A presidenta de Honduras, Xiomara Castro, denunciou na última quinta-feira (29) uma ameaça contra seu governo por parte dos Estados Unidos, que teria sido criada dentro das Forças Armadas e do Ministério da Defesa do país.
"Quero dizer-lhes que está sendo montado um plano contra o nosso governo. Ontem atacaram o chefe das Forças Armadas e o ministro da Defesa do nosso país”, disse a presidenta.
Segundo o chanceler hondurenho, Enrique Reina, fontes da inteligência do país detectaram um plano articulado pela embaixadora dos Estados Unidos em Honduras, Laura Dogu, para supostamente dividir as Forças Armadas e destituir o chefe militar Roosevelt Hernández.
Ainda segundo o governo de Honduras, o plano estaria ligado a declarações dadas pela diplomata dos EUA após autoridades hondurenhas terem se reunido com o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López.
"Foi surpreendente para mim ver o ministro da Defesa e o chefe do Estado-Maior Conjunto sentado ao lado de um traficante de drogas na Venezuela", disse Dogu para jornalistas em Tegucigalpa, referindo-se a López. Diversos membros do governo da Venezuela, incluindo López e o próprio presidente Nicolás Maduro, possuem ordens de prisão e sanções emitidas unilateralmente pelos EUA com acusações ligadas ao tráfico de drogas, sendo que a maioria delas foi imposta durante o governo de Donald Trump, quando a Casa Branca executou a chamada política de "pressão máxima" contra a Venezuela e impôs um número recorde de sanções contra o país sul-americano.
A embaixadora também afirmou, sem apresentar evidências, que as agências de seu país teriam informação de que o chefe das Forças Armadas de Honduras, Roosevelt Hernández, teria um suposto vínculo com cartéis de droga que operam na América Central.
Alarmada pela situação, a presidenta Xiomara Castro acrescentou em seu discurso que o governo não vai "permitir que se desestabilizem as Forças Armadas e não vamos permitir que se desestabilize o processo eleitoral".
Arma política
O alerta feito pela presidenta veio um dia após Honduras encerrar o tratado de extradição com os Estados Unidos. Para o governo hondurenho, o documento poderia ser usado como uma arma política contra os oficiais hondurenhos como consequência do encontro com Vladimir Padrino López.
O acordo era considerado pelos EUA e antigos governantes hondurenhos uma ferramenta-chave para desmantelar o "narco-Estado" que, segundo a Justiça estadunidense, foi criado em Honduras sob o governo anterior de Juan Orlando Hernández (2014-2022). O próprio ex-presidente de direita foi extraditado em 2022, após deixar o poder, e condenado em junho, em Nova York, a 45 anos de prisão.
Após passar por um governo aliado aos Estados Unidos, Honduras retomou relações com a Venezuela a partir do governo atual de Castro. O chefe da diplomacia hondurenha explicou a decisão de rompimento "para que a extradição não seja utilizada como arma político-eleitoral, contra a instituição e os funcionários do governo".
"Aqui pode estar neste momento sendo gestada uma tentativa de golpe de Estado" e o tratado de extradição "pode ser como [...] uma arma política nesse embate" contra o governo de Castro, disse Reina em um programa da emissora local Canal 5.
"Essas acusações que a embaixadora faz de praticamente ligar o ministro da Defesa [José Manuel Zelaya] e o chefe do Estado-Maior Conjunto [das Forças Armadas, general Roosevelt Hernández] com o narcotráfico, pode ser o passo de acusá-los para poder extraditá-los", acrescentou o chanceler.
O diplomata apelou ainda ao respeito pela autodeterminação dos povos, à soberania do Estado, ao princípio da não interferência em assuntos internos, e às decisões do governo hondurenho de manter relações com qualquer país do mundo, tal como estipulado na Carta das Nações Unidas.
*Com Telesur e AFP
Edição: Lucas Estanislau