Contra o genocídio

Mobilizações no Mediterrâneo atrasam envio de combustível militar dos EUA para Israel

Campanha atual em Chipre, França, Gibraltar, Grécia, Itália, Malta, Marrocos, Espanha e Tunísia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ondas de fumaça após o bombardeio israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 25 de maio de 2024 - Eyad BABA/AFP

Nas últimas três semanas, organizações da sociedade civil e movimentos sociais de todo o Mediterrâneo rastrearam e atrasaram o trânsito de navios-tanque fretados pelo exército dos EUA que transportam combustível militar para Israel. Ativistas, políticos e trabalhadores de Chipre, França, Gibraltar, Grécia, Itália, Malta, Marrocos, Espanha, Tunísia e outros países se uniram - sob o lema "Nenhum Porto para o Genocídio" [No Harbour for Genocide] - para atrasar as entregas de combustível militar.

Um relatório da Oil Change International e do Data Desk revelou que três entregas de combustível de jato militar JP-8 ocorreram entre outubro de 2023 e março de 2024. O combustível foi transportado pelos navios-tanque Overseas Santorini e Overseas Sun Coast, com cada navio-tanque transportando combustível suficiente para cerca de 12.000 voos das aeronaves F-16 e F-35 de Israel. Em abril de 2024, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução expressando profunda preocupação com o uso de combustível de aviação por Israel para cometer violações do direito internacional.

Os grupos que têm monitorado os navios, confirmam que o Overseas Santorini entregou um carregamento adicional de combustível militar ao governo israelense no porto de Ashkelon. A entrega foi feita em 8 de agosto de 2024 “às escondidas”, depois que o navio desligou seu transponder - que transmite e recebe informações sobre a posição, velocidade e rumo do navio. 

Avisos de vigilância foram divulados pelos ativistas em todo o Mediterrâneo e mobilizaram pescadores, trabalhadores portuários e outros barqueiros para procurar e identificar a rota do navio, impedindo que ele atracasse e descarregasse em Ashkelon em 8 de agosto. Sua chegada é esperada no porto de Limassol, no Chipre, ou em Souda, em Creta.

O Partido Progressista do Povo Trabalhador (AKEL) no Chipre já pediu ao seu governo que impeça o navio de atracar ou reabastecer em portos cipriotas, enquanto ativistas no Chipre e em Creta têm se mobilizado contra a atracação do navio nesses locais.

Em 25 de julho, os sindicatos de trabalhadores portuários da Espanha emitiram uma declaração dizendo que se recusariam a prestar serviços ao navio, políticos espanhóis se manifestaram contra a atracação do navio e centenas de pessoas compareceram à cidade de Algeciras pedindo que a cidade rejeitasse sua chegada.

Após seu redirecionamento para Gibraltar, dezenas de parlamentares britânicos escreveram para o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, e para Fabian Picardo, ministro-chefe de Gibraltar, pedindo que recusassem o pedido de atracação do navio, enquanto ativistas em Gibraltar mobilizaram sua comunidade para monitorar e protestar contra as atividades do navio.

As intensas mobilizações ao longo da rota do Overseas Santorini, fizeram com que o navio desligasse seu sistema de rastreamento por mais de uma semana para evitar mais interrupções por parte dos ativistas.

EUA seguem como principal fornecedeor de petróleo para Israel

Quase 80% do combustível de aviação, diesel e outros produtos refinados de petróleo fornecidos a Israel pelos Estados Unidos nos últimos nove meses foram enviados após a decisão da Corte Internacional de Justiça de janeiro, de acordo com a nova pesquisa encomendada pela Oil Change International. Em 26 de janeiro, a Corte ordenou que Israel evitasse atos genocidas em Gaza. A decisão lembrou aos Estados que, de acordo com a convenção sobre genocídio, eles têm um “interesse comum em garantir a prevenção, a supressão e a punição do genocídio”.

Apesar disso, três carregamentos partiram do Texas depois que a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ).

Outros quatro navios-tanque de combustível de aviação americano, usado principalmente para aeronaves militares, já foram enviados a Israel desde o início do bombardeio aéreo de Gaza em outubro.

Outro estudo da Oil Change International afirma que o Brasil também continua a fornecer óleo cru para o país, sendo responsável por 9% do total de petróleo bruto fornecido a Israel nos últimos nove meses. 

 

Edição: Leandro Melito