principalmente da campanha de oposição, deve ser mesmo a tragédia climática que atingiu todo o Rio Grande do Sul em maio, deixando o estado em situação de calamidade.
Melo, que tenta a reeleição, é acusado de ter ignorado uma série de alertas sobre o risco de inundações na cidade emitidos pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae).
"Talvez seja do interesse da candidatura da Maria do Rosário, a candidatura da esquerda, que o tema da conduta do governo Melo nessa crise climática seja a pauta. E me parece que os movimentos da candidatura Melo são no sentido contrário, tirar da pauta. A pergunta é: será possível depois de uma tragédia desse tamanho tirar da pauta?", problematiza o pesquisador.
"Eu acredito que, em parte, com uma operação de campanha, de comunicação, é possível. E tudo indica que a estratégia da candidatura do atual prefeito seja passar responsabilidades para o governo federal. E, até pela composição que está sendo feita, novamente, [a tendência] é estabelecer um grande espaço para pauta ideológica, para pauta de comportamento."
Indecisos
Na mesma pesquisa Methodus, aparecem, após Melo e Rosário, a candidata Juliana Brizola (PDT), com 14,1%, e o candidato Felipe Camozzato (Novo), com 5% das intenções de voto. As outras quatro demais candidaturas pela gestão da cidade gaúcha atingiram 1% ou menos.
Houve porcentagem alta de brancos/nulos e de quem ainda não sabe em quem pretende votar: 10,8% e 11,1%, respectivamente. Branco conta que a escolha desses eleitores pode ser decisiva em outubro, quando acontece o pleito municipal.
"Obviamente este eleitor do meio vai decidir a eleição. É preciso - e a candidatura da Maria do Rosário necessita - que este eleitor não definido, que não tomou uma decisão prévia às eleições, opte pela ideia de um melhor gestor. [A ideia] de demonstrar que o mandato do Melo foi incapaz de enfrentar, em especial, a crise climática, as cheias", exemplifica.
"O Melo vai empurrar atrás desse eleitor que fica no meio, que não está definido. Ele vai tentar novamente fazer uma aglutinação desse eleitor com base no conservadorismo."
O especialista ainda comenta sobre como pode ficar a distribuição dos votos dos demais candidatos num possível segundo turno entre Rosário e Melo.
"O eleitor do [Felipe] Camozzato já indica uma predisposição de voto no Sebastião Melo, porque o Camozzato tem poucas diferenças do ponto de vista programático e ideológico do Melo. Mas talvez a chave esteja neste eleitor da Juliana Brizola, do PDT."
"A gente sempre imagina que o PDT, pelo seu histórico, etc, [tem] um eleitor [que] tende a se deslocar para a Maria do Rosário num segundo turno. É possível - talvez seja a tendência majoritária -, mas a candidatura da Maria do Rosário vai ter que fazer sinalizações para esse eleitor, que é um eleitor mais ao centro, mas talvez mais disposto a acompanhá-la no segundo turno", analisa o mestre em Ciência Política.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta terça-feira (20) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Martina Medina