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Rincon Sapiência: Pablo Marçal achou que não seria confrontado ao se aproximar de funk

Rapper criticou aproximação de candidatos de direita e extrema direita de grandes produtoras de funk de São Paulo

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Rincon Sapiência deve lançar seu novo álbum, Um Corpo Preto, ainda este ano - Divulgação

A aproximação de candidatos de direita e extrema direita de grandes produtoras de funk de São Paulo tem gerado revolta e críticas de artistas ligado ao tema. "Lamentável", define Rincon Sapiência sobre aparições de Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) com expoentes da produção musical. 

Na semana passada, Pablo Marçal foi até o estúdio da Love Funk, na zona leste da capital paulista, a convite do empresário Henrique Viana, conhecido como Rato da Love. 

"Ele acabou conseguindo fazer uma aproximação e da minha parte eu achei lamentável, porque o próprio candidato, Pablo Marçal, tem falas em que ele repudia o funk", comenta Rincon Sapiência em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (22).

"E se ele é um cara que falou mal do funk em dado momento e depois se aproximou de uma produtora de funk, colocou um boné, fez uma rima lá e se passou por gente boa.... para ele ter essa cara de pau é porque ele não viu propriedade intelectual nas pessoas. Ele não pensou que nenhum momento ele seria confrontado", comenta o rapper se referindo a um vídeo em que Marçal critica funkeiros e o conteúdo de suas letras. 

Além do candidato de extrema direita, o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes também se aproximou de uma grande produtora de funk, a GR6, criada por Rodrigo Oliveira.  

"A parte chata é que são produtoras que estão fazendo grandes trabalhos, fazendo muitos artistas que vieram de baixo darem uma reviravolta na sua vida", lamenta Rincon. 

Rincon Sapiência está às vésperas de lançar seu novo álbum, Um Corpo Preto, ainda sem data anunciada, mas com a expectativa para este ano. 

Enquanto finaliza o trabalho, o rapper divide sua atuação artística com a produção e agenciamento de novos artistas, especialmente da Zona Leste de São Paulo, onde cresceu. O músico é dono da produtora Mgoba, responsável por lançar trabalho de artistas como F7rança e Bren9ve.

"Para o candidato que quer se aproximar do funk, se esse desejo é genuíno, de fato, do funk da periferia, esse candidato teria que se aproximar da base. E não do topo onde estão as grandes produtoras, o dinheiro circulando, o poder de influência", comenta.

"Então, pelo fato de eles irem ao topo, ao invés de ir pra base, mostrou que a causa deles não era genuína, que era uma questão de interesse, de influência, de números, de pessoas e não sobre a causa de fato, sobre a base de fato". 

Rincon também criticou o fato da eleição de São Paulo não ter candidato negro ou indígena à prefeitura.

"Existe uma responsabilidade dos candidatos e dos partidos de ter um carinho e preparação para isso. A forma que eu penso é a seguinte, existem muitas lideranças por aí nas periferias também, relacionados a um time de várzea, relacionado a um a um projeto social, então muitas vezes eu imagino que essas figuras poderiam estar participando dos processos e até mesmo das candidaturas."

Confira a entrevista na íntegra 

Que ideia você acha importante passar para as pessoas nesse período de eleições?

É passar o entendimento para as pessoas que precisamos entender como as políticas influenciam. Então muitas vezes, de fato, as coisas acontecem de forma da gente não ficar tão motivado a acompanhar, a votar. 

Mas precisamos entender que nossa participação vai determinar o clima da cidade, o orçamento, se a cidade vai estar respirando mais cultura, segurança enfim coisas que são pertinentes para o cidadão no geral. 

Tudo isso depende da proposta dos candidatos e das escolhas que a gente faz como cidadão. 

Mas eu também aproveito para dizer como existe uma responsabilidade dos candidatos e dos partidos de ter um carinho e preparação para isso. A forma que eu penso é a seguinte: existem muitas lideranças por aí nas periferias também, relacionados a um time de várzea, relacionado a um a um projeto social, então muitas vezes eu imagino que essas figuras poderiam estar participando dos processos e até mesmo das candidaturas. 

Porque muitas vezes os políticos se colocam empáticos com nossas causas que envolvem raça, questão social, gênero, mas na hora da execução, todas essas pautas dessas causas não estão participando de fato da gestão política. 

Então eu acho que a gente vive, sim, um momento que precisa de renovação das figuras que estão fazendo política e a partir do momento que acontecer essa renovação acho que as pessoas vão se interessar. 

Como você avalia o fato de São Paulo não ter nenhum candidato negro ou indígena à prefeitura?

Os partidos têm que colocar isso no radar deles, dar espaço para essas pessoas. Se é que essas pessoas tenham essa vontade, né? Mas eu falo porque muitas vezes a gente anseia por essa renovação, por vir novas ideias.  

Isso de não ter candidato nem candidata preta ou indígena pra prefeitura... Então, muitas vezes é o partido fazer esse trabalho, também, de trazer para perto pessoas que de fato representam essas pautas que eles dizem que defendem. 

Você acha que as redes sociais tem afetado também esse diálogo com a população? Dando mais espaço para "lacres" que discussão de ideias?

É por aí também, porque acaba acontecendo isso, o candidato que se aproxima, muitas vezes não está tão engajado nas pautas da periferia, por exemplo. 

