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Brasil chega a 33% de perda de vegetação nativa; Amazônia concentra metade da área desmatada

Estudo revela um ritmo acelerado de redução de vegetação nativa entre 1985 e 2023

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Amazônia brasileira tem hoje 81% de florestas e vegetação nativa, o que a coloca muito próximo ao seu ponto de não retorno, estimado entre 80% e 75% de cobertura nativa - Michael Santas/AFP

Um novo relatório do MapBiomas, divulgado nesta quarta-feira (21), revela que o Brasil perdeu um terço de sua vegetação nativa, desde a chegada dos colonizadores portugueses, em 1500. Até 1985, a perda de áreas naturais somava 20% do território nacional.

Ainda segundo o estudo, nos últimos 39 anos, essa redução avançou para outros 13% do território, chegando em 2023 à marca de 33%. Metade do total, ou cerca de 55 milhões de hectares perdidos, ocorreu na Amazônia. O relatório analisa, além das áreas de mata, as superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas.  

“Esse material é uma fonte farta de informação para a gente fazer esse debate público com a sociedade e poder planejar o ordenamento territorial do Brasil de uma maneira a estar preparado para um futuro sustentabilidade”, disse o pesquisador do MapBiomas Eduardo Vélez, em coletiva de imprensa. 

Ao todo, foram mapeadas 29 classes ou tipos de uso do solo, entre elas, as formações de corais, que é uma novidade da Coleção 9 do estudo. O MapBiomas identificou que 64,5% território nacional é coberto por vegetação nativa e 32,5% é ocupado pela agropecuária, a principal atividade desmatadora no país. 


Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023 / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

Números alarmantes

O estudo do MapBiomas descreve a perda de vegetação em cada um dos biomas brasileiros. O que mais perdeu vegetação nativa foi a Amazônia, que apresentou uma redução de 14% nos últimos 39 anos, o equivalente a 55 milhões de hectares. “Com isso, a Amazônia brasileira tem hoje 81% [do território] coberto por florestas e vegetação nativa, o que a coloca muito próximo da margem estimada pelos cientistas para seu ponto de não retorno, estimado entre 80% e 75% de vegetação nativa”, alerta o relatório. 


Áreas antrópicas, ou seja, que tiveram intervenção humana, cresceu principalmente na Amazônia. / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

Já o Cerrado perdeu 38 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2023, o que representou uma redução de 27%. No Pantanal, a redução mais acentuada foi na superfície de água, que passou de 21% em 1985 para 4% em 2023. 


Histórico da cobertura e uso da terra nos biomas, de 1985 - 2023 / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

Segundo o relatório, dos 27 estados da federação, apenas o Rio de Janeiro apresentou um pequeno aumento de vegetação nativa no período avaliado, que passou de 30% para 32% de seu território. As outras 26 unidades federativas tiveram redução, sendo que as mais expressivas foram em Rondônia, que caiu de 93% em 1985, para 59% de cobertura vegetal nativa em 2023; seguido do Maranhão, de 88% para 61%; Mato Grosso, de 87% para 60%, e Tocantins de 85% para 61%.  

Atualmente, de acordo com o MapBiomas, os estados com maior proporção de vegetação nativa são Amapá, com 95% de cobertura, o Amazonas, também com 95%, e Roraima, com 93%. Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são Sergipe, com apenas 20%; São Paulo, com 22% e Alagoas, com 23%. 


Áreas naturais e antrópicas nos Estados, de 1985 – 2023 - 26 estados tiveram redução de vegetação nativa / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

Controle ambiental 

O relatório do MapBiomas faz um balanço das perdas e ganhos de vegetação nativa a partir de 2008, quando foi instituído o Fundo Amazônia e editado o decreto nº 6.514, que estabeleceu multas para o descumprimento das regras ambientais previstas no Código Florestal.  

Segundo o estudo, 18% dos municípios tiveram estabilidade entre 2008 e 2023, ou seja, onde o ganho e perda da vegetação foram menores que 2%. Em outros 37%, houve ganho de vegetação nativa. O bioma com maior percentual de municípios onde a área de vegetação nativa cresceu nesses 16 anos foi a Mata Atlântica, com 56%. 

Os estados com maior proporção de municípios com ganho de vegetação nativa são o Paraná (76%), Rio de Janeiro (76%) e São Paulo (72%). Já os estados com maior proporção de municípios com perda de vegetação são Rondônia (96%), Tocantins (96%) e Maranhão (93%). 

O Brasil possui mais de 60 milhões de hectares de florestas públicas não destinadas, de domínio público, mas que ainda não tem uso específico definido. Ainda segundo o estudo, elas ocupam 13% da Amazônia Legal e têm 92% de sua área coberta por vegetação nativa. 

“Temos uma área florestal maior que o Estado de Minas Gerais ainda sem destinação na Amazônia Legal. Essas áreas são mais suscetíveis ao desmatamento em relação às florestas que estão sob algum regime de proteção. É importante e urgente destinar essas áreas e transformá-las em territórios protegidos. A conversão dessas áreas para algum tipo de uso antrópico agravaria ainda mais a atual crise climática” explica Luís Oliveira, da equipe da Amazônia do MapBiomas.   


Vegetação nativa em florestas públicas não destinadas / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

"Quando se dá uma destinação, você acaba com a expectativa de posse sobre a área. Isso diminui muito já o processo de tentativa de grilar essa área. Por isso, é importante acompanhar a dinâmica dessas florestas públicas não destinadas e dar uma destinação para ela”, completa Marcos Rosa, pesquisador do MapBiomas. 

Segundo o estudo, as Terras Indígenas (TIs) ocupam 13% do território brasileiro, com 112 milhões de hectares, e onde concentra 19% da vegetação
nativa no Brasil. Essas são as áreas com maior nível de preservação, tendo perdido apenas 1% de sua vegetação nativa nos últimos 39 anos.

Corais

Pela primeira vez, o MapBiomas fez um levantamento sobre os corais, que identificou 20,4 mil hectares de corais resos na costa leste brasileira. O estudo afirma que pelo tempo de que leva para a formação dessas estruturas, não há variação considerável da extensão ocupada por elas de 1985 a 2023.De acordo com o levantamento, 72% dos recifes de corais estão em Unidades de Conservação Marinha, sendo que a maior delas está localizada na Unidade de Conservação APA Ponta da Baleia, em Abrolhos, no sul da Bahia, com uma área mapeada de mais de 6 mil hectares. 


Proteção de recifes de corais no Brasil / Fonte: “Projeto MapBiomas - Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil" - Coleção 9

MapBiomas 

O projeto MapBiomas reúne universidades, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e empresas de tecnologia em uma iniciativa que busca monitorar as transformações na cobertura e uso do solo no Brasil. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas estão disponíveis de forma gratuita no site do projeto. 

O lançamento oficial da Coleção 9 de mapas anuais de cobertura e uso da terra do MapBiomas acontece nesta quarta-feira (21), em Brasília, durante o Seminário Anual do projeto, que contará com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.   

Edição: Nathallia Fonseca