MUDANÇA DE DIREÇÃO

Maduro anuncia reforma ministerial e troca cargos estratégicos para a economia e segurança da Venezuela

Ministério do Petróleo e estatal PDVSA terão novo comando; Diosdado Cabello assume pasta com agência de inteligência

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Nicolás Maduro fez o anúncio das trocas com um boné do MST - Prensa Presidencial

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta terça-feira (27) a troca de 8 ministros. Entre eles, estão algumas das pastas cruciais para a política econômica do país e a segurança nacional, como Petróleo, Finanças e Interior. A reforma ministerial acontece um mês depois das eleições realizadas no país, que tiveram o resultado contestado pela oposição. 

A vice-presidente, Delcy Rodríguez, deixou o Ministério da Economia e Finanças para assumir o Ministério do Petróleo. Ela ficou 4 anos como ministra de uma das pastas mais importantes da Venezuela em um momento em que o país entrou em grave crise econômica. Por causa das sanções impostas pelos Estados Unidos, a Venezuela não pôde vender o seu principal produto no mercado internacional, o petróleo. 

A entrada de dólares despencou e o governo venezuelano teve que lidar com um aumento exponencial da inflação e descontrole cambiário. Nesse meio tempo, Rodríguez foi uma das responsáveis por implementar políticas que conseguiram segurar o aumento dos preços no país e estabilizar a moeda local, o bolívar. No lugar dela assume Anabel Pereira Fernández, que foi presidenta do Fundo de Proteção Social de Depósitos Bancários (Fogade) e era da diretoria de reestruturação da Superintendência Nacional de Cripto Ativos (Sunacrip).

Agora, Delcy Rodríguez terá como desafio aumentar a produção de petróleo para alcançar o objetivo do governo de atingir uma produção de 3 milhões de barris por dia. 

Ela vai substituir Pedro Tellechea, que estava no comando não só do ministério como na presidência da estatal petroleira PDVSA. Ele ficou 1 ano e meio no cargo, também em momento delicado para a produção petroleira e para a companhia. Seu antecessor, Tareck El Aissami, foi preso acusado de participar de um esquema de corrupção que teria desviado até US$ 21 bilhões (R$ 115 bi) da empresa. A operação que investigou o caso ficou conhecida como PDVSA-Cripto, porque eram usadas criptomoedas, a princípio, para conseguir driblar as sanções dos EUA, mas acabou tirando os dólares da empresa. 

Tellechea também foi responsável por um processo de recuperação na produção petroleira. Se o país chegou a produzir 2,5 milhões de barris por dia em 2015, enfrentou uma queda para 339 mil em 2020, fruto do bloqueio. O então presidente da PDVSA deixa a empresa com uma produção de cerca de 922 mil barris de petróleo por dia, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Só na gestão de Tellechea, o presidente conseguiu ampliar a produção em mais de 200 mil barris diários. 

O novo comando da PDVSA ficará a cargo de Héctor Obregón. Ele é justamente especialista em cripto ativos e foi vice-ministro de Economia Digital, Banca e Valores. Tellechea assume agora o Ministério da Indústria e Produção Nacional.

Diosdado na Justiça

Um dos nomes históricos do chavismo, Diosdado Cabello assume o Ministério do Interior, Justiça e Paz. Ele foi vice-presidente de Hugo Chávez e assumiu a presidência por 4 horas, depois do golpe contra o ex-presidente em abril de 2002. Militares e manifestantes conseguiram segurar o golpe e Diosdado devolveu o cargo a Chávez. Logo depois daquele episódio, ele assumiu o ministério do Interior, Justiça e Paz com a missão de impulsionar as investigações sobre o golpe. Mais tarde, ele se tornou presidente da Assembleia Nacional e primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV).

Ele volta a ocupar a pasta 22 anos depois, também em um contexto de tensão. A oposição questiona o resultado das eleições e começou a organizar uma série de protestos violentos no dia seguinte ao pleito. As forças de segurança atuaram e, segundo o governo, 25 pessoas morreram, 192 ficaram feridas e 2.229 foram presas nas manifestações.  

Um dos principais órgãos que ficam sob o guarda-chuva do Ministério do Interior é o Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin). Ao assumir o cargo, Diosdado lembrou da primeira vez que esteve no ministério. 

“É curioso presidente, volto ao ministério depois de 22 anos. No meio das guarimbas, o comandante Chávez me nomeou. Os setores da oposição começaram a mostrar seu caráter fascista, vamos lembrar daquelas marchas que fizeram com tochas, pareciam a Ku Klux Klan, fecharam as ruas, perseguiram o nosso povo e estivemos nessa batalha ao lado do nosso presidente Chávez, ao lado do nosso povo e vencemos naquele momento”, afirmou.

Mais trocas

Outros ministérios também passaram por mudanças. Educação ficará a cargo de Hector Rodriguez. Ele é governador do Estado Miranda e um dos negociadores diretos com os Estados Unidos da última mesa de diálogo aberta em junho. 

Educação Universitária ficará com Ricardo Sánchez, Mulheres com Jhoanna Carrillo, Águas estará a cargo de Carlos Guillermo Mast Yustiz e Moradia com Raúl Paredes.

As trocas também atingiram o ministério de Obras Públicas (Juan José Ramírez), Agricultura e Terras (General Menry Fernández), Turismo (Leticia Gómez), Juventude (Grecia Colmenares), Esporte (Arnaldo Sánchez), Trabalho (Eduardo Piñate) e Avós (Magaly Viña).

Maduro também anunciou que Agricultura Urbana será incorporada ao Ministério da Comunas, que hoje é chefiado por Angel Prado. Ele foi coordenador da organização Unión Comunera e prefeito de Simón Planas, município do estado de Lara, além de ser um dos fundadores da comuna El Maizal, uma das maiores comunas do país.  

Edição: Rodrigo Durão Coelho