Raio-x do PT

Com apenas um petista disputando capitais do Norte, Humberto Costa reconhece domínio bolsonarista na região

Senador, que coordenou o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT para as Eleições de 2024, é o convidado do BdF Entrevista

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"Temos evitado estabelecer metas. O que temos dito é que o PT terá crescimento em número de vereadores e de prefeitos" - Fábio Rodrigues/ Agência Brasil
Procuramos fazer um equilíbrio entre nossas candidaturas e o apoio que podemos dar a aliados

O senador Humberto Costa (PT-PE) recebeu a incumbência de coordenar o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT para as eleições de 2024, que começaram oficialmente na última sexta-feira (16). Os petistas terão 13 candidatos disputando as capitais brasileiras, mas apenas um na região Norte.

"Nós temos, hoje, uma força enorme do bolsonarismo nessas regiões e um sentimento antipetista extremamente forte. Nós já governamos Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR), mas foi difícil encontrar nesses lugares candidatos com o perfil progressistas", explicou Costa, que é o convidado do BdF Entrevista desta semana.

O senador também falou sobre a ausência de candidaturas petistas em algumas capitais em que o partido tem tradição. "Nós temos aliança política muito duradora com segmentos do campo e da esquerda. Procuramos fazer um equilíbrio entre nossas candidaturas e o apoio que nossas candidaturas podem dar aos aliados. Por exemplo, você pega Recife (PE), São Luis (MA) e Curitiba (PR): o PSB, que é um aliado histórico nosso, demandava nosso apoio, assim fizemos."

Entre os 13 candidatos petistas a prefeitura das capitais, 12 são brancos. Questionado, o senador explicou a decisão. "Essa reflexão aconteceu e é importante dizer que o PT tem aberto espaço para negros e mulheres, para outros segmentos setoriais e minorias, e o financiamento de nossas candidaturas leva isso em consideração também. Acontece que os primeiros resultados desse tratamento diferenciado vão acontecendo aos poucos."

Confira abaixo alguns trechos da entrevista e, no vídeo acima, a íntegra da conversa. 

Brasil de Fato: Senador, o senhor ficou responsável por organizar as candidaturas do PT nas capitais. Em 2016, o PT elegeu apenas um prefeito em capital, o Marcus Alexandre, que neste ano sairá candidato pelo MDB. Em 2020, os petistas não conseguiram eleger prefeito nas capitais. Qual sua expectativa para este ano?

Humberto Costa: Nós temos evitado estabelecer metas. O que temos dito o tempo inteiro é que o PT terá um crescimento significativo em número de vereadores e número de prefeitos, além do que elegemos em 2020. Em 2020, elegemos 163 prefeitos e prefeitas. Agora, para essa largada, já temos 285 prefeitos que estão vinculados ao PT. 88% desse total estão ainda no primeiro mandato e são candidatos à reeleição. Nossa expectativa é que tenhamos um número mais expressivo.

Nas capitais, como você disse, não elegemos ninguém, mas a expectativa é muito positiva. Estou otimista e acho que podemos eleger um número razoável de prefeitos em capitais, estamos lançando 13 candidaturas nas capitais. Então estamos otimistas com a possibilidade bons resultados e otimistas com a possibilidade de vitória em capitais que têm muita relevância politicamente.

Nós estamos gravando no dia 15, às 19h. Daqui a cinco horas se encerra o prazo para as inscrições de candidatos. Neste momento, o PT registrou 13 candidaturas para disputar a prefeitura de capitais brasileiras. Como foi pensada a escolha desses nomes? Quais critérios o partido adotou?

Nós temos aliança política muito duradoura com segmentos do campo e da esquerda. Procuramos fazer um equilíbrio entre nossas candidaturas e o apoio que nossas candidaturas podem dar aos aliados. Por exemplo, você pega Recife (PE), São Luis (MA) e Curitiba (PR): o PSB, que é um aliado histórico nosso, demandava nosso apoio, assim fizemos. No Rio de Janeiro (RJ), temos uma aliança antiga com o Eduardo Paes (PSD) e o apoiaremos. Em Salvador (BA), onde nós temos o governo do estado e uma conjuntura muito dura, chegamos à conclusão de que era melhor apoiar o candidato do MDB. Assim, fomos construindo nosso roteiro, Ou seja, cada cidade tem uma história. Normalmente, uma decisão do diretório do municipal, respaldado pelo diretório estadual e referendada pela direção nacional.

Na distribuição das regiões, há apenas um candidato no Norte, Marcelo Ramos, que disputará a prefeitura de Manaus. Considerando que a região Norte tem sete capitais, o PT abriu mão de disputar outras seis. Por que essa escolha, senador?

Nós temos, hoje, uma força enorme do bolsonarismo nessas regiões e um sentimento antipetista extremamente forte. Nós já governamos Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR), mas foi difícil encontrar nesses lugares candidatos com o perfil progressista. Você deve levar em consideração que nós estamos fazendo essa eleição pensando em 2026, especialmente a eleição para o Senado Federal. Esses estados têm um número pequeno de eleitores e, portanto, uma influência limitada nas eleições para a Câmara dos Deputados, mas cada um desses estados tem três senadores e duas dessas vagas estarão em disputa em 2026. Termos uma aproximação com um centro mais democrático nesses espaços é muito importante. Isso também foi levado em consideração. Lógico que surgiram nomes do PT, mas outros candidatos tinham mais viabilidade, mas demos um aceno para 2026, que queremos disputar com candidatos do PT ou não.

Falando ainda sobre o perfil dessas 13 candidaturas, é impossível não notar que apenas um é pardo e os outros 12 são brancos. Porém, o PT alerta a sociedade cotidianamente sobre os efeitos do racismo e é uma força política que tem em seu interior grupos e lideranças preocupadas com a inclusão dos negros nos espaços do poder. Por que neste ano veremos apenas um candidato não-branco disputando uma capital pelo partido?

Essa reflexão aconteceu e é importante dizer que o PT tem aberto espaço para negros e mulheres, para outros segmentos setoriais e de minorias, e o financiamento de nossas candidaturas leva isso em consideração também. Acontece que os primeiros resultados desse tratamento diferenciado vão acontecendo aos poucos. Veja, hoje nós temos várias vereadores e vereadores que são negros e têm papel importante, alguns com perfil para majoritária. Então, é um processo que exige uma política constante, que exige um trabalho de trazer esses setores para dentro do nosso partido. Eu acredito que nessa eleição nós vamos eleger um número significativo de vereadores e prefeitos [negros]. Além disso, você está falando de capitais, mas nós temos mais de cinco mil municípios no país inteiro e tenho certeza que vamos sair dessa eleição muito fortalecidos. O primeiro balanço que temos de candidaturas de vereadores e prefeitos do país todo, aproximadamente 58% dos candidatos e candidatas se declaram negros.

Edição: Thalita Pires