NOME DO PRESIDENTE

Galípolo no BC: economistas não esperam 'ousadia', mas sim atuação mais alinhada a Lula

Atual diretor do Banco Central foi indicado pelo governo para presidir o órgão a partir de janeiro de 2025

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Gabriel Galípolo foi secretário de Haddad e agora deve ser novo presidente do BC - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A gestão do economista Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central (BC) não deve ser marcada por mudanças bruscas nas definições da taxa básica de juros da economia nacional, a chamada Selic. Apesar disso, deve ser mais alinhada às ideias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que tem sido a gestão de Roberto Campos Neto.

A previsão é de economistas ouvidos pelo Brasil de Fato após a indicação de Galípolo à presidência do BC. O ato foi anunciado na quarta-feira (28) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Galípolo, agora, será sabatinado no Senado e, se aprovado, assumirá o posto de Campos Neto em janeiro do ano que vem.

Campos Neto foi indicado à presidência do BC pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele atuou para que o BC se tornasse autônomo. Com isso, tornou-se o primeiro presidente do órgão a comandá-lo durante um governo do qual foi opositor.

Campos Neto votou com a camisa da seleção brasileira durante a eleição de 2022, disputada entre Lula e Bolsonaro. Depois, foi duramente criticado por Lula por sua aproximação com Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro bolsonarista e hoje governador de São Paulo.

Esse tipo de atrito público entre Lula e a maior autoridade monetária do país gerou tensões para a economia nacional, principalmente durante este ano. Com a promoção de Galípolo de diretor a presidente do BC, economistas esperam dias mais tranquilos, o que tende a beneficiar a economia nacional e a população como um todo.

“Campos Neto amplifica expectativas negativas do mercado sobre o governo, repete discursos sobre uma crise fiscal que não existe”, criticou Pedro Faria. “Galípolo não deve fazer parte dessa ‘correia de transmissão’ do mercado contra o governo.”

Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), também não vê Galípolo criticando o governo Lula. Segundo ele, Lula se reuniu com Galípolo antes de indicá-lo. Deve tê-lo questionado sobre suas ideias para o BC. 

Oliveira ressaltou que ainda é cedo para dizer como será a atuação de Galípolo no BC, muito menos como ele vai atuar nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic – maior ponto de discordância entre Lula e Campos Neto.

Sem 'cavalo de pau'

Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e autor de um dos artigos do livro Os Mandarins da Economia: Presidentes e Diretores do Banco Central Do Brasil, não crê em grandes mudanças no BC.

“Não tivemos nem a demonstração individual do Galípolo de que haverá grandes mudanças, nem estamos em um contexto em que o Executivo tem força para impor sua política [de juros mais baixos] sem altos custos políticos”, disse Dantas.

Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também não vê espaço para cortes de juros já após a indicação de Galípolo ou logo após sua posse. “Não haverá mudanças bruscas. Acredito que as mudanças poderão acontecer em outro momento”, disse ele, lembrando que a alta do dólar aumentou a pressão inflacionária e reduziu espaço para quedas da Selic.

Pressão sobre Lula

Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, afirmou, inclusive, que uma eventual manutenção dos juros no atual patamar de 10,5% ao ano já sob a gestão Galípolo poderia virar um problema para Lula.

O presidente reclama frequentemente de Campos Neto sobre a Selic. Se seu indicado agisse como ele, Lula então não teria de quem se queixar.

“Eu acho que o governo pode sofrer com isso”, alertou Cantelmo, ressaltando que Galípolo não tem um perfil tão diferente de Campos Neto.

Dantas também acredita que Galípolo, apesar de mais alinhado, ainda criará contradições para o governo. Nesses casos, porém, Lula será obrigado a lidar com elas.

Quem é Galípolo?

Gabriel Galípolo já trabalha no BC desde julho do ano passado. É o atual diretor de Política Monetária do órgão, cargo considerado o "número 2" da instituição. Nessa diretoria, ele exerce um papel importante na discussão da taxa básica de juros.

Ele, assim como Campos Neto, é um ex-banqueiro. Foi presidente do Banco Fator, focado em investimentos financeiros, de 2017 a 2021. Campos Neto presidiu o Santander.

Bem antes disso, fez graduação e mestrado em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Galípolo deixou a academia em 2008. De lá, foi trabalhar em secretarias do governo do estado de São Paulo durante a gestão de José Serra (PSDB). Dirigiu a área de estruturação de projetos de concessões e parcerias público-privadas (PPPs).

O agora indicado ao presidente do BC deixou o governo paulista em 2009 e fundou uma consultoria própria, com a qual trabalhou mesmo ocupando cargo de chefia no Banco Fator, até 2022.

Depois, virou conselheiro da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Em 2023, após a posse de Lula, foi convidado para ser secretário executivo do Ministério da Fazenda.

Galípolo concedeu entrevista ao Brasil de Fato em maio de 2023, durante a Feira Nacional da Reforma Agrária. Na época ocupando a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, o economista demonstrou sua disposição ao diálogo com todos os setores da sociedade.

"A gente precisa voltar a ter um espectro político democrático dentro do país, em que a concorrência, a competição é absolutamente normal, mas dentro desse espectro político democrático. O diálogo é o ponto essencial. A gente tem que dialogar com todo mundo. Eu vim de um evento da Faria Lima para cá [para a Feira Nacional da Reforma Agrária]", afirmou.

Edição: Felipe Mendes