O Brasil de Fato lança nesta terça-feira (3) o especial Venezuela: A eleição mais observada do mundo. A equipe do BdF esteve em Caracas, capital do país, e acompanhou de perto as eleições presidenciais venezuelanas de 2024, que ocorreram no dia 28 de julho e resultaram na vitória de Nicolás Maduro para um terceiro mandato.
A reportagem conversou com nomes como o ex-vice-presidente Elias Jaua, o ex-chanceler Jorge Arreaza, o atual ministro das Comunas, Ángel Prado, e diversos dirigentes de movimentos populares e comunas venezuelanas. Além disso, registros de atos de campanha e de manifestações de rua - chavistas a opositoras - mostram o clima político que a Venezuela viveu nos dias anteriores e posteriores ao pleito.
O vídeo completo está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube e pode ser visto aqui.
Dias tranquilos
Antes das eleições, eram poucas as manifestações eleitorais nas ruas do país. No dia do pleito, a mobilização foi tranquila. Todo esse cenário ajudou a construir a ideia de que o povo venzuelano não teria turbulências envolvendo as eleições.
“Depois de décadas de tensão, beligerância, violência e ódio promovido fundamentalmente pela oposição, vamos para uma eleição que todo mundo já tem sua decisão, mas não tem uma atitude beligerante frente a nós”, afirmou o ex-vice-presidente da Venezuela Elias Jaua.
A percepção de um processo tranquilo não foi só dele. Para o ex-chanceler da Venezuela e dirigente da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América - Tratado de Comércio para os Povos (ALBA - TCP), Jorge Arreaza, a campanha foi marcada por uma tranquilidade que também indicava um caminho para um país que foi sufocado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos.
“Tudo está muito tranquilo. Durante a campanha houve total tranquilidade. Já sabemos qual é a forma para seguir adiante. Com sanções, sem sanções, vamos mostrar nos próximos seis anos do que somos capazes”, afirmou.
Oposição se recusa a aceitar derrota
O grupo da extrema direita, no entanto, não aceitou os resultados eleitorais. A coalizão opositora disse ter recolhido mais de 80% das atas eleitorais e que isso daria a vitória ao candidato Edmundo González.
No dia seguinte às eleições, no dia 29 de julho, foram registrados atos violentos, que ganharam corpo em diferentes cidades do país. As forças de segurança atuaram e, segundo o governo, 25 pessoas morreram, 192 ficaram feridas e 2.229 foram presas nas manifestações. Uma investigação da ONU divugada na semana passada afirma que o número de presos é de cerca de 1,2 mil, com 23 mortes.
Os movimentos, no entanto, perderam força nas ruas e, duas semanas depois das eleições, o grupo liderado pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado parece ter recuado nas convocatórias de atos e protestos violentos.
A socióloga Irene León afirma que esses grupos não manipulam só uma insatisfação interna, mas também se articulam com forças internacionais para atuarem na política venezuelana.
“Nós vimos esse grande desafio do projeto da Venezuela nesse processo porque a polarização aumentou nos últimos dias. A direita adotou uma postura mais beligerante nos do que em anos anteriores, tem uma maior coordenação internacional e está tentando ganhar espaço políticos e econômicos a partir dessas esferas internacionais, e agora pretende dar resultados eleitorais fictícios”, disse.
Se a postura da oposição não é uma novidade, ela vai na contramão dos acordos assinados com o governo no ano passado. Parte da oposição discutiu em Barbados uma participação nas eleições venezuelanas e estabeleceu os parâmetros para o pleito. Segundo o porta-voz da comuna El Panal, Robert Longa, isso não foi respeitado pela oposição e escancarou a “falta de compromisso” da extrema direita com a democracia do país.
“Se você não acredita em um árbitro, não assina acordos, não participa, não entra no debate. Essa resposta eles mesmos estão dando, no seu cinismo e na sociopatia deles, na contradição e no paradoxo deles. Eles nunca acreditaram em um árbitro. É uma agenda insurrecional da burguesia que cavalgava sobre a insatisfação popular promovida pelas medidas coercitivas sobre o povo da Venezuela”, disse.
Chavismo defende o voto
Em resposta à mobilização da oposição, o governo convocou os apoiadores para marcharem e demonstrarem força nas ruas. Durante um mês após as eleições, chavistas marcharam na capital e em diferentes cidades do interior como forma de marcar posição em um cenário de tensão.
O ministro das Comunas, Ángel Prado, afirmou que a defesa das eleições é também uma forma de demonstrar para a comunidade internacional que o povo da Venezuela deve ter sua soberania respeitada.
“Nosso povo está saindo com força às ruas para dizer ao mundo, ao imperialismo e aos movimento sociais amigos da Venezuela que não temos medo e vamos defender a pátria, a nossa democracia e nossa independência nacional. Não é a primeira vez que esse povo enfrenta o fascismo. Já vivemos isso no passado. Mas nas últimas décadas tivemos que combater de forma mais enfática. A oposição perdeu força e agora está o chavismo nas ruas”, disse.
Se em um primeiro momento a disputa eleitoral parece ser uma questão imediata, para Ayary Rojas, porta-voz da comuna Jorge Rodríguez Padre, em um segundo plano há uma “luta de classes” que se intensifica na Venezuela.
“Apesar de todas as adversidades, de todas as medidas coercitivas e de toda a intimidação, como poder popular, como mulheres e homens comuns, estamos conscientes de que há uma luta de classes bem clara e que isso será disputado”, disse.
Edição: Lucas Estanislau