As eleições de 2024 se dão em um contexto político que pouco se difere do de 2022. Após dois anos da significativa vitória das forças democráticas e populares contra a extrema direita, é fácil perceber que as forças neofascistas e neoliberais ainda são os principais oponentes na disputa deste ano.
Lulismo e bolsonarismo são, como em 2022, as principais forças na disputa das cidades e do Brasil nestas eleições. A conquista do governo federal e as mudanças positivas a que assistimos desde então, com a retomada de políticas públicas, do crescimento econômico e da redução da pobreza e do desemprego, têm sido insuficientes para a alteração significativa do quadro de defensiva em que se encontram as forças populares.
Entrincheirados em diversas instituições, como governos estaduais, prefeituras, assembleias legislativas, câmaras de vereadores, Congresso Nacional, Forças Armadas, polícias militares e Judiciário, e também em parcelas significativas da sociedade – incluindo parte da classe trabalhadora –, o bolsonarismo segue sendo uma ameaça real à democracia e aos direitos sociais.
O Partido Liberal (PL) tem como plano ampliar o número de prefeituras que está à frente, passando de cerca de 370 para 1,2 mil, com intenção de multiplicar também por três a quantidade de vereadores da legenda.
As eleições deste ano, além de marcadas pela ofensiva conservadora e neoliberal da última década, são também um balanço dos dois primeiros anos do governo Lula e uma preparação para as eleições de 2026. Partidos de todos os espectros estão de olho nas eleições presidenciais, de governadores, deputados estaduais e federais, além dos dois senadores de cada estado. Lula e Bolsonaro seguem como os principais cabos eleitorais em todas as capitais e nas grandes cidades.
Disputa acirrada e polarizada
As movimentações políticas recentes, tendo em vista as eleições municipais deste ano e as eleições de 2026, deixam claro que parcelas importantes da burguesia brasileira não têm receio em apostar novamente em uma candidatura da extrema direita. Muitas das forças que se aglutinaram na frente ampla que deu vitória a Lula em 2022 e que hoje compõem o governo já sinalizaram que colocarão suas fichas em outro candidato em 2026.
O centro da disputa está no programa econômico, no papel do Estado e na disputa pelo orçamento público. Seguem hegemônicas na burguesia brasileira as ideias neoliberais, que insistem que o Estado não atue no combate às desigualdades sociais e na democratização da sociedade brasileira, distribuindo renda, saber, cultura, patrimônio e acesso aos direitos. Não abrem mão de seus privilégios, se caracterizando por uma resistência sociopática à mudança, no dizer de Florestan Fernandes.
O contexto é, portanto, de disputa acirrada e polarizada, se constituindo como uma oportunidade para que a esquerda e seus aliados ampliem sua força na sociedade. Essa tarefa não será simples, haja visto as consecutivas vitórias das forças conservadoras nas duas últimas eleições municipais, em 2016 e 2020, e a previsão de alto índice de reeleição neste ano, acima de 60%, o que favorecerá a direita e a extrema direita.
As eleições na cidade de São Paulo são ilustrativas dessa disputa, com duas candidaturas bolsonaristas bem posicionadas e com nítido desdobramento futuro para as eleições presidenciais de 2026. Lula venceu na cidade de São Paulo e a rejeição a Bolsonaro permanece superior a 60%, tornando reais as chances de Guilherme Boulos (Psol) ser vitorioso. No entanto, o crescimento de Pablo Marçal (PRTB) demonstra que não devemos menosprezar a extrema direita e que as disputas municipais serão acirradas.
Além de Boulos, em São Paulo, o campo progressista tem chance de eleger prefeitos em capitais importantes, como Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
O Partido dos Trabalhadores tem o desafio de ampliar sua bancada de vereadores nas câmaras municipais e retomar, após anos de ofensiva conservadora, o governo de importantes capitais e cidades médias do país.
Pesará a favor da direita a forte influência do dinheiro, regado em demasiada quantidade nestas eleições. O pleito será marcado pelos R$ 50 bilhões que estão sequestrados pelos deputados federais e senadores, por meio das emendas individuais, emendas de relator, emendas de comissão, emendas de bancada e emendas pix. Além de um Fundo Eleitoral gigantesco de R$ 5 bilhões, que também favorecerá a direita e a extrema direita, sobrerepresentada na Câmara de Deputados e Senadores, como produto das eleições de 2022.
Alimentar a esperança para disputar a sociedade
Diante de um governo e uma sociedade em disputa, com um polo político de extrema direita atuando diuturnamente nas instituições, na sociedade e nas redes sociais, se o outro lado não luta no campo das ideias, dos valores, das políticas e das instituições, não há chance de vitória.
Com a população cansada do "sistema", dos "políticos" e da "política", porque não vê seus problemas solucionados pelos governos, caberá à esquerda mostrar que não é mais do mesmo. E, mais que gestora da crise, mostrar que suas candidaturas são o caminho para a superação da vida difícil em que vive a grande maioria da população. Ou seja, precisamos nos apresentar como uma proposta alternativa que alimente a esperança.
Para tanto, é fundamental que as candidaturas do polo popular, além de serem enfáticas na defesa da democracia, coloquem na ordem do dia e no centro do debate público a necessidade de superação dos principais problemas das cidades brasileiras e do país, combatendo as desigualdades sociais, a falta de moradia, o desemprego, as mudanças climáticas, a insegurança alimentar, e o avanço privatista em curso, entre outras mazelas. Também é necessário apontar para a ampliação da educação pública de qualidade, o avanço das políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) e um novo modelo de mobilidade urbana.
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A população das capitais e grandes municípios do país, em especial as classes populares, que vêm sendo governadas em sua maioria pela direita e extrema direita, fruto dos resultados das eleições de 2016 e 2020, guarda frustrações com gestões que prometeram ser inovadoras, mas que não formularam boas políticas públicas e nem chegaram perto de apresentar propostas mais estruturais de resolução das principais contradições que afetam os municípios.
Dessa forma, as eleições de 2024 também são uma oportunidade para a esquerda voltar a se apresentar como um polo que formula, tem propostas e sabe governar. Ao mesmo tempo, também é oportunidade para nos apresentarmos como um polo que tem um projeto alternativo de sociedade, que aponta para a superação do capitalismo e que objetiva a realização de reformas estruturais, acumulando para a construção de um Projeto Popular para o Brasil.
As eleições de 2024 são, mais uma vez, uma oportunidade para derrotar o neofascismo e o neoliberalismo. Podemos avançar na disputa da sociedade, abrindo caminhos para a organização popular e para a retomada das lutas de massas.
*Ana Carolina Vasconcelos é cientista social, editora e militante do Movimento Brasil Popular
**Frederico Santana Rick é sociólogo e militante do Movimento Brasil Popular
***Paulo Henrique Lima é historiador e militante do Movimento Brasil Popular
****Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Elis Almeida