Mas se ele falar a mesma língua da periferia, se ele tiver uma estratégia de aproximação, enfim, souber usar os mecanismos na forma certa, ele vai acabar conseguindo executar isso. 

Então eu acho que a gente vive um momento delicado. Vivemos um momento que nem a massa é uma massa extremamente engajada no que diz respeito à política, não somente de São Paulo.  

E hoje em dia com as redes sociais e com bordões, muitos candidatos acabam ganhando uma força, uma força com outras finalidades, mas acabam ganhando essa força porque fala a mesma língua. 

Essa situação que você descreveu parece muito com o que está acontecendo neste momento em São Paulo ao vermos a aproximação de candidaturas de direita ou extrema direita de produtoras de funk

Isso aconteceu de fato, principalmente o candidato Pablo Marçal, que não tem carreira política, que é um coach... as coisas que ele fala, o jeito, até mesmo muitos absurdos que ele fala, ganhou popularidade a partir de redes sociais, que é o que todo mundo acessa. 

Ele acabou conseguindo fazer uma aproximação e da minha parte eu achei lamentável, porque o próprio candidato, Pablo Marçal, ele tem falas do qual ele repudia o funk. 

E se ele é um cara que falou mal do funk em dado momento e depois se aproximou de uma produtora de funk, colocou um boné, fez uma rima lá e se passou por gente boa.... para ele ter essa cara de pau é porque ele não viu propriedade intelectual nas pessoas. Ele não pensou que nenhum momento ele seria confrontado.  

Então a parte chata é que são produtoras que estão fazendo grandes trabalhos, com músicas, fazendo muitos artistas que vieram de baixo, conseguir dar uma reviravolta na sua vida. 

O dinheiro que é ganho com esse processo, precisa trazer poder intelectual para as periferias.  

Para que isso não aconteça, para que haja um mínimo de senso crítico sobre as portas que se abrem para uma pessoa que nitidamente falou mal do movimento.  

Então duas grandes produtoras do movimento abriram as portas para esses candidatos, da minha parte, achei bem lamentável esse recorrido.  

Um escritor famoso, o Osvaldo de Camargo, diz que o sucesso embranquece. Você acha que essa citação exemplifica o que está acontecendo?

Eu não sei se embranquece... embranquece de alguma forma. Eu também defendo a individualidade das pessoas, eu também defendo a democracia, quem quiser apoiar o seu candidato... 

Mas a gente sabe que existe esse pensamento comum entre aqueles que alcança o sucesso tipo 'antes minha vida estava de tal forma, agora minha coroa está legal". 

Então muitas vezes a gente acaba também jogando muito peso para cima de artistas, de pessoas que conseguem algo e às vezes essas pessoas só querem viver querem seus processos individuais. 

Mas como circula muito dinheiro, eu acho que a gente acaba virando chacota quando tem muito dinheiro e acaba sendo ludibriado com facilidade, sabe?

Eu acho que precisa sim ter essa responsabilidade: mudei de patamar, tenho outras condições, agora eu consigo acessar tais coisas, então preciso me blindar mais, preciso me informar mais, preciso, preciso fazer o jogo virar de fato. 

Como você acha que deve ser a resposta a essa situação? Nessa semana o MC Hariel fez um vídeo forte criticando essa aproximação

Ele foi muito sábio, foi muito bom com as palavras. Não só ele como outras figuras de renome, outras não se posicionaram fazendo vídeos na internet, [mas] escrevendo textos e isso foi bem bacana.  

Ele [MC Hariel] falou uma coisa que é muito importante: pro candidato que quer se aproximar do funk, se esse desejo é genuíno, de fato, do funk da periferia, esse candidato teria que se aproximar da base. E não do topo onde estão as grandes produtoras, o dinheiro circulando, o poder de influência.  

Então, pelo fato de eles irem ao topo, ao invés de ir pra base, mostrou que a causa deles não era genuína, que era uma questão de interesse, de influência, de números, de pessoas e não sobre a causa de fato, sobre a base de fato, 

No seu álbum Galanga Livre, a faixa Vida Longa você cita "Infelizmente Bolsonaros não é tipo raro". Isso em 2017, antes das eleições que o levariam à presidência. Como você avalia esse tom profético de sua música?

Nesse período, ele aparecia como um cara meio extremista, entre aspas engraçado, pelas declarações que ele dava.  

Eu vi ele num programa de TV participando, ele falou um monte de absurdos. Isso na época muito, muitos anos atrás, quando nem se imaginava que ele poderia assumir o posto de presidente.  

E eu vi ele falando aquelas coisas e eu pensei, "pô, o pior que deve ter várias pessoas que pensam dessa forma, ele foi o expositor dessa ideia, com coragem de expor essas ideias, mas imagino que várias pessoas pensam como ele". 

E aí ele foi dessa caricatura de um cara que era meio personagem, meio cômico, e acabou assumindo o posto maior da política brasileira durante um período.  

Então, eu até aproveito a dizer o como que a gente tem que tomar cuidado, com essas distrações, com essas replicações dessas pessoas que saem falando coisas absurdas.  

Às vezes uma impressão que tudo que é absurdo, tudo que causa essa acidez é o que as pessoas gostam de replicar e às vezes não são boas ideias, coisas interessantes. 

Nessa distração aí a gente acaba dando lugar e poder para pessoas como o ex -presidente.


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Edição: Thalita Pires