agenda antirracista

Organizações do movimento negro inauguram Casa para articulação política em Brasília (DF)

"Não há democracia onde há exclusão da maioria do povo brasileiro", diz Benedita da Silva (PT), homenageada da noite

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Inauguração da Casa de Movimentos Negros em Brasília reuniu lideranças de movimentos sociais e autoridades - Foto: Flávia Quirino/Brasil de Fato DF

Lideranças negras de todo o país, ministros do governo e representantes de movimentos sociais participaram, nesta terça-feira (27), da inauguração do Hub Peregum, a Casa de Movimentos Negros, no Lago Sul, em Brasília. A iniciativa atuará em defesa da agenda antirracista junto aos Três Poderes. 

“Essa casa é uma demanda do movimento negro há meio século. Todos os grupos de interesse desse país têm escritório e lobby em Brasília. Todos os grupos influenciam o Congresso Nacional para as suas demandas, e o povo negro, que é a maioria do povo brasileiro, não tinha esse espaço. A partir de hoje, ele tem”, celebrou Douglas Belchior, coordenador da Uneafro.

Uma das salas do espaço foi batizada em homenagem a Benedita da Silva e Paulo Paim, lideranças políticas que atuaram em nome do movimento negro durante a Constituinte.  

“São aqueles que nós temos como espelho, que a gente quer reproduzir no Congresso Nacional. São pessoas que inspiram a nossa luta. Nós somos de uma tradição em que a gente saúda os mais velhos o tempo todo. Os mais velhos são aqueles que dão o caminho, são aqueles que orientam”, afirmou Douglas durante a inauguração da sala. 

Benedita da Silva, deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (PT-RJ), recebeu a homenagem com muita emoção. Ela foi a primeira mulher negra a ocupar os cargos de vereadora no município do Rio de Janeiro, deputada federal na Assembleia Constituinte de 1988, senadora da República e governadora do Estado do Rio de Janeiro “Eu participei desse sonho, e hoje ele foi realizado”, disse a parlamentar sobre a iniciativa de criação de um espaço par articulação da agenda antirracista em Brasília. 

“Nós tivemos um grande retrocesso [no governo anterior], mas agora está nas mãos de vocês, porque os instrumentos estão aqui nessa Casa para podermos realizar o sonho não apenas da negritude, é uma questão da democracia. Não há democracia onde há exclusão da maioria do povo brasileiro, que somos nós negras e negros desse país”, defendeu.


Benedita da Silva e Paulo Paim foram homenageados na inauguração do Hub Peregum; sala foi batizada com nome dos parlamentares com trajetória de luta pelo direito da população negra no Congresso / Foto: Thaiane Miranda

Paulo Paim, senador e autor da lei que criou o Estatuto da Igualdade Racial em 2010, afirmou que, embora a criação de um espaço como esse tenha demorado, acredita que a casa será foco de debate de grandes temas da área pública e privada. 

“Essa casa vai ser um debate permanente das políticas públicas de combate a todo o tipo de preconceito. Com certeza, vai ser um espaço da cultura, do conhecimento, do saber, das grandes articulações, como dialogar mais de forma permanente os movimentos aqui em Brasília com o executivo, com o judiciário e com o próprio legislativo. Quem ganha nesse momento é o Brasil. Porque nós, de forma organizada e com a potência desse local ativo naturalmente vamos avançar muito mais”, projetou. 

Também participaram da inauguração ministros do governo, senadores, deputados federais e distritais.

Questionada pelo Brasil de Fato DF em relação ao impacto das mudanças climáticas para a população negra, Marina Silva disse que as pessoas negras são “as que mais sofrem as consequências” dos eventos climáticos extremos. “Por isso que trabalhamos com o conceito de transição justa, de justiça climática, exatamente para olhar para aqueles que foram vulnerabilizados e que agora estão pagando o maior preço”, defendeu. 

Hub Peregum 

A Casa de Movimentos Negros em Brasília é uma iniciativa do Instituto de Referência Negra Peregum, realizada em parceria com a UNEafro Brasil, a Coordenação Nacional de Articulação Quilombola (Conaq), a Agência Alma Preta e o Instituto Nós em Movimento. 

“O Instituto Peregum tem pessoas com quem eu militava há anos, pessoas que eu admiro, que a gente tem construído junto. Então, que seja um lugar de exemplo para muitos outros e toda a administração pública. Que toda Brasília possa sentir a força desse espaço para nós, pessoas negras”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Aniele Franco. 

O principal foco do Hub Peregum será em ações de advocacy, buscando articulação junto a entidades, organismos nacionais e internacionais, instâncias e agentes de representação no poder legislativo e judiciário, e veículos e canais relevantes para a opinião pública. O objetivo é criar um estado de opinião pública antirracista e mudar políticas públicas em favor da população negra.

“A história do movimento negro é uma trajetória coletiva, compartilhada. A nossa existência nos espaços sempre foi diminuída, invisibilizada, então estar juntos é uma estratégia histórica, que se expressa nessa Casa”, defendeu Beatriz Lourenço, diretora de incidência política do Instituto Peregum.

“A ideia dessa Casa é garantir que a nossa capacidade de formular política pública, de compreender como ela precisa ser, de propor um projeto de país, seja organizada a partir da atuação desses movimentos no diálogo com o Congresso, com o Executivo, mas também no diálogo com a sociedade civil brasileira, porque é nisso que a gente acredita”, completou. 


Beatriz Lourenço, diretora de incidência política do Instituto Peregum / Foto: Flávia Quirino/Brasil de Fato DF

O Instituto de Referência Negra Peregum é uma organização sem fins lucrativos, com natureza de direito privado, criado em 2019 por militantes da educação popular. A organização atua em quatro eixos principais: educação popular, proteção e cuidado, incidência política e litigância estratégica, e clima e cidade. 

“Nós estamos bem felizes. Esperamos que o movimento negro aceite, acolha, receba e participe também, para que esse espaço seja cada vez mais preto, cada vez mais participativo, cada vez mais democrático. Vamos aquilombar aqui o Lago Sul”, disse Selma Dealdina, da Conaq, uma das organizações parceiras da Casa.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